Bone – Volume 2 – Phoney contra-ataca ou solstício
Editora: Todavia – Série em 3 volumes
Autores: Jeff Smith (roteiro e desenhos) e Steve Hamaker (cores) – Originalmente publicado em Bone – The Dragonslayer, Rock Jaw Master of the Eastern Border e Old Man's Cave (tradução de Érico Assis).
Preço: R$ 79,90
Número de páginas: 416
Data de lançamento: Abril de 2019
Sinopse
A saga dos Bone continua. As peças estão sobre o tabuleiro e a guerra vai começar. Os três primos se veem em meio a um conflito que irá transformar para sempre o Vale. Enquanto Espinho junta as pistas para entender seu passado, Kingdok e o Encapuzado seguem na missão de capturar a princesa e aquele que porta a estrela.
Em meio a isso, Phoney continua tentando se dar bem a qualquer custo. Como novo líder do vilarejo, ele pretende dar mais um de seus golpes e fugir de volta para Boneville. Entretanto, seu plano poderá conduzir todos a um desastre de terríveis proporções.
Positivo/Negativo
A jornada de Bone chega ao meio com outras revelações, mantendo um bom ritmo, apresentando novos personagens e evidenciando uma guerra que se avizinha.
Como curiosidade, o pequeno prólogo apresentado neste volume, O Papa-Galhos, chegou a sair no Brasil igualmente em cores, na revista Heavy Metal # 14 (1997), um ano antes de a Via Lettera lançar o primeiro volume da série. Esse recorte, que se passa no Barrico Doce, não dizia ou instigava nada para quem leu na época e ainda desconhecia do que se tratava a obra.
A violência, mesmo que comedida, tem uma presença mais evidente em algumas sequências, mas é dosada com a comicidade física e verbal.
Mesmo quando há o perigo real e imediato, o autor tende a poupar o leitor dessa violência gráfica. Essa maneira de lidar com o enredo, mais polido, não sinaliza que Bone se isente do seu lado mais “sério” ou “sóbrio”. Smith quer contar uma epopeia que não seja necessariamente concentrada na perda física.
É uma decisão arriscada (ou seria calculada?), pois cabe ao leitor aceitar esse lado mais brando quando o perigo aperta. Ao mesmo tempo em que pode-se perceber os atalhos trilhados para evitar escancarar tais temas, igualmente vem à mente a ideia de ser um título que pode ser explorado por uma faixa etária mais abrangente. Apesar de que assuntos como violência e morte podem perfeitamente ser colocados para esses públicos, contanto que seja de forma conveniente.
Outra justificativa reside no tom de homenagem ao cartum e animação, seja na ação cinematográfica das páginas, seja na pegada aventureira que deixaria Tio Patinhas e Carl Barks (1901-2000) orgulhosos nos dois extremos da prancheta.
Dentre as soluções arquitetadas por Smith está a de aproveitar o mote de um dos golpes de Phoney Bone (o “matador de dragões”) e afastar literalmente personagens (e o leitor, consequentemente) de um momento bastante tenso que acontece na trama e no vilarejo.
É como criar a apreensão em cenas nas quais os heróis se escondem das mortais ratazanas no volume anterior, mas o leitor é privado da evidência concreta desse perigo (sem falar na comicidade das criaturas estúpidas). Mesmo tendo essa impressão de guerra e medo, o autor habilmente sabe desviar de medidas mais explícitas ou violentas.
Nesse aspecto, percebe-se que Bone é muito mais Barks do que Tolkien, o que não é nenhum demérito. Muito pelo contrário. Para não dizer que este é um ponto “negativo” da série, basta perceber como, mesmo omitindo um enlace importante para o enredo, Jeff Smith consegue compensar isso no clima de urgência e nos momentos de ação.
O fato é que a crença da morte no vale não vai além de coadjuvantes supostamente eliminados (até pela lógica) e os depoimentos de animaizinhos órfãos da floresta.
No desenrolar dessa compilação, há certa insistência do autor em “bater na mesma tecla”, a qual o leitor já está ciente faz um bom tempo: o vilão encapuzado está atrás de Phoney Bone e outras situações reveladas desde os primeiros capítulos. O que se percebe é uma constante recordação que faz “extenuar” a leitura em algumas passagens.
Fora isso, há momentos de bastante fluidez, aventura, humor (uma específica, envolvendo novamente o clássico Moby Dick, é hilária), e até mais “sombrio” do que apresentado anteriormente. Presente de forma tímida no primeiro volume, o lado onírico da saga é mais valorizado aqui, lançando dúvidas e questões que poderão ser abordadas nos próximos capítulos, principalmente sobre as personagens Espinho e Vovó Ben.
Mesmo mantendo as personalidades de cada Bone, o quadrinhista reserva momentos tocantes, como o vindo de um personagem que não se encaixaria, a princípio, nesse quesito: o apatetado Smiley e sua inesperada amizade.
Outras figuras, como o oponente Kesho Durr, o Mestre da Fronteira Leste, são introduzidas para expandir o enredo, mas também as estruturas temáticas e filosóficas: há um interessante discurso entre a natureza e o poder por meio das escolhas de lados. O leão da montanha sempre quer saber de que lado os outros estão, mesmo sem revelar ao certo em qual ele se mesmo encontra.
Percebe-se que o autor ainda tem diversas cartas na manga, do mesmo jeito que tem muito a revelar sobre a saga, como o passado da Espinho e do Vale, por exemplo.
As cores de Steve Hamaker continuam sendo harmônicas e acrescentando na dramaticidade narrativa, mesmo que, por vezes, seja evidente a arte-final de Smith em algumas hachuras nas sequências que exigiam ser mais expressionistas na versão original em preto e branco.
Reunindo mais edições por volume (o primeiro coletou 19; este tem 17), a edição da Todavia mantém a ótima impressão em couché fosco, o formato 16 x 23 cm, capa cartonada com orelhas, e uma seção com as capas originais no final.
Um problema deste desta edição foi a revisão, que tem vaciladas como trocar “mau” por “mal”, falta de pontuação e erros de concordância em alguns trechos.
Agora, após o “meio”, o próximo passo da jornada dos primos Bone será o seu final, com material inédito por aqui. E a editora lançou o derradeiro volume no segundo semestre de 2019.
Classificação:
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