Burroughs
Editora: Veneta – Edição especial
Autor: João Pinheiro (roteiro e arte).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Setembro de 2015
Sinopse
Um gênio da literatura. Um visionário. Um ocultista. Um paranoico delirante. Um violento psicopata. Um viciado. Um herói. Um assassino. Esta história em quadrinhos é um mergulho no universo de um dos mais brilhantes, intrigantes e perturbadores escritores do Século 20.
Positivo/Negativo
Em um dos livros mais polêmicos da beat generation, Almoço Nu, William Burroughs escreveu: “não pretendo entreter ninguém”.
Criador da técnica dos cut-ups, sua escrita era feita em blocos de ideias, transmitindo o que seus sentidos estavam vivenciando em um preciso momento. Daí por que ele não se preocupava em criar um enredo propriamente dito, mas passagens, sopros de vida de personagens que retratavam tanto a sua realidade boêmia e excêntrica, quanto a sua imaginação delirante e pungente devido aos excessos com diversos tipos de drogas.
O quadrinhista João Pinheiro já demonstrou um profundo conhecimento do cenário beat quando produziu a biografia em quadrinhos Kerouac, lançada pela Devir em 2011.
Quatro anos depois, o autor deu vida a Burroughs, e acertou o tom ao misturar realidade e paranoia na mesma proporção, criando um thriller dramático surreal, com toques de Além da Imaginação.
A trama tem início com o tiro fatal que Bill Lee desfere na sua esposa Joan, ao errar o alvo em sua imitação de Guilherme Tell, brincadeira costumeira do casal.
Acreditando que forças exteriores estão agindo em sua mente, fazendo com que ele perca o controle das próprias ações, Lee vai para o Interzone Bar, onde clinica o Dr. Benway. Este informa que ele está sofrendo de uma “disfunção simbólica”, lhe dá uma garrafa de mugwumps (um poderoso alucinógeno) e diz que a cura é tão somente não parar de escrever, porque “a linguagem constitui aquilo que consideramos realidade”.
A partir daí, o leitor entra na mente de Burroughs, embarcando de cabeça em seu delírio metanarrativo para conseguir a redenção, o qual passa por uma insana teoria da conspiração, que o transforma no “Agente Lee”. Isso o leva a uma realidade paralela, chamada Interzona, onde ele passa a maior parte dos dias se drogando e escrevendo numerosos relatórios a seus superiores.
A releitura de Almoço Nu, por Pinheiro, é tão boa quanto a versão para celuloide, do cineasta David Cronenberg (no Brasil saiu com o título Mistérios e Paixões), repleta de licenças poéticas maravilhosas, como a sequência na qual Bill Lee aparece como personagem de um jogo de fliperama, jogado por nada menos do que o mugwump.
Contrariando o escritor, o quadrinho de Pinheiro é um ótimo entretenimento, funcionando como porta de entrada para os textos loucões do Burroughs.
E a edição da Veneta traz como bônus um dos relatórios do “Agente Lee”, em que há recortes de jornal, fotos e o texto Os limites do controle, escrito por Burroughs em 1975, para o colóquio Schizo Culture, mas que na trama da graphic novel foi escrito pelo Dr. Benway, e mencionado durante a consulta com Lee.
Classificação
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