Diva Satänica
Editora: Independente – Edição especial
Autor: Bräo (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 40,00
Número de páginas: 64
Data de lançamento: Dezembro de 2017
Sinopse
Ninguém sabe ao certo a verdade sobre a lenda de Diva Satänica. Uma mulher com poderes sobrenaturais? Alguns a chamam de Medusa, outros de Rainha do Mal ou apenas Dama de Preto. Mas o que se sabe é: ela é real, ninguém sai de sua mansão com vida e a mulher é muito, muito difícil de achar.
Jonathan é um pacato trabalhador com um vício destrutivo e, por meio de uma série de encontros casuais sem ligação (ou seriam sobrenaturais?), acaba conhecendo a lenda urbana de Diva Satänica, despertando um novo propósito para si.
Positivo/Negativo
Lendas urbanas como "A loira do banheiro", "A moça do cemitério" ou "A mulher do taxi" são bem populares pelo Brasil. Depois de Cornücópia, Bräo (não confundir com Brão Barbosa, autor de Jesus Rocks, Feliz aniversário, minha amada e Reparos) retorna ao erótico, desta vez com doses de horror e não tanto de fetichismo.
Com uma pegada gótica inspirada em bandas de black metal (o nome da personagem vem de uma música homônima da banda sueca Arch Enemy), o álbum tem um experimentalismo na arte visivelmente inspirado em nomes como Dave McKean e Bill Sienkiewicz.
São técnicas que misturam uso de aquarela, guache, pastel, respingos e estilete, dentre outros materiais. O resultado é impressionante.
O tom diário na vida de Jonathan é frio e acinzentado. Ele se esparrama na cadeira de seu trabalho nada empolgante para tranquilamente (?) se masturbar assistindo a vídeos pornográficos no cubículo da sua baia.
A intenção do quadrinhista talvez seja evidenciá-lo como um "invisível social", a ponto de despreocupadamente sair pela rua com seu celular plugado no material pornô e uma ou outra vez perdida ser notado por seus rasos colegas de trabalho, que só querem contar vantagens sexuais um para o outro. Indivíduos parecidos no mundo real não são mera coincidência.
Quando aparece a Diva, o clima "esquenta" com os tons infernais avermelhados e alaranjados. Interessante também quando o autor brinca com cores dos monitores, seja com retículas ou com o preto e branco.
Mas o que o álbum ganha de robustez na arte, peca por entregar um roteiro simples e sem muitos atrativos fora os de cunho erótico.
O que mais incomoda é como as várias coincidências se enfileiram no cotidiano do protagonista: os colegas falam da Diva no trabalho; casualmente passageiros (possivelmente fãs de black metal) tocam no assunto; ele chega na sua casa, dá uma zapeada no canal pornô e o nome dela também é citado numa transa. Tudo isso parece mais forçado do que uma característica sobrenatural da entidade.
Quando Jonathan vai para a deep web – a zona da internet que não pode ser detectada facilmente por mecanismos de busca padrão –, o caráter sobrenatural fica mais aceitável por ser algo que está partindo dele e não de terceiros.
Sem querer comparar (mas já comparando), faltam no gibi imagens mais impactantes como visto nas splashpages de Cornücópia, independentemente da beleza das composições das páginas e da sua técnica mista. Apesar de ter uma estrutura simples, a HQ de estreia de Bräo traz um desfecho catártico, que abre um diálogo direto com o leitor. Bem original.
Aqui, ele não ousa, apenas entrega o terror que não foge do convencional. Para quem gosta dessa equação e não espera nada além disso, é um prato cheio. Principalmente no clímax sanguinolento.
No campo dos easter eggs, na estante do personagem principal há vários quadrinhos fetichistas e eróticos. Paolo Eleuteri Serpieri, Guido Crepax, Milo Manara, Giovanna Casotto e Howard Chaykin adornam as capas.
Até o próprio Bräo faz autorreferências, mas, com muito bom humor, se deprecia por duas vezes. O que não condiz com a realidade da sua promissora carreira nos quadrinhos, diga-se (e frise-se) de passagem. Outra curiosidade é o acróstico que o quadrinhista faz na parte dos agradecimentos.
Diva Satänica tem capa cartonada sem orelhas, aplique de verniz, formato 21,5 x 29 cm, papel couché de excelente gramatura e impressão. Há alguns escorregões na revisão que poderiam ser evitados. A edição independente foi resultado de uma campanha bem-sucedida de financiamento coletivo no Catarse.
Nas páginas de making of, vários esboços, estudos de personagens e cenários, amostra de roteiro, layout e passo a passo da produção de uma página, tudo com comentários do autor.
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