A série de Jodorowsky e Manara já pode ser considerada um épico dos quadrinhos atuais. Uma verdadeira aula de História e um retrato da decadência da Igreja no final da Idade Média.

Jodorowsky é extremamente talentoso. Consegue transmitir, em poucos balões, todo o cenário de uma época. Comportamento, atitudes, valores, tudo é captado pelo olhar e pela pesquisa do roteirista. Difícil, por exemplo, não ficar impressionado com a sordidez reinante na Itália do século XV.

E, pelo que se sabe, Jodorowsky aumentou apenas um pouco os excessos da família Bórgia. As atitudes que garantiram a reputação do clã estão todas ali e incluem assassinatos, incestos, estupros... A lista é grande.

Os traços de Manara apenas destacam os valores do roteiro e valorizam o retrato de época. O desenhista é famoso pelas mulheres exuberantes (presentes aqui aos montes), mas também é capaz de criar belos cenários, como a reprodução do Palazzo Vecchio, em Florença, ou da Basílica de São Pedro, no Vaticano. O italiano, um mestre em retratar expressões faciais, ainda comprova sua habilidade para retratar cenas de ação.

Neste volume, Manara optou por não escancarar as cenas de sexo, como fez em HQs de sua autoria. A devassidão está lá, em cenas de orgias ou incestos, mas não há closes em partes íntimas. A decisão acabou valorizando a trama.

Esta é a terceira parte da saga dos Bórgia (leia as resenhas das duas primeiras partes aqui e aqui). A série deve chegar ao fim com o quarto volume, já prometido pela Conrad no final de As chamas da vingança. Sem dúvida, esta é uma HQ memorável, que faz jus ao belo tratamento gráfico (com papel de luxo e capa dura) que recebeu.