Diabolical Summer
Sinopse
O jovem Antoine disputa a final do torneio de tênis do clube local. Mal sabia que o lance final seria o gatilho de eventos que fariam o verão de 1967 mudar completamente os rumos de sua vida.
Nazistas, soviéticos, o serviço secreto francês, uma linda jovem problemática e um rival transformado em amigo viram de cabeça para baixo o cotidiano de um garoto comum.
Positivo/Negativo
O escritor veterano Thierry Smolderen (dupla de Enrico Marini nos Dossiês de Olivier Varèse e em Gipsy) retoma sua parceria com o desenhista Alexandre Clérisse, duas décadas e meia mais jovem, com quem fez Souvenirs de l'Empire de l’Atome. Juntos, constroem uma bela trama, amálgama de história de amadurecimento, trama de espionagem e aventura juvenil.
O roteiro de Smolderen é uma verdadeira carta de amor à década de sua adolescência, com destaque aos quadrinhos e pulps de crime e espionagem que o acompanharam naqueles dias. Os personagens são muito bem construídos e instigantes. Exceto pelo protagonista, todos têm múltiplas camadas de complexidade que vão sendo desvendadas a cada página em que aparecem, sendo totalmente percebidas apenas após o final.
Mas isso não quer dizer que o próprio Antoine não seja carismático. É que seus 15 anos não o permitem um décimo das nuances que os demais jogadores deste tabuleiro apresentam.
Há dois momentos marcados na trama. No primeiro, o leitor acompanha o verão de 1967, conforme relatado em um livro escrito pelo protagonista e publicado duas décadas depois. Na segunda, há o desenrolar dos últimos nós e mistérios que permaneceram após o final do seu romance. Contar como isso é costurado pelo autor soaria um recurso pobre, mas a trama é cosida sem pontas soltas e de maneira tão precisa e satisfatória, que faz valer a pena e enriquece toda a jornada.
Os momentos ordinários de um verão na adolescência, capazes de despertar a nostalgia em qualquer leitor já distanciado dessa fase de sua própria vida, são entrecortados com os extraordinários, num ritmo agradabilíssimo.
Há a evocação de Diabolik, personagem dos fumetti criado pelas irmãs Angela e Luciana Giussani, que surge como o avatar não só do antagonismo, mas de todas as influências do roteirista ao longo desse período. A mítica revista Pilote e os filmes de James Bond também se fazem presentes, deixando claro quem são os construtores da formação desses autores (o ficcional e o real).
Clérisse, sem perder a identidade do seu traço ou parecer pastiche, consegue trazer toda a influência da Pop Art e psicodelia, nas suas vertentes europeias. Alterna páginas mais tradicionais, com quadros bem marcados, delimitados apenas pelas calhas; sequências totalmente soltas, sem diagramação alguma e splashes esquemáticas, com a ação ocorrendo ao longo de um só quadro.
Em momento algum, entretanto, sua narrativa gráfica é confusa e sempre está adequada ao sentimento da cena. Suas cores são a joia da coroa e, se o leitor não as houver valorizado de cara, ao adentrar nos anos 1980, da vida adulta, a súbita mudança na utilização destas fará com que o faça.
A edição da IDW é primorosa – tem até fitilho! A capa é bela, a guarda conversa extremamente bem com o livro. Há um posfácio sensacional de Smolderen, detalhando as influências do livro, especialmente no texto, mas também na arte, e as origens destas (Nascido sob o Signo da Banca de Jornal, já diz tudo).
O título do quadrinho, em inglês, perde um pouco do significado, já que L’Été Diabolik, o original, faz referência direta ao personagem dos fumetti, o que não fica tão claro, aqui. Talvez, um Diabolikal Summer caísse melhor.
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