ENTREQUADROS – A WALK ON THE WILD SIDE E WAKE UP
Editora: Balão Editorial - Edição especial
Autor: Mário César (texto e arte), sobre contos de Pedro Cirne e Nick Farewell.
Preço: R$ 8,00
Número de páginas: 32
Data de lançamento: Maio de 2010
Sinopse
Esta segunda edição de EntreQuadros compila duas histórias baseadas em contos de autores contemporâneos.
Wake Up é a adaptação de um conto de Nick Farewell sobre cotidiano e rotina.
Já A Walk on the Wild Side, baseado em conto de Pedro Cirne, mostra um rapaz perseguindo uma garota até uma festa - na qual os dois vão encontrar personagens bem familiares.
Positivo/Negativo
Para falar de um grande mérito de EntreQuadros, é importante dar uma contextualizada no cenário em que Mário César a produz.
Estamos passando por uma fase em que as adaptações de obras da literatura para a linguagem dos quadrinhos estão na moda. Mesmo! Três Alienistas, dois Policarpos Quaresmas e vários outros títulos por aí.
Não chega a ser uma praga, porque praga é uma coisa ruim. Se fosse, não renderia bons álbuns. Mais que isso: vários quadrinhistas estão ganhando algum dinheiro com isso. Até mesmo adiantamentos. Pode não ser uma fortuna, mas é mais do que havia uns anos atrás, quando a maioria dos artistas brasileiros produzia suas HQs no risco e na esperança de vender um punhado de edições para pagar as contas.
Mas não dá pra negar que há uma fórmula aí que está cansando.
A ideia é fazer esses livros serem adotados em escolas, vendê-los pro governo, enfim, esquemão que consegue tirar dinheiro dessa tal de HQ paradidática, como se quadrinho só fosse bom quando usa a literatura de bengala - ou como se fosse uma forma mais simples de meter Machado de Assis na cabeça de alunos delinquentes.
Estupidez, claro.
Imagine só: vai que descobrem que não dá certo ensinar Machado de Assis com quadrinhos. Aí o que os gênios da educação vão fazer? Mímica? Tatuagens?
Não só as HQs são mais que isso. Mas também a literatura, coitada.
A junção de quadrinhos e literatura não pode ficar relegada a esse papelzinho mixuruca de fingir que ensina alunos a fingir que leem Machado de Assis.
E aí que entra Mário César e este segundo volume de EntreQuadros.
É um livrinho simples. Bem acabado, bonito, mas simples. Duas histórias em 32 páginas A5. Lombada grampeada. Impresso em preto e lilás - o que dá um efeito bonito.
Os roteiros não são originais: foram baseados em contos de dois escritores. Que não são clássicos. Aliás, nem chegam a ser famosos. São só amigos do autor, que fizeram textos que o inspiraram.
É outro tipo de diálogo entre as duas artes. A rigor, não é melhor nem pior que uma adaptação de clássicos. Mas, diante do cenário atual, é mais original. E aí EntreQuadros, de cara, ganha mais frescor.
É adaptação de obra literária, mas é diferente do que está por aí. Tem mais pegada, é mais ousado, é mais independente.
Os textos de Cirne e Farewell, por sinal, também têm relação com obras literárias. Mas é melhor não aprofundar nesse ponto, porque pode tirar a graça da leitura.
Os dois contos servem muito bem a Mário César, principalmente porque rendem argumentos mais consistentes que os da primeira EntreQuadros.
Com bons pontos de partida, Mário rende mais. Especialmente em Wake Up, história concisa, precisa e com boas sacadas tanto no texto quanto no desenho.
A arte da revista, a propósito, é graciosa, tem movimento, é bonita. Sua narrativa funciona. É, enfim, uma boa HQ.
Não é perfeita: algumas vezes, quando Mário arrisca enquadramentos mais ousados, seu traço deixa a desejar.
Outro problema: a revisão deixou passar alguns erros - mancada da Balão, editora iniciante que substitui a edição independente via coletivo Quarto Mundo da revista de estreia. São detalhes que não comprometem o bonito resultado.
Se Mário César ainda não é um autor pronto, daqueles que sempre acertam, isso não é um problema. Seus avanços visíveis e constantes mostram que é uma bela aposta. E, cá pra nós, suas boas escolhas na hora de produzir esta EntreQuadros confirmam isso.
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