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DANS MES YEUX

Por Delfin
1 dezembro 2010

DANS MES YEUX

Editora: KSTR/Casterman - Edição especial

Autor: Bastien Vivès (texto e arte).

Preço: € 16,00

Número de páginas: 136

Data de lançamento: Março de 2009

 

Sinopse

Rapaz encontra garota. Uma história vista de um jeito muito especial.

Positivo/Negativo

Como pode um tema tão batido ter uma interpretação tão bonita e nova como a dada por Bastien Vivès em Dans mes yeux (em português, Nos meus olhos)?

Talvez seja a simplicidade da concepção narrativa deste criador francês nascido em 1984 que atraia. Provavelmente porque seja impossível não perceber que ela encobre uma armadilha muito bem feita para o leitor.

Vivès estreou há pouco tempo nos quadrinhos, em 2007, pelo mesmo selo KSTR,
que apresenta bandes dessinées de vanguarda da tradicional Casterman.
Mas é nesta terceira narrativa longa que revela ter algo a mais para revelar
ao público. Afinal, a tal armadilha encoberta pela simplicidade nada mais
é do que a omissão que o autor faz em relação ao narrador.

Complicado? Nem tanto. O narrador, é fácil perceber, é um rapaz. Que conhece seu objeto de desejo em uma biblioteca. Mas, desde o primeiro momento, o leitor deve deduzir absolutamente tudo sobre o personagem, pois não se tem acesso ao pensamento dele, nem às suas falas, nem à sua vida atual ou pregressa.

O leitor apenas conhece o que ele vê e ouve. Mais do que isso: conhece esses elementos visuais e auditivos da forma como o personagem os percebe. E cada um precisa tirar suas próprias conclusões sobre cada ato da história.

E aí está a armadilha: você já não é mais o leitor; é o garoto apaixonado pela linda menina ruiva - que é verdadeiramente apaixonante. E você se enciúma quando outros caras a cercam. Fecha seus olhos quando a beija pela primeira vez. Ri com as piadas e gracejos dela. Vive cada momento de constante incerteza. E fica silente quando não há nada o que dizer.

Com uma história de amor digna de um filme, mas, ao mesmo tempo, tão corriqueira, Bastien Vivès transporta o leitor a um mundo de sensibilidade de modo sensacional: revelando os sentidos desse leitor e fazendo-o viver a história.

Cada leitor, portanto, é transformado num avatar daquele personagem. E o mais interessante: isso interfere na história.

Explica-se: a narrativa é aberta demais. Não perde em nenhum momento o fio da meada, mas dá totais condições para o leitor pensar e sentir o que quiser, interagir como desejar e tirar as conclusões que bem entender ao fim do álbum.

O que um leitor pensou certamente será diferente de outro, no todo ou em parte. E aí se percebe como a simplicidade pode ser complexa, tanto quanto qualquer mente apaixonada.

O impacto visual do álbum também é diferenciado. Quase inteiramente ilustrado com lápis de cor (à exceção de alguns traços de personagens em momentos específicos), utilizando bordas esmaecidas e irregulares - ou por vezes ignorando-as totalmente -, e adequando cada ambientação à condição da psiquê do protagonista, Dans mes yeux possui um conjunto belo, suave e reconfortante. Sem os requadros tradicionais em quadros e balões, o leitor nem percebe como se entranha pelo álbum. E é muito fácil, mesmo.

Os balões também são um caso à parte na narrativa. Especificamente seu conteúdo. Falas em corpo menor para indicar sussurros, palavras carinhosas ou afastadas. Já as fontes maiores indicam descontração e diálogos incompreensíveis, que fazem o leitor querer fugir de uma sensação desagradável, fingir que não liga para o que está acontecendo. Um recurso muito interessante e, talvez, menos intencional do que se pressupõe aqui. Mas que, enfim, faz efeito.

Um dos bons nomes do novo quadrinho francês, Vivès ainda está por ser descoberto. Ele ainda está experimentando e flertando com estilos e possibilidades, tanto clássicos como libertadores, tanto literários como artísticos.

E ainda está por fazer sua grande obra. Mas certamente já tem ao menos um álbum pelo qual será lembrado. E o leitor, um amor de cabelos ruivos cujo destino final apenas pode imaginar.

Classificação:

4,0

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