Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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CONTOS DE BATMAN – VOLUME 1

2 agosto 2009


Autores: Robert Sheckley, Joe R. Lansdale, Mike Resnick, William F. Nolan, Ed Gorman (textos) e Joe DeVito (arte da capa).

Preço: Variável (edição disponível em sebos)

Número de páginas: 160
Data de lançamento: 1994

Sinopse: Cinco contos de mistério, horror e suspense estrelados por Batman.

A garota do papai (por William F. Nolan) - Robin é capturado pelo
Coringa enquanto faz uma ronda noturna. Levado ao esconderijo do Príncipe
Palhaço do Crime, o Menino Prodígio conhece uma jovem que há anos vive
encarcerada, isolada de qualquer contato com o mundo externo. A garota
pensa que o vilão é seu pai. E ela pode não estar errada.
Solo Neutro (por Mike Resnick) - Um estranho estabelecimento comercial recebe visitas ainda mais esquisitas, todas à procura de vestimentas e equipamentos especiais para fins desconhecidos (ou não).

Jack do Metrô (por Joe R. Lansdale) - O Deus da Lâmina, uma obscura entidade demoníaca milenar, escapa mais uma vez de sua dimensão e invade esta realidade, possuindo a mente de um jovem estudante, que começa a se transformar na deidade e assassinar moradoras de rua.

Ídolo (por Ed Gorman) - Por muitos anos, a obsessão e a loucura tomam conta de um rapaz que acredita ser o Batman e considera o herói um impostor. Finalmente, para ele, chega o dia em que terá a chance de matar o Cavaleiro das Trevas.

A morte do Mestre do Sonho (por Robert Sheckley) - Dias depois de ver o Coringa morrer acidentalmente durante um de seus confrontos, Batman começa a ver o vilão em toda parte, como uma aparição fantasmagórica. Disposto a saber se está ficando louco, o herói segue pistas que podem levá-lo a descobrir uma trama criminosa envolvendo autoridades do governo dos Estados Unidos.

Positivo/Negativo: Muito comuns nos Estados Unidos, desde a década de 1950, os livros de bolso inspirados em famosas séries de quadrinhos de super-heróis nunca emplacaram no Brasil.

A iniciativa da Abril Jovem, em meados dos anos 1990, apostando na força icônica do Batman (que na época, no País, estava vivendo a saga A queda do morcego), resultou em poucas edições lançadas, incluindo as baseadas na série animada de TV. E não abriu as portas da editora para mais nada do gênero - exceção feita ao livro que narra a história da morte e ressurreição do Super-Homem.

A baixa qualidade das obras pode ter contribuído para isso. Este primeiro volume de Contos de Batman, por exemplo, possivelmente não despertou no leitor o desejo de acompanhar as edições seguintes.

Cada um dos cinco autores derrapou à sua maneira na hora de impor uma visão particular sobre o Cavaleiro das Trevas e alguns dos personagens que compõem o universo do herói de Gotham City.

Quatro deles, novelistas consagrados e premiados, aventuraram-se em um terreno que lhes pareceu não muito confortável, a julgar pelas histórias de torcer o nariz.

Nem mesmo Joe R. Lansdale, dentre esse autores o mais familiarizado com Batman - o artista ainda hoje escreve HQs para a DC Comics -, conseguiu escapar.

Em Jack do Metrô, Lansdale misturou pelo menos três estilos de narrativa que serviram apenas para dificultar a fluência da leitura. Ora na primeira pessoa, ora na terceira, o texto é intercalado por passagens que o autor escreveu na forma de roteiro descritivo de uma história em quadrinhos, artifício desnecessário e maçante, que quebrou o clima de terror da aventura e diminuiu o ritmo frenético de alguns trechos de ação.

A garota do papai, de William F. Nolan, é uma das mais duras de engolir. Fora o fato de que é inconcebível um Coringa tecnológico capaz de construir complexos androides e se "esconder" numa mansão nada discreta no meio da cidade, a aventura é cheia de furos de continuidade. Além do que, a suposta filha do vilão não tem uma origem ou explicação de como, por que e desde quando se tornou prisioneira.

A leitura mais palatável do livro é Solo Neutro, escrito por Mike Resnick. Mostrando a visita de Bruce Wayne (não citado nominalmente, apenas sugerido por descrição) a uma loja de roupas e equipamentos para super-heróis - ou vilões -, a aventura tem um ar despretensioso que chega a divertir.

O problema é que qualquer leitor assíduo de quadrinhos já viu mais de uma vez, na DC ou na Marvel Comics, uma história semelhante. Se Resnick queria ser original, provavelmente desconhecia esse detalhe.

Outro conto em que Batman serve de "escada" para um novo personagem é Ídolo, de Ed Gorman. Por meio de um texto construído em sua maior parte com diálogos, o leitor é apresentado a um jovem psicótico que, durante anos, alimenta um ódio mortal pelo Batman, a quem acusa de ser um impostor cuja identidade fora usurpada dele.

Só faltou ao autor desenvolver um perfil para o vilão, de forma que não ficassem sem respostas questões como o que o fizera imaginar ser o Batman e se fora a obsessão pelo Cavaleiro das Trevas que o tornara um maníaco assassino (a ponto de matar a própria mãe e outras pessoas que, em sua mente, eram aliados do "impostor") ou se o quadro psicológico do personagem já era patológico.

A falta desses e de outros elementos deixou o personagem sem profundidade e não supriu a ausência do cruzado encapuzado na história. Sua morte na última página da aventura acaba sendo o fim do suplício do leitor.

A morte do Mestre do Sonho, de Robert Sheckley, finaliza o livro e é o conto com o maior número de páginas.

Começando pela caracterização exagerada do Coringa, capaz de trucidar crianças em um moinho (onde o vilão acaba morrendo), a história segue por um caminho - a suposta loucura de Bruce Wayne, que começa a ter visões com o finado inimigo - e chega a outro, um estapafúrdio esquema de compra de avançadas armas tecnológicas pelo governo dos Estados Unidos, com direito ao envolvimento da CIA.

É constrangedora a forma forçada com que o escritor tenta relacionar fatos aleatórios. Um exemplo: como é possível imaginar alguém tentando induzir Batman à loucura, em Gotham City, para que o herói jamais descubra eventos criminosos secretos em Washington, os quais ele nem desconfiava existir, em uma cidade fora de seu campo de atuação? Sheckley tornou isso factível.

Os erros de continuidade também não são poucos e, às vezes, parecem mesmo propositais, como se o autor tivesse caído numa enrascada criativa e resolvesse apelar.

Isso fica claro no fato de as supostas visões de Batman, depois reveladas como fruto de imagens holográficas, terem começado a surgir primeiro diante de Bruce Wayne, que passou a investigar o caso disfarçado de Charlie Morrison, um de seus alter egos. Só que o figurão da CIA, responsável pelo ataque psicológico ao herói, afirmou ter maquinado o plano contra Morrison por haver "descoberto" que ele era o Cavaleiro das Trevas. Isso perde o sentido quando o leitor se recorda para quem as "aparições" se mostraram no início de tudo.

E se alguém pensa que o título da história fará algum sentido ao final da última página, ficará com mais uma frustração na lista de muitas que acompanham as mais de 150 páginas de Contos de Batman - Volume 1.

Com o perdão do trocadilho, por essas e muitas outras o livro não vale um conto.

 

Classificação:

4,0

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