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CORTO MALTESE - AS ETIÓPICAS

1 dezembro 2008


Autor: Hugo Pratt (texto e arte).

Preço: R$ 33,00

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Maio de 2008

Sinopse: Corto Maltese chega à África Oriental em plena I Guerra Mundial - e fica na região até o fim dos combates, em 1916.

Lá, atravessa o deserto, depara com turcos, feiticeiros, ingleses e até mesmo homens-leopardo.

Positivo/Negativo: Há um detalhe que se nota logo ao pegar um exemplar de As etiópicas: a mudança do papel.

Nos outros quatro volumes da coleção da Pixel dedicada à publicação de Corto Maltese, o papel era um couché ou aparentado. Agora, sem aviso, virou offset ou uma variação dele.

A mudança tem um aspecto positivo: por vezes, o papel anterior não segurava os tons de preto e deixava vazar a impressão do verso. Mas o saldo é negativo: em alguns exemplares há páginas nas quais a impressão do preto se aproxima perigosamente do cinza. Mais que isso: é uma ruptura no padrão de uma coleção que já sofreu o baque da redução da periodicidade entre os álbuns.

Embora mexa com a veleidade do seguidor de Corto Maltese, a alteração não afeta a alta qualidade que marca as histórias de Hugo Pratt.

O quadrinhista prossegue a saga de seu personagem mais famoso, agora em um terreno mítico, fértil de grandes homens. Da mesma época, da mesma região, vem a fama do galês T. E. Lawrence, conhecido como Lawrence da Arábia - e eternizado por Peter O'Toole em um admirável longa-metragem. Décadas antes, a região já tinha abrigado as aventuras do poeta francês Arthur Rimbaud.

Para Pratt, o contexto é uma beleza. O autor esteve em campo de concentração, foi marinheiro, viajou o mundo todo. Ele se filia, portanto, à tradição dos autores-aventureiros cuja obra e ficção se mesclam. É, a seu modo, um Jack London ou mesmo um Ernest Hemingway.

O próprio Corto Maltese é o alter ego de seu criador. Mas não é só a sua vida que se mistura com as HQs. A própria História está lá, bem como a geografia e a cultura dos locais por onde o marinheiro passa.

É disso que sai o sabor de As etiópicas, o álbum da série com menos ação até aqui. Seu foco está mais em tecer um retrato fascinante de uma região da África com características muito particulares, marcada por uma multiplicidade de povos e etnias, desde tribos ancestrais até muçulmanos - incluindo no pacote os enviados de nações européias com desejos coloniais.

Justamente por ser calcado na realidade que um álbum como As etiópicas fica ainda mais encantador. Afinal, esse mundo real de Pratt sempre tem algo de misterioso e inexplicavelmente místico para oferecer ao leitor. Corto, que fala como um cético, mas age como um crente, não dá respostas.

Por isso, um feiticeiro como Shamael ganha espaço. E os homens-leopardo têm voz. Cush, aliado ardiloso e vulgar que acompanha Corto por todo o álbum, é quem serve como mediador entre o aventureiro e o esotérico - tornando-se um dos mais carismáticos personagens da série até aqui.

Para dar conta desse mundo, o traço de Pratt é imbatível: o deserto surge de longas pinceladas de nanquim, as máscaras ganham força em ricas texturas. Há até mesmo uma página que é uma obra-prima: a 65, em que Corto é derrubado por uma avalanche de pedras.

A nova edição brasileira corrige os problemas de sua antecessora, intitulada Corto Maltese na Etiópia e publicada como o 211º volume (já fora de catálogo) da coleção L± Pocket. Com arte reduzida, as páginas se ajustavam ao formato de tiras. Não funcionou.

O álbum da Pixel dá a Pratt a chance de ser visto em toda a sua plenitude, e é o mínimo que se espera dele.

Classificação:

4,0

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