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Drama

27 março 2020

DramaEditora: Devir – Edição especial

Autores: Raina Telgemeier (roteiro e desenhos) e Gurihiru (cores) – Originalmente em Drama (tradução de Guilherme Miranda).

Preço: R$ 55,00

Número de páginas: 240

Data de lançamento: Setembro de 2019

Sinopse

Callie integra a equipe de palco como cenógrafa em uma peça de teatro de uma escola fundamental. Enquanto participa da intensa preparação para dar vida a um clássico americano, vive as incertezas amorosas do começo da adolescência.

Positivo/Negativo

Drama une dois temas muito tradicionais da ficção norte-americana: os bastidores de um espetáculo e a escola. Esses dois mundos se encontram na figura de Callie e de seus amigos, envolvidos na produção de uma peça escolar.

No entanto, o foco nessas histórias costuma ser sobre quem fica sob os holofotes: os atores. Ou, no máximo, sobre quem escreve ou dirige (a peça ou o filme).

Callie não tem uma dessas funções glamorosas, mas é fundamental no processo da montagem: ela cria e monta os cenários e objetos de cena. Um trabalho que o leigo sobre o mundo do teatro quase sempre nem se dá conta que existe.

A HQ compartilha do amor da menina por esse mundo, começando por sua estrutura. A trama é contada em oito atos, com direito a uma abertura com orquestra tocando, cortina subindo e personagens entrando no palco – antes de a cena passar a ser “real” e narrada de maneira tradicional.

A estrutura de espetáculo volta a aparecer com um intervalo, quando uma plateia aproveita para ir ao banheiro e à bombonière, e depois volta aos seus assentos. E também nos quadros iniciais que espelham os do começo.

A trama segue as primeiras reuniões da equipe do espetáculo e vai até um encontro da equipe após a temporada. Nesse intervalo de tempo, Callie se divide entre fazer suas ideias para a peça darem certo e suas paixões juvenis.

Fazer um canhão cenográfico funcionar tem tanta importância para a trama quanto o fora que ela leva no começo da história, ou lidar com o interesse por um novo garoto que aparece em sua vida.

Raina Telgemeier consegue criar uma série de tipos cativantes que poderiam facilmente aparecer em outros álbuns. Os traços da autora namoram os quadrinhos infantis: retratam os personagens de maneira simples e levemente caricata, mas é bastante detalhista nos cenários e elaborado na construção das cenas.

Sua narrativa visual é bem elaborada e cinematográfica. Ela varia bem os ângulos para explorar o ambiente, sabe manter a posição da imagem por alguns quadros quando precisa de momentos mais tranquilos ou usar uma “câmera” que se aproxima para certas ênfases.

A programação visual das páginas parece bem básica porque a autora não explora a forma dos requadros, sempre quadrados ou retangulares. Mas sua disposição nas páginas e o tamanho seguem a necessidade dramática da trama.

São exemplares os momentos em que ela escolhe usar quadros de página inteira. Quando Callie vai ao campo de beisebol só para descobrir que o garoto de quem ela gosta deu uma desculpa esfarrapada. Quando mostra a Jesse um livro sobre cenografia da Broadway e os dois “entram” nas páginas. Ou no flashback em que é levada a uma apresentação de Os Miseráveis, que despertou seu amor pelo teatro.

A página inteira é usada só em momentos realmente especiais, como um ponto de exclamação na história.

Telgemeier realmente usa com parcimônia e em momentos muito específicos quadros maiores ou efeitos narrativos que fujam do andamento tradicional. Em apenas uma passagem o desenho da personagem “não cabe” e invade o outro: quando ela conta para a equipe suas ideias para o musical.

Ou dois quadros que, na verdade, formam um só que foi dividido pela sarjeta (o espaço branco entre os quadros).

Ela usa esse recurso também apenas uma vez: quando Callie reencontra o garoto que não quis namorá-la no começo da história. A separação do quadro em dois é a metáfora visual, bastante evidente, da separação entre eles.

Mas não é só uma separação: segundos se passam entre um quadro e outro. No primeiro, Greg está falando fora do quadro. No segundo, ele está dentro, mas calado. Ou seja: é cinema de novo. Não é só uma imagem separada em duas: é um “movimento de câmera” para o lado.

Da mesma forma, só uma vez a autora diminui um quadro, o faz menor que os demais da página, com muito espaço branco entre ele e os demais: quando quer, ao mesmo tempo, isolar um personagem e condenar uma atitude pequena que ele teve. Certamente, não é por acaso que o quadro seja o último da página: lá embaixo e no canto.

Muitos autores banalizam esses recursos, mas Raina Telgemeier não os “gasta”. E, quando finalmente usados, eles se sobressaem para dar mais cor e força a uma simples, mas divertida e bonita história de amor por uma arte.

Classificação:

4,0

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