Clockwork Angels # 1
Editora: Boom Studios (minissérie mensal em seis partes)
Autores: Kevin J. Anderson (escritor), Neil Peart (autor original) e Nick Robles (arte).
Preço: US$3,99
Número de páginas: 24
Data de lançamento: Março de 2014
Sinopse
Owen Hardy sonha viver uma grande aventura, desafiar seu destino e ter uma vida diferente e emocionante. Mas vive em um mundo onde tudo é pré-concebido e programado, controlado pelo “Relojoeiro” (Watchmaker), que mantém as engrenagens do mundo funcionando de sua torre na Cidade da Coroa. História baseado no álbum Clockwork Angels, da banda Rush, lançado em 2012.
Positivo/Negativo
Antes de falar da obra em questão, é importante ressaltar os motivos de seu lançamento, primordialmente a banda canadense, que em 2014 celebra os 40 anos do lançamento de seu primeiro álbum, Rush.
O que justifica esta publicação é o trio Geddy Lee (baixista e cantor), Alex Lifeson (guitarrista) e Neil Peart (baterista e compositor). O Rush é a terceira banda com mais discos de ouro e platina consecutivos (perde apenas de Beatles, Rolling Stones), com mais de 40 milhões de álbuns vendidos, foi recém-indicada ao Hall da Fama do Rock em 2013 e segue arrebatando multidões de fãs para suas energéticas performances ao vivo (como a esplendorosa exibição em São Paulo e Rio de Janeiro, documentada no show Rush in Rio, de 2002).
O baterista, Neil Peart é um aficionado por literatura, e isso transborda em suas referências e citações através das quatro décadas da banda, com épicas canções inspiradas pelo trabalho de Ayn Rand (a suíte em sete atos 2112, do álbum de mesmo nome), assim como o cavalo de Dom Quixote (Rocinante), mitologia greco-romana e astrofísica para inspirar as duas partes da épica Cygnus X-1, passando por diversos outros motes e motivos, como a Terra Média de Tolkien (The Necromancer e Rivendell), distopias (Red Barchetta) e até mesmo o Holocausto (Red Sector A).
Com verdadeiras epopeias em forma de música, a banda se esgueirou pelos caminhos do progressivo, do experimental e, como não poderia deixar de ser, dos álbuns conceituais, como o último, o excelente Clockwork Angels (2012).
E inspirado pelo trabalho deste álbum, o autor de livros de ficção científica Kevin J. Anderson, grande fã da banda e amigo pessoal de Peart, fascinado por esse último disco, resolveu adaptar o material para a forma literária. E o fez com o livro Clockwork Angels – The novel, lançado em 2012.
Analisando isso, a BOOM, trabalhando em colaboração com o autor do livro, e com as ideias, imagens e canções do disco, produziu outra adaptação, agora em quadrinhos.
Mas não se engane com todos os elogios até agora, pois nenhum deles vale para a HQ: a editora falha miseravelmente em tentar fazer justiça ao material original e o resultado é um pastiche sem sal, com personagens sem carisma, uma história sem emoção e ação sem gás.
Falta um sentimento de urgência ou conflito na primeira parte da trama. Não há uma demonstração nítida dos antagonistas, mesmo que se reforce várias vezes a inteligência e a perspicácia do Anarquista (The Anarchist) – com uma participação tímida e nula de qualquer senso de perigo – ou a benevolência e sabedoria do Relojoeiro.
Não há qualquer tensão ou risco que se observe entre o vilão e o onisciente benfeitor daquele local e, mais que isso, os questionamentos parecem remontar a uma enorme zona cinzenta ética (como a “benevolência” do Relojoeiro, que controla a vida e o universo, ou a “maldade” do Anarquista, que é um homem questionando o sistema existente). Pena que falte a perspicácia e qualidade de roteiro para que seja notável a diferença entre os tons.
Pior ainda: fica claro desde o começo que a aventura não representa perigo ao protagonista – uma vez que é tão somente o idoso Owen Hardy lembrando de seus dias de jovem.
Até o motivo da fuga (a busca por aventura) parece um tanto vazio, sem um senso de imediatismo ou qualquer outra justificativa, sem um desenvolvimento apropriado... Soa pueril.
Esta edição vale apenas pela curiosidade, para fãs extremamente fervorosos e para o caso de uma grande promoção para vislumbrar a excelente arte de Nick Robles. De resto, ouça o CD (ou veja o show da turnê, disponível em blu-ray e DVD): vale muito mais a pena.
Classificação