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CONAN – NASCIDO NO CAMPO DE BATALHA

1 dezembro 2010

CONAN - NASCIDO NO CAMPO DE BATALHA

Editora: Mythos - Edição especial

Autores: Kurt Busiek (roteiro) e Greg Ruth (arte)

Originalmente publicada em Conan # 8, # 15, # 23, # 32, # 45 e # 46.

Preço: R$ 69,90

Número de páginas: 184

Data de lançamento: Dezembro de 2008

 

Sinopse

Da infância humilde nas bucólicas e inóspitas terras nórdicas da Ciméria, até seu batismo de fogo na Batalha de Venarium, as origens de Conan foram sempre tópico de debates entre fãs e estudiosos da obra de Robert E. Howard.

Afinal, nas histórias que publicou e nas cartas que trocava com amigos e colegas escritores, o escritor deixou apenas pistas do dramático nascimento e dos primórdios de seu principal personagem: um bárbaro aventureiro cujo destino seria tornar-se ladrão, mercenário, pirata, soldado e, finalmente, o rei da mais gloriosa nação de seu mundo.

Agora não mais fruto de especulação ou conjecturas, eis que finalmente surge a origem definitiva de Conan. Esta é a história de um menino que, desde o nascimento em plena batalha entre seu clã e uma raça inimiga, estava fadado a sagrar-se um guerreiro invencível e um grande líder entre os homens.

Positivo/Negativo

Em uma década marcada pelo ressurgimento de personagens icônicos da indústria dos quadrinhos, outrora sucessos absolutos, foi bastante comum vê-los sofrer mudanças de personalidade, estilos narrativos ou (e aqui praticamente todos eles se encaixam) ver suas origens recriadas ou até, pela primeira vez, formuladas.

O bárbaro Conan, criação máxima do escritor norte-americano Robert E. Howard (1906-1936), é um dos poucos personagens dono de um passado glorioso nos comics que voltou a protagonizar uma boa leva de aventuras digna de sua grandeza, tendo um novo longa-metragem em produção e, recentemente, passando a ostentar uma das melhores origens já feitas para um personagem do gênero Espada & Fantasia.

De fato, Nascido no campo de batalha torna-se uma excelente introdução ao Gigante de Bronze, pois consegue aliar, com extrema felicidade, qualidade narrativa e artística. Uma combinação rara em tempos atuais.

Dividida em seis capítulos - e correspondente ao mesmo número de edições lançadas esporadicamente na primeira série publicada pela Dark Horse, de 2003 a 2008 -, a história flui desde o nascimento de Conan em pleno campo de batalha, durante um embate entre cimérios e vanires - acontecimento muitas vezes mencionado tanto em revistas como nas tiras de jornais de sua primeira casa editorial, a Marvel, ainda na década de 1970.

Isso torna Conan um garoto invejado por alguns e bem visto pela maioria dos habitantes de sua pequena aldeia. Desde cedo, o pequeno cimério comprovou o estigma advindo de seu nascimento: era considerado um líder nato entre as outras crianças, apresentava grande agilidade e destreza física, além do bom desempenho em tarefas rotineiras para a subsistência do seu clã.

Aqui e ali, o leitor vai encontrando fatos e características que se tornariam comuns na personalidade de Conan, como a curiosidade latente em percorrer novos lugares (alimentada pelas histórias antigas que seu avô lhe conta, fazendo-o imaginar o que existiria além das colinas e florestas sombrias de seu lar); seu ímpeto guerreiro; o gosto pelas armas fabricadas pelo seu pai ferreiro; ou a descoberta dos prazeres mundanos e carnais, já na fase adolescente.

Eis alguns elementos que o trazem mais próximo da clássica visão concebida tanto por seu criador quanto por outros talentos da nona arte, como Roy Thomas, Barry Windsor-Smith, Alfredo Alcala, John Buscema, Joe Jusko e Frank Frazetta, que contribuíram na moldagem do personagem em suas antigas e clássicas aventuras.

Neste ponto é notável a fidelidade e o respeito que Kurt Busiek teve para com a mitologia criada por Howard.

Dentre tantos momentos ímpares, dois merecem destaque na obra. A primeira é a cena em que Conan encontra o território onde ocorrera a Batalha do Vale Brita e testemunha uma miragem do que fora a esta refrega entre seu clã e o antigo exército aquilônio.

E a segunda, como não poderia deixar de ser, é a famosa Batalha do Forte Venarium, quando cimérios de todas as tribos se uniram em prol da derrocada da armada invasora aquilônia - culminando no famoso batismo de fogo de Conan, comumente mencionado pelos escritores e já retratado antes na minissérie Conan - O Aventureiro, lançada pela Abril na metade dos anos 1990.

No quesito arte, Greg Ruth foi feliz. Dono de um estilo forte e impressionista, seu traço, aliado ao ótimo trabalho com as cores, conseguiram imprimir o caráter vigoroso e austero tanto de Conan como de seus conterrâneos. Além disso, ele retrata perfeitamente o paisagismo melancólico da Ciméria imaginada por Howard no poema homônimo escrito em 1932.

Concorrente a este entendimento, vale mencionar pequenos trechos escritos por Osvaldo Magalhães quando de sua resenha para Conan, o Cimério # 8, sobre o artista:

"Ruth é simplesmente rústico e impressiona por retratar muito bem aquele olhar frio de Conan..."

"A energia que põe em cada painel, o drama da situação, a claridade da razão quando ela realmente não existe entre os interlocutores infantis e as incertezas dos jovens em relação aos adultos são marcantes em sua arte."

"Ruth consegue impor a Conan um sentimento de força e capacidade enquanto cresce e luta com seus rivais, tornando-o a cabeça mais elevada na vila, não somente por sua estatura em relação aos outros, mas porque ele se mostra melhor em tudo que faz, comparado a seus companheiros de infância. Tal qualidade no desenho independe do argumento de Kurt Busiek".

Completam o álbum alguns extras interessantes, como uma introdução de duas páginas de Greg Ruth e um caderno de esboços e artes conceituais para a obra, com comentários do desenhista. Além disso, uma entrevista com Kurt Busiek fecha a edição.

Oportuno mencionar, no entanto, os aspectos negativos da obra: o luxo desnecessário e o preço cobrado.

Uma publicação como esta é uma oportunidade perfeita para atrair antigos fãs e novos leitores, mas a sanha atual do mercado em querer elitizar e requintar desnecessariamente encadernados de quadrinhos pouco, ou nada, contribui para estes objetivos.

Apesar disso, é um livro indispensável para qualquer fã da Era Hiboriana, item de colecionador, obra de arte a incrementar o rol de grandes trabalhos dos quadrinhos nesta década e leitura mais do que recomendada. Eis somente alguns atributos à espera dos que se aventurarem nas páginas deste encadernado.

Classificação:

4,0

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