A versão mais conhecida de Peter Pan - personagem criado há mais de 100 anos pelo dramaturgo e escritor J. M. Barrie - é a que Walt Disney concebeu para o desenho animado homônimo, lançado nos cinemas em 1953.

Desde então, qualquer representação do menino que não quer crescer, seja em ilustrações, espetáculos teatrais ou fantasias de cosplay, invariavelmente recorre ao visual idealizado por Disney.

Não é exagero afirmar que, graças ao "Mago de Burbank", o personagem é hoje uma da figuras mais conhecidas da cultura pop, em âmbito mundial.

Em homenagem ao "personagem de Walt Disney", o psicólogo norte-americano Dan Kiley cunhou a expressão Síndrome de Peter Pan, que deu título ao livro de mesmo nome - lançado na década de 1980 - e define o comportamento de adultos compulsivos pela juventude (ou infância) e descuidados com as responsabilidades da vida de gente grande.

O fascínio que as aventuras de Peter Pan na Terra do Nunca exercem parece não ter prazo de validade. Vira e mexe, elas voltam na forma de quadrinhos, filmes live-action ou livros para se apresentar às novas gerações.

Esta edição especial da On Line não foi a primeira adaptação em quadrinhos de Peter Pan a circular pelas bancas brasileiras. A Abril já havia feito isso em 1978, 1985 e 1989, no gibi Clássicos Disney.

Mas não há como discutir que esta nova edição trouxe mais qualidade gráfica, destacando os efeitos de colorização computadorizada que resgatam um pouco da fotografia do desenho animado.

Algumas cenas da animação ficaram de fora - a luta de gládio entre Peter Pan e sua sombra é uma delas -, mas isso seria de se esperar e também aconteceu nas outras versões adaptadas.

O leitor que já assistiu ao desenho animado quando criança certamente não vai desgrudar da revista antes da última página, curtindo a volta ao tempo em que no Brasil a fada Tinker Bell ainda se chamava Sininho.

O model sheet dos personagens e dos cenários, seguidos à risca, reforçam esse saudosismo. Os últimos quadros da página 45, com o Capitão Gancho numa divertida sequência de expressões imbecis, poderiam até ser confundidos com um print screen da animação.

No entanto, é possível que aqueles pouco ou nada versados na história estranhem o ritmo acelerado da trama, comum em adaptações de filmes para os quadrinhos, e não tenham tempo de conhecer melhor (ou se afeiçoar a) algum personagem.

Nesse caso, vale ler com atenção, no início da revista, as páginas de apresentação dos protagonistas dessa fantástica aventura que provoca a imaginação até de quem já cresceu.

"Estou com uma sensação estranha de que sou uma criança de novo... e de que agora entendo tudo..." (George Darling, pai de Wendy, no quadro final da última página de Disney Filmes Clássicos em Quadrinhos # 4 - Peter Pan ).