CRIMINAL # 1 - LÂCHE!
Autores: Ed Brubaker (roteiros) e Sean Phillips (arte)
Preço: 14,95 euros (R$ 35,58)
Número de páginas: 128
Data de lançamento: 2007
Sinopse: Leo Patterson é um batedor de carteiras conhecido por duas qualidades: sua covardia e seus planos perfeitos para assaltos de sucesso.
Estes atributos o colocam na mira de dois sujeitos terríveis, o assaltante Seymour e seu comparsa, o policial Jeff, para elaborar um crime que tem tudo para dar errado: o roubo de diamantes de um carro blindado da polícia a caminho de um tribunal.
Positivo/Negativo: Como diria Brubaker, o ingrediente secreto é o crime (aliás, este é o título da seção de cartas da revista mensal de Criminal).
Ed Brubaker e Brian Azzarello são os dois grandes responsáveis - embora existam outros - pelo renascimento das histórias em quadrinhos policiais nos Estados Unidos. Um gênero que era bastante popular desde o inicio da década de 1930, até mesmo nas tiras (vide Dick Tracy, por exemplo), e que foi literalmente assassinado com a introdução do Comic Code Authority, em 1954.
Criminal é uma das revistas mais importantes da década por três motivos. Primeiro porque é uma série brilhante, bem escrita e desenhada, sobre um assunto pouco visto nos quadrinhos norte-americanos contemporâneos (fato confirmado pelo recebimento de vários prêmios - Eisner de melhor série e melhor escritor; e Harvey, também de melhor escritor).
Segundo, porque é uma série de propriedade de seus autores (donos dos direitos autorais), publicada por uma das maiores editoras americanas, a Marvel, no selo Icon, e que não só está fazendo sucesso, como está aumentando o número de leitores mensalmente. Um fato raro atualmente.
A terceira razão é o seu impacto cultural.
Embora o renascimento do gênero policial já estivesse em andamento, Criminal catalisou o fenômeno e o expandiu, transpôs a plataforma dos quadrinhos, mesclando-se com as influências do cinema e da literatura.
A revista mensal traz uma seção de artigos tão cobiçada pelos leitores quanto a própria HQ em si. São textos interessantíssimos, escritos por autores diversos - além de Brubaker -, como Ande Parks, Patton Oswalt, Charlie Huston, Greg Rucka, Matt Fraction, David Goyer, Warren Ellis, Charlie Ardai, Steven Grant, entre outros, destilando suas preferências do cinema e da literatura noir.
Patton Oswalt, por exemplo, escreveu um texto genial sobre o filme cult Blast of Silence, conhecido por poucos, uma vez que não estava nem mesmo disponível em DVD. Isto é, pelo menos antes de Criminal.
Depois que o artigo foi publicado, a Criterion Collection lançou o filme em DVD, com um atrativo especial: chamou o desenhista Sean Phillips para ilustrar a capa e fazer uma HQ de quatro páginas que vem encartada na embalagem.
O interesse pelo gênero alcançou uma massa crítica e a DC Comics resolveu lançar um sub-selo da Vertigo dedicado apenas a esse assunto, com participação de Brian Azzarello e do escritor de histórias policiais Ian Rankin.
Na mesma linha, a IDW vai lançar o novo trabalho de Darwyn Cooke, adaptações para os quadrinhos do personagem Parker, criminoso dos livros de Richard Stark (pseudônimo de Donald Westlake), que já foi visto no cinema algumas vezes.
E ainda existem rumores de que a própria Marvel está planejando a sua blitz no gênero.
As histórias de Brubaker são odes de amor ao gênero policial, particularmente à subcategoria conhecida como noir (o termo filme noir foi cunhado pelo crítico francês Nino Frank, em 1946, e permaneceu desconhecido dos autores norte-americanos por muitos anos).
O noir sempre se concentrou nos perdedores e no lado mais sombrio das pessoas (sejam elas criminosas ou não) e da sociedade ao seu redor.
Se errar é humano, então os personagens de Criminal têm a sua humanidade exacerbada. Eles representam uma verdadeira enciclopédia de decisões precipitadas, atos impensados, muita cobiça e um bocado de azar.
Criminal - 1. Lâche é a versão francesa do encadernado americano Criminal - Coward (Covarde, em português), o primeiro volume da série, e reimprime as edições # 1 a # 5.
Assim como no encadernado norte-americano, a versão francesa não traz os excelentes artigos citados acima. Essa é uma política de Brubaker, que visa premiar o leitor americano que acompanha fielmente as revistas nas bancas mês a mês - um número de fãs que continua crescendo, em vez de esperar pela edição encadernada.
Se o raciocínio funciona para os Estados Unidos, o mesmo não vale para a França, que não teve a chance de ler o material mensalmente, e sai perdendo justamente numa área onde pode competir em igualdade de condições.
Os franceses não só deram nome ao policial noir, mas também dispõem de um excelente acervo de filmes (do diretor Marcel Carne, por exemplo, ou de Jules Dassin, cineasta de filmes decididamente noir, que fugiu dos Estados Unidos perseguido pelo Macartismo e fez na França o seu grande Rififi) e livros do gênero.
A edição da Delcourt, como é de praxe na Europa, é suntuosa, em capa dura e papel couché e galeria das capas originais.
Existem apenas dois fatos a serem criticados no álbum: a ausência de uma introdução (o original tem texto de Tom Fontana) e a capa fraca, uma montagem feita com a ilustração de Criminal #1. Seria preferível terem usado a imagem original na íntegra ou a capa do respectivo encadernado norte-americano.
Neste volume de Criminal, os personagens são o assaltante e batedor de carteiras Leo Patterson; um velho criminoso com Alzheimer, chamado Ivan; Greta, ex-viciada em recuperação; Seymour, outro assaltante; e o policial corrupto Jeff. Aqui não existem heróis.
Todos estão presos aos seus próprios erros do passado e reunidos sob a égide da sobrevivência momentaneamente disfarçada de covardia, no caso de Leo, ou ganância, para os demais.
Mas embora a história de Brubaker seja muito boa, o que torna o material excelente é o casamento do texto com a arte brilhante de Sean Phillips.
Phillips não é um exibicionista. Não é um artista que impressiona pelo espetáculo. O seu forte é a narrativa, a precisão econômica do traço e o peso de suas sombras. Isso sem falar nas belas pinturas de capa e as ilustrações que acompanham os artigos (nas revistas mensais).
Brubaker tem em seus méritos passados obras como Sleeper e Gotham City contra o crime, e em seus créditos atuais, uma boa fase no Demolidor, a ressurreição do Punho de Ferro (junto com Matt Fraction) e a melhor fase do Capitão América em muitas décadas.
É um crime, ou melhor, uma covardia, que seu melhor trabalho ainda seja inédito no Brasil.
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