Choques Futuristas
Editora: Mythos – Edição especial
Autores: Alan Moore (roteiro) e John Adkins Richardson, Dave Gibbons, Ian Gibson, Brendan McCarthy, John Higgins, Garry Leach, Mike White, Paul Neary, Ron Tiner, José Casanovas, Eric Bradbury, Bryan Talbot, Jesus Redondo, Robin Smith, Alan Langford, Jim Eldridge, Alan Davis, Rafael Boluda Vidal, Steve Dillon e John Cooper (arte). Tradução de Pedro Bouça. Histórias publicadas originalmente em diversas edições da revista 2000AD.
Preço: R$ 79,90
Número de páginas: 220
Data de lançamento: 2016
Sinopse
A coleção completa de histórias curtas que Alan Moore fez para a revista britânica 2000AD, na década de 1980.
Positivo/Negativo
“Todo mundo começa de baixo, meu filho”, já dizia a mãe ou a avó de cada um de nós. Isso é verdadeiro, seja você um bancário ou um Beatle. Todos têm que amargar um tempo nos porões de Liverpool para aprender os traquejos da profissão, como ser, afinal, o melhor em que faz.
Não foi diferente com o mago Alan Moore, tido por muitos como um dos maiores roteiristas de quadrinhos do planeta.
E o porão de Alan Moore foi justamente na revista britânica 2000AD, lar do nada amigável Juiz Dredd. Foi nesta publicação, ainda na chuvosa Inglaterra do início dos 1980, onde o liberalismo de Margareth Thatcher (também conhecida como Dama de Ferro) imperava, que o autor desenvolveu sua capacidade de articular personagens, histórias e tramas com finais surpreendentes.
O que chama a atenção de imediato é o tamanho das histórias. Algumas de quatro ou cinco páginas, outras tantas de três, uma série de duas e até de uma apenas. E nelas o novato Alan Moore desliza praticamente como um veterano.
Claro que não se pode comparar essas obras pequenas com Watchmen ou V de Vingança, mas ainda assim o toque de Moore está indelével em cada trama ou personagem.
As histórias giram em torno da ficção científica, pois a publicação inglesa demandava isso. Mas nem só desse gênero vivem as tramas. A maioria é de um humor ácido, combinando os elementos fantásticos e futuristas com um pessimismo divertidíssimo, principalmente no que tange às mudanças de rumo dos plots.
Aquilo que o leitor pensa que é, nunca é. Aquilo que dá como certo, nunca está certo. O mocinho talvez não seja tão bonzinho e o malvado pode ser um anjo. E uma nave quem sabe queira se alimentar de ambos!
Moore também se diverte com os estereótipos. Ele os subverte com uma naturalidade que deixa o leitor embasbacado. Se um homem está sozinho no mundo depois da hecatombe nuclear e se chama Adão, qual o nome da mulher que ele encontra e com quem povoará o mundo? Mirtes!
Esse tipo de subversão de estereótipos está presente em praticamente todas as histórias, garantindo uma leitura divertida nos mundos criados pelo inglês barbudo.
As aventuras deste compilado da Mythos são basicamente divididas em quatro seções, todas escritas entre 1980 e 1983. A primeira parte são os Contos do Ro-bocão e os Choques Futuristas de Tharg. Nelas, o alienígena Tharg aparece como uma espécie de Guardião da Cripta, introduzindo o leitor à história ou simplesmente dando nome a ela.
Em seguida, vem Distorções Temporais, que brincam fundamentalmente com futuro, passado e os problemas entre eles. Depois, quatro histórias soltas para encerrar o volume com as aventuras do alienígena de quatro olhos Abelard Snazz.
E ainda há os companheiros de Moore na empreitada. Nomes como John Higgins, Dave Gibbons, Alan Davis, Brendan McCarthy e Steve Dillon (que faleceu em outubro de 2016), também abrilhantam as histórias que, muitas vezes, têm sua saída dramática nos desenhos. O conjunto entre texto e arte mostra-se afiadíssimo e certeiro nas poucas páginas que possuem para desenvolver a trama.
A edição brasileira, em capa dura, dignifica o material e o prepara para uma vida mais longeva. Ainda assim, é importante avisar ao leitor que a maioria dessas HQs já foi publicada na revista mensal Juiz Dredd Megazine, que infelizmente parou de circular.
E, justamente por ser uma compilação, seria interessante a Mythos inserir alguns extras para o leitor. Há apenas uma breve biografia de Moore e dos desenhistas, além de duas capas inglesas da revista. A editora poderia ter colocado algum texto introdutório, uma entrevista com o roteirista ou com os desenhistas, algo que abrilhantasse ainda mais o álbum.
Do ponto de vista da tradução, percebe-se um esforço para tentar usar as gírias inglesas do período (ou o equivalente em português da época), o que é muito interessante. Em contrapartida, justamente por essa localização temporal, o nome do cantor Wesley Safadão não deveria estar na boca de um dos personagens.
Enfim, é uma edição para ler e reler quando estiver meio triste e precisar de uma dose de humor corrosivo ou para quando estiver feliz demais e necessitar de uma dose de pessimismo. E Alan Moore prova a todos que, tal como os Beatles, era genial desde a sua estreia.
Classificação
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