Elric – O trono de rubi
Editora: Mythos Editora – Edição especial
Autores: Primeira parte: Julien Blondel (adaptação e roteiro) e Didier Poli, Robin Recht, Jean Batiste (arte); segunda parte: Julien Blondel e Jean-Luc Cano (adaptação e roteiro), Julien Telo, Didier Poli e Robin Recht (desenhos) e Scarlett Smulkowski, Robin Recht e Jean Batiste (cores).
Preço: R$ 84,90
Número de páginas: 124
Data de lançamento: Dezembro de 2017
Sinopse
Elric, o imperador albino da tão poderosa quanto decadente Melniboné, vive intrigas causadas por deuses e conterrâneos que cobiçam seu lugar no trono.
Positivo/Negativo
O ano de 2017 se consolidou como aquele em que tanto novas editoras, como Darkside Books e Pipoca & Nanquim, quanto as mais tradicionais, como Panini e Abril, resolveram apostar fortemente no mercado de luxo dos quadrinhos nacionais. O período se encerrou em dezembro com um dos lançamentos mais retumbantes dos últimos tempos, pela Mythos, estreando seu selo Gold Edition: Elric – O trono de rubi.
Neste selo, a editora paulista vai trabalhar com material europeu, como as adaptações do filme de terror A noite dos mortos-vivos e do livro clássico de ficção científica A guerra dos mundos.
E as livrarias, bancas e lojas especializadas receberam um produto que já começa a se diferenciar por suas dimensões bem maiores que a média dos livros e quadrinhos: 23,4 x 31,6 cm. Um belo álbum em capa dura, com tratamento dos detalhes em dourado, que se destaca nas prateleiras.
O volume nacional compila as duas primeiras edições produzidas pela tradicionalíssima editora francesa Glénat que, por sua vez, correspondem à adaptação do primeiro livro da série literária de espada e magia, lançada originalmente nos anos 1960 pelo escritor inglês Michael Moorcock (romances que estão saindo no Brasil pela Generale).
E o próprio criador faz um elogio rasgado ao trabalho de transposição feito pelo batalhão de artistas franceses: “De todas as notáveis adaptações gráficas de Elric, há uma que, posso dizer, sem reservas, mais se aproximou de minha visão original. E é essa que você tem diante dos olhos”. E ainda completou: “é a história do albino que eu mesmo teria escrito, caso tivesse pensado nela antes!”
Outro prefácio presente na edição também faz um elogio bastante eloquente, ainda que idiossincrático, ao material: “Tenham certeza de que esbarraram com uma daquelas raras adaptações que não cometem um desserviço ao seu assassino e assombroso original. Ao contrário, eu gostaria de me juntar a Moorcock ao declarar que esta é a recriação mais bem-sucedida e fiel ao espírito de seu malfadado ícone”. As palavras são de Alan Moore, conterrâneo e eventual parceiro do criador de Elric (Michael Moorcock já escreveu uma HQ de Tom Strong, por exemplo).
Mesmo existindo uma grande base de material anterior para comparação (até mesmo um crossover entre Elric e Conan, executado por Roy Thomas e Barry Windsor-Smith), não é difícil constatar que este material é completamente diferenciado.
Pode-se dizer que se trata de algo comparável à adaptação de A canção de gelo e fogo, de George R. R. Martin para série Game of Thrones, da HBO. Ou ainda é a chance de jovens leitores do Século 21 terem uma ideia de como se sentiram os atuais veteranos diante do lançamento de A Espada Selvagem de Conan, pela Abril, nos anos 1980.
Nesta versão francesa, o império de Melniboné, a Ilha do Dragão, se mostra um cenário de castelos que fazem sombra nos delírios arquitetônicos de Dubai, Vaticano e Índia juntas. Os navios de guerra que defendem os labirintos marítimos que a cercam são do tamanho de petroleiros. Os habitantes de sua capital, Imrryr, parecem inspirados na cultura BDSM e em filmes de terror como Hellraiser. Aliás, a arte é um ponto alto.
E, no centro disso tudo, está ele, Elric, o colecionador de apostos. O portentoso trono de rubi que dá nome ao álbum é tão cobiçado quanto o de ferro, e tão estiloso quanto. Rei e feiticeiro, ele tenta manter seu império em ordem, mas não são esses os planos de outros nobres e mesmos dos deuses do caos e dos elementos que os cercam.
Obrigado a partir para a ação, o albino de olhos negros vai constatar que a simples menção do nome dos meniboneanos não traz mais o terror à alma dos ouvintes como antes. Daí o tanto de opositores que ele encontra pelo caminho. Neste sentido, o diálogo entre o melancólico protagonista e uma criança humana é um dos pontos altos desta aventura.
A edição da Mythos para a obra-prima da Glénat está praticamente perfeita. Foi traduzido com cuidado o texto que abusa do uso da segunda pessoa e das mesóclises. Também é importante mencionar as 19 páginas de extras dedicadas à concepção dos personagens e dos cenários, os bastidores do processo de finalização e colorização.
Os únicos senões são alguns erros de revisão e a opção pra lá de equivocada da editora, de colocar uma página de propaganda num material tão luxuoso. Nada que comprometa o resultado final, mas vale atentar para melhorar esses pontos. Que venham novas edições, com a espada Stormbringer em ação e dragões.
Classificação
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