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Comic Book Culture – Fanboys and true believers

1 novembro 2013

Comic Book Culture – Fanboys and true believersEditora: University Press of Mississipi – Livro teórico

Autor: Matthew J. Pustz.

Preço: US$ 18,00

Número de páginas: 264

Data de lançamento: 1999

Sinopse

Um estudo aprofundado sobre o mundo dos leitores de histórias em quadrinhos, com base em pesquisas diversas, entrevistas com fãs e experiência pessoal.

Positivo/Negativo

O mundo dos aficionados por histórias em quadrinhos já foi definido, tempos atrás, como uma espécie de sociedade secreta, insular e quase hereditária que simplesmente não se importa com o que pensa o resto do mundo.

Concordando ou não com a afirmativa, é fato que os ávidos consumidores de gibis estão entre os mais passionais fãs do mundo da cultura pop, cheios de características únicas e com muito a dizer. Se os super-heróis tomaram de assalto o topo das bilheterias cinematográficas, o universo das revistas mensais e encadernados luxuosos ainda anda envolto em mistérios e hábitos considerados esquisitos, como embalar os exemplares em sacos plásticos e passar horas do dia discutindo as últimas aventuras do personagem preferido em fóruns na rede mundial de computadores.

Para evidenciar o fenômeno e dirimir frequentes dúvidas, o livro Comic Book Culture – Fanboys and true believers, de Matthew J. Pustz, apresenta um estudo completo sobre a cultura gerada pelos quadrinhos na América. O trabalho impressiona pela riqueza de detalhes e profundidade das pesquisas, tão cheio de energia quanto a comunidade que explora.

Os quadrinhos são tema cada vez mais frequente de livros teóricos e estudos acadêmicos diversos, mas a investida de Pustz ainda resiste como uma das mais originais e atraentes. Se é comum encontrar tratados sobre linguagem gráfica, filosofia ou a evolução histórica da nona arte, um olhar mais atento especifico sobre a cultura dos leitores não parecia ganhar destaque.

Assim, Comic Book Culture abre com uma descrição minuciosa da loja especializada Daydreams Comics and Cards, em Iowa City, e logo envereda pela evolução das seções de cartas dos gibis, a distinção entre leitores do mainstream e da chamada cena alternativa, passando pelo senso de inclusão e nostalgia do gênero dos super-heróis, até chegar no fenômeno mundial da internet.

As entrevistas foram conduzidas nos anos de 1995 a 1997, e muito já mudou desde então, mas o livro ainda é um perfeito retrato de uma época.

Matthew Pustz investiga os primórdios das associações de fãs e publicações amadoras, da linguagem amigável e exagerada dos primeiros dias da Marvel e de como os jovens leitores influenciavam o conteúdo das revistas de terror da EC Comics. Também se propõe a definir os hábitos dos frequentadores de comic shops e a analisar termos como fanboys e Marvel Zombies. Estão na sua mira as publicações dedicadas à arte sequencial, como o Comics Journal e a Wizard, além dos quadrinhos independentes e as gigantescas convenções anuais.

Há até uma revisão dos conceitos da teoria de Scott McCloud, no livro Desvendando os quadrinhos, e dos experimentos metalinguísticos de Grant Morrison com o Homem-Animal. Típico dos anos finais da década de 1990, o problema dos especuladores que só compravam grandes quantidades do mesmo gibi para revender depois a preços exorbitantes e a exploração de violência e sensualidade entre os super-heróis também ganham atenção.

A internet fica para o final, como promessa de grandes mudanças para este mundo notável, que na época se manifestava sobretudo a partir de sites de fãs e grupos de discussão.

A figura do fã de quadrinhos ganhou destaque na mídia a partir de seriados como The Big Bang Theory e até reality shows diferenciados, mas uma iniciativa de estudar a fundo o tema, sem preconceitos e buscando informações precisas, é muito bem-vinda. A imagem de capa de Comic Book Culture, tirada do gibi The Copybook Tales, ilustra perfeitamente a situação do jovem que se sente no paraíso ao adentrar uma comic shop pela primeira vez.

São ações cotidianas bem conhecidas pelos fanáticos por quadrinhos que ditam os rumos da pesquisa exposta no livro e, mesmo que seu grau de dedicação à arte invisível não seja tão extremo, o leitor há de se identificar.

Se muitos ainda olham com desconfiança, vale conhecer o passado de uma tendência cultural cada vez mais forte, entender o seu presente e construir o futuro, para todos que, independentemente de gênero, editora ou personagens prediletos, foram tomados por um amor avassalador pelos quadrinhos.

Classificação

4,5

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