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Os Dias Estão Todos Ocupados

23 março 2012

Os Dias Estão Todos OcupadosEditora: Conrad - Edição especial

Autor: Bill Watterson (roteiro e arte).

Preço: R$ 44,90

Número de páginas: 176

Data de lançamento: Outubro de 2011

Sinopse

Nono álbum da Conrad reunindo as tiras da série Calvin & Haroldo.

Positivo/Negativo

Os dias estão todos ocupados reúne tiras publicadas originalmente entre abril de 1991 e novembro de 1992. Portanto, parte do sexto e o sétimo ano da tira de Bill Watterson - o álbum foi publicado anteriormente pela Best News como Os dias estão simplesmente lotados!. A série não só estava completamente formada, mas, talvez, no ápice da inteligência e criatividade - se é possível falar de um ponto alto apenas a respeito de Calvin & Haroldo.

O álbum é o segundo da Conrad no formato 30 x 23 cm, mesmo tamanho que o primeiro, O mundo é mágico, retangular e maior que os demais publicados até agora (que mediam 21,5 x 22,7 cm e eram praticamente quadrados). Isso se explica porque O mundo é mágico, até então inédito no Brasil, traz as últimas tiras da série - os álbuns que vieram na sequência publicam as histórias desde o começo, em ordem cronológica.

O que acontece em Os dias estão todos ocupados - e que pode justificar a mudança no formato - é que, nesta fase da tira, Bill Watterson conseguiu fazer valer sua visão a respeito das tiras de domingo, que ele próprio explicou em um texto publicado em Os dez anos de Calvin & Haroldo, da Best News.

O autor não admitia ficar preso ao modelo fixo dos quadrinhos dominicais norte-americanos, que permite que os editores de cada jornal modifiquem o formato visual da história e até cortem os dois quadros iniciais, se quiserem.

A partir da terceira página dominical (e colorida) deste álbum, Watterson começa a explorar visualmente todo o espaço disponível - e faz isso ostensivamente e cada vez com mais ousadia e criatividade, levando Calvin & Haroldo a um requinte visual ainda maior do que já apresentava.

Com isso, a série sacramentou de vez sua inclusão entre as maiores HQs de todos os tempos. Aos domingos, ela se libertava dos três ou quatro quadrinhos fixos que continuou mantendo como padrão nas piadas diárias.

A essa altura, todos os temas que cercam o universo de Calvin e seu tigre já estavam testados e desenvolvidos por Watterson (ou discretamente deixados de lado se, para o autor, não renderam o esperado). O leitor que conhece a série já espera encontrar a visão artística peculiar que o menino encapetado de seis anos tem dos bonecos de neve ou as filosofias a bordo do trenó.

Ou, ainda, os devaneios da imaginação do garoto para escapar do tédio das aulas, as reações impagáveis dos pais dele após cada nova traquinagem ou as mudanças de tom para a pura ternura.

Mas a tira não tem dificuldades em surpreender mesmo ao leitor veterano porque a familiaridade com essas situações davam liberdade a Watterson de explorar ainda mais as possibilidades de cada uma delas.

O ponto máximo do álbum está reservado para a série de tiras que contam como Calvin tenta driblar a tarefa de escrever uma história para a escola usando sua máquina do tempo (um caixote de papelão) para avançar duas horas no futuro e pegar o trabalho já pronto com a versão dele mesmo de pouco antes de ir para a cama.

São 16 tiras em preto e branco que formam um pequeno conjunto brilhante, um atestado do talento múltiplo de Bill Watterson: na narração, na expressão dos desenhos, na criatividade do roteiro e nos diálogos precisos. É um dos melhores momentos de Calvin & Haroldo. E não é preciso dizer que isso não é pouco.

Classificação

5,0

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