Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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BORDADOS

1 dezembro 2010

BORDADOS

Editora: Quadrinhos da Cia.

Autor: Marjane Satrapi (texto e desenhos) - Originalmente em Broderies.

Preço: R$ 35,00

Número de páginas: 136

Data de lançamento: Abril de 2010

 

Sinopse

Um grupo mulheres se reúne após o almoço em uma sala para tomar chá e colocar o assunto em dia. Experientes em suas vidas conjugais, suas histórias mostram um ângulo diferente da sociedade iraniana.

Positivo/Negativo

"A minha avó chamava o meu avô de Satrapi, nunca pelo primeiro nome. Dizia que precisava respeitar o marido". É dessa forma que Marjane Satrapi inicia sua narrativa em Bordados. Uma frase que, por si só, já diz muito: um costume desconhecido para nossa sociedade marca o choque cultural que o livro pode apresentar a muitos ocidentais.

É característica da autora realizar relatos autobiográficos como esse, envolvendo fatos cotidianos da sociedade em que foi criada, no Irã. Seu estilo já é bem conhecido pelos que leram Persépolis, em que ela retrata a história de sua vida junto na época da Revolução Islâmica, mesclando referências da cultura pop - o livro foi escolhido como o segundo mais importante da década pela revista Times londrina.

Bordados, porém, não se preocupa em ter o mesmo impacto. O tema aqui são os relacionamentos que as mulheres de sua família e amigas têm com seus maridos e pretendentes. Muitas vezes, os homens retratados são golpistas e infiéis, mas suas histórias adquirem um tom cômico nas palavras da autora.

Nem por isso trata-se de uma obra de menor importância. São nas histórias reais dessas mulheres que se vê o âmago da sociedade iraniana. A reunião das narrativas tragicômicas tem seu valor justamente por serem relatadas sob o espectro do feminino.

Enquanto se reúnem para tomar o chá da tarde, uma delas conta como conseguiu escapar, aos 13 anos, de um casamento arranjado com um general de idade já avançada. Ou como uma amiga de "Marji" transgride preceitos morais ao realizar uma simpatia para que a mãe de seu namorado pare de atormentar seu relacionamento. No desenrolar da trama, é possível perceber o quanto todas as mulheres estão próximas contando suas experiências, mas são tão diferentes ao mesmo tempo.

O maior registro se dá no choque entre gerações das jovens de antigamente com as de hoje. É costume iraniano o homem exibir o lençol manchado de sangue após a noite de núpcias para provar que a moça ainda era virgem. No entanto, muitas delas fazem sexo antes do casamento e acabam indo para a Europa realizar a reconstrução do hímen - daí o título "bordados", algo a ser costurado. Dessa forma, não perdem a honra e nem envergonham a sua família, já que o Irã tem uma sociedade extremamente machista.

A diagramação do livro foge dos padrões costumeiramente adotado nas HQs. Desenhos do corpo inteiro e de perfil que ocupam metade, às vezes a página toda, fazem com que o leitor sinta-se mais próximo das histórias.

Até mesmo o formato, um quase pocket (14 x 19 cm) convida a uma leitura um pouco mais casual. Tudo isso torna este título uma ótima opção até para os não iniciados no mundo dos quadrinhos.

Novamente, é possível encontrar elementos da cultura pop diluídas nas histórias. A tradução de Paulo Werneck (responsável também pela versão para o português de Persépolis e Frango com ameixas) torna a leitura agradável e oferece ainda notas explicando diferentes costumes da sociedade iraniana.

Pena mesmo é o preço um pouco salgado, que pode afastar o leitor e soa como um retrocesso da Quadrinhos na Cia., que lançou outros títulos da autora com mais que o dobro de páginas por um valor parecido.

Classificação:

4,0

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