Depois da bem-sucedida biografia de Johnny Cash, a dedicação de Reinhard Kleist a um projeto semelhante focado no "Rei do Rock" seria um passo natural. Afinal, os dois cantores não apenas começaram no mesmo estúdio, mas possuem semelhanças em suas trajetórias para o sucesso.

Mas, enquanto o trabalho dedicado a Cash foi um trabalho solo que exigiu 100% de sua dedicação, Elvis foi organizado como uma antologia que contou com a ajuda de Titus Anckerman para a elaboração dos roteiros e de outros dez quadrinhistas para a arte.

O envolvimento de tantas pessoas num único projeto transpareceu na falta de profundidade com que a história de Elvis é contada. O álbum conta, em 11 capítulos, independentes entre si, a trajetória do cantor da infância à glória e, depois, à decadência.

Mas os acontecimentos passam rápido demais para que o leitor não iniciado na vida de Elvis possa acompanhar com calma a evolução do homem e do mito.

Dentro da proposta de ser uma antologia, pouquíssima biografia é contada realmente. Em vez disso, o álbum limita-se a rápidos episódios da vida de Elvis. Algumas histórias são tão concisas que chegam a levantar muito mais perguntas do que realmente apresentar um insight sobre a trajetória do "Rei do Rock".

Para dar conta do trabalho de contar esses momentos, Kleist apresenta outros nove quadrinhistas. Ele próprio se encarrega de dois capítulos e seu traço mantém a qualidade de seus outros trabalhos. E a presença de cores contribui para enaltecer o seu desenho.

Dentre os artistas apresentados, a variedade de estilos é a grande marca. De traços realistas a versões mais cartunescas, vê-se muitas versões de um mesmo personagem.

Vale destacar o trabalho de Søren Mosdal, que abre o álbum. Seu estilo cartunesco funciona bem para contar os anos iniciais da vida de Elvis.

Outros que se destacam são Thomas von Kummant, que, com um traço bastante realista, mostra a ascensão do jovem astro; Isabel Kreitz, com um estilo mais romântico para marcar o retorno do astro após o serviço militar; e Uli Oesterle, que usa cortes e planos pouco comuns para mostrar um Elvis já gordo e falido.

Cada artista, com seu estilo e influências próprias, revela um cenário dos pouco conhecidos quadrinhos alemães.

Elvis não é uma história em quadrinhos ruim, mas não consegue passar as informações e sentimentos necessários para que o leitor possa tirar o máximo da obra.

A 8Inverso mantém a qualidade da edição em que estreou no mercado, com a biografia de Johnny Cash. Do acabamento às biografias de todos os artistas envolvidos no projeto, todos desconhecidos no Brasil, o álbum deixa a desejar apenas no preço, salgado para um produto que não empolga.