CRYING FREEMAN # 7
Título: CRYING FREEMAN # 7 (Panini
Comics) - Revista mensal
Autores: Kazuo Koike (texto) e Ryoichi Ikegami (arte).
Preço: R$ 9,50
Número de páginas: 208
Data de lançamento: Abril de 2007
Sinopse: Tougoku Oshu (partes 8 a 13) - Naiji Kumaga, líder da seita Kumagakyo, captura Crying Freeman, aliando-se a Kimie Hanada. Seu plano é substituir o líder dos 108 Dragões por um sósia. Assim, terá um exército capacitado a usar mil submetralhadoras do fim da Segunda Guerra e conquistar o Japão - transformando sua seita na religião oficial do país.
Arriscando na toca do Tigre (partes 1 a 4) - Naiji Kumaga desembarca em uma sede dos 108 Dragões com o suposto sósia. Mas terá uma surpresa.
Positivo/Negativo: Crying Freeman # 7 é uma aula de como os quadrinhos são um nicho pequeno no Brasil. Por mais que se fale da explosão dos mangás nas bancas e do aumento de títulos em livrarias, o segmento ainda é pequeno, quase insignificante, perto de outras manifestações culturais.
A constatação - que não devia ser nova para ninguém - é motivada por uma cena em que uma mulher masturba um garoto que não aparenta mais de 12 anos. Não é pornografia gratuita, afinal, a situação faz parte da trama. E, como é tradicional nas obras de Koike, tudo está muito bem engendrado.
Pelas leis e pelos costumes brasileiros, trata-se de pedofilia. Mas mangás são produzidos no Japão. E, por lá, a cultura é diferente. Retratar órgãos sexuais, por exemplo, é proibido, daí o contorno do pênis de Crying Freeman em branco nas várias cenas de sexo desta edição. Mas a sexualidade de crianças e adolescentes não é tabu, como se pode constatar em outros títulos.
Na transição do Japão para o Brasil, surgem situações esquisitas. A JBC, por exemplo, lançou o mangá Negima como sendo "Desaconselhável para Menores". É o que dizia na capa. Mas, como se trata de uma HQ nitidamente para adolescentes, o efeito era reverso. A indicação de faixa etária dava a impressão de que se tratava justamente de uma obra para adultos que babam por garotinhas. Logo a seguir, a restrição foi retirada da capa.
Não é só nos mangás que a pedofilia vira tema da arte. O assunto é velho: desde a literatura erótica, como a obra de Pierre Louÿs, até Lolita, de Vladimir Nabokov, a sexualidade de crianças aparece. Mas, em quadrinhos, a pedofilia se torna visível.
E, com a diferença de culturas entre o oriente e o ocidente, não resta nenhuma culpa aos protagonistas da cena - coisa que até mesmo um lascivo como Louÿs impôs aos seus personagens.
Se os quadrinhos não fossem um segmento tão pequeno e não tivessem tão pouca repercussão, é bastante possível que Crying Freeman # 7 rendesse uma vasta polêmica. Ao menos, chamaria a atenção das hordas de moralistas de plantão, que possivelmente tentariam vetar sua comercialização.
Haveria, ainda por cima, uma questão maior em jogo. Diferentemente da literatura, o fato de quadrinhos serem uma forma de arte, infelizmente, ainda não é canônico para a população brasileira. E é mais fácil proibir o que não é arte do que censurar uma expressão estética genuína.
Claro que a proibição de Crying Freeman seria estapafúrdia. O título é um clássico das histórias em quadrinhos. Alterá-lo ou vetá-lo seria moralmente criminoso, um golpe abusivo de censura.
Além disso, a cena de pedofilia está completamente dentro de contexto. E essa seria uma das grandes armas de Koike - tanto para defesa da série quanto na condução brilhante de seu título.
Este número é repleto de suas reviravoltas muito bem armadas, uma marca do autor, já vista por aqui em suas outras séries, ambas recém-completadas: Yuki (Conrad) e Lobo Solitário (Panini). Por isso, é um dos mais empolgantes até aqui.
É interessante perceber que o atraso de algumas décadas na publicação brasileira da série deixa sua marca em Crying Freeman. Ambientada nos anos 80 - época em que saiu no Japão - tem a arte mais datada de todas.
Não que o trabalho de Ikegami seja ruim - pelo contrário! Mas a estética da época envelheceu com o passar dos anos, causando um efeito parecido com o de se assistir hoje a um episódio de As Panteras.
Curiosamente, o envelhecimento contribui para destacar o lado marginal da série. A guerra de máfias ganha ares ainda mais underground, a despeito da provável intenção de seus autores na época.
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