Era uma vez na América
Editora: Abril – Edição especial
Autores: Giorgio Pezzin (roteiro), Massimo de Vita, Silvia Ziche e Fabrizio Petrossi (desenhos) – Originalmente em Topolino # 1996, # 1999, # 2015, # 2025 (1994), # 2055, # 2059 (1995), # 2156, # 2162, # 2177, # 2195 (1997), # 2210, # 2223, # 2236 (1998) e # 2275 (1999).
Preço: R$ 59,90
Número de páginas: 496
Data de lançamento: Março de 2015
Sinopse
A trajetória da família Mickey desde a Inglaterra e o embarque para os Estados Unidos até os anos 1920.
Positivo/Negativo
Os artistas italianos parecem fascinados de uma maneira especial pelo cenário histórico dos Estados Unidos. Nos anos 1960 e 1970, ficaram populares os faroestes-espaguete, com destaque para os do diretor Sergio Leone, de filmes como Três Homens em Conflito (1967) e Era uma Vez no Oeste (1968). E em 1984, ele lançou Era uma Vez na América, um épico sobre o universo dos gangsteres.
De 1994 a 1999, os italianos Giorgio Pezzin e Massimo de Vita publicaram os capítulos desta série em quadrinhos também chamada Era uma vez na América, mas que só coincide com a produção de Leone no título, na procedência e nesse encanto pela história dos EUA.
A HQ coloca, em 14 partes (12 delas desenhadas por Vita e quatro inéditas no Brasil), antepassados do Mickey vivenciando momentos fundamentais dos Estados Unidos, desde sua colonização, passando pela independência, a conquista do Oeste e chegando, enfim, à ascensão de Hollywood, na década de 1920.
É um projeto bastante ambicioso e que, em seu andamento, traz algumas curiosidades. Há sete Mickeys na saga inteira, todos antecedentes do ratinho ícone da Disney que todos conhecem tão bem. Há o alfaiate que emigra para os Estados Unidos, um descendente com a mesma profissão, depois um desenhista, um jornalista na época da independência, um caubói, seu filho que se torna magnata e, no fim, o Mickey “original” ainda criança.
Curiosamente, cada Mickey encontra como parceiro uma versão do Pateta, como interesse romântico uma Minnie e como adversário um João Bafo-de-Onça. Porém, não são descendentes uns dos outros.
Há uma Minnie inglesa, outra índia, outra que surge como secretária de Mickey. O cuidado com a continuidade dispensado ao Mickey, aqui, é um e aos outros personagens é diametralmente oposto. Causa um ruído.
Nenhuma das versões do ratinho acha qualquer das Minnies estranhamente parecida com sua mãe ou avó. Em uma ou duas passagens, um Mickey considera um Pateta rapidamente parecido com outra versão anterior, mas só.
É um expediente semelhante ao de História e Glória da Família Pato, em que em todas as eras abordadas havia, numa estapafúrdia coincidência, um versão do Donald, com um tio muquirana e três sobrinhos gêmeos, enfrentando inimigos sempre antepassados do Patacôncio e dos Irmãos Metralha.
Claro que talvez seja rigor demais cobrar esse tipo de coerência de continuidade de uma HQ da Disney (e talvez A Saga do Tio Patinhas, muito detalhista nesse aspecto, tenha acostumado mal os fãs). O fato é que Pezzin não tem a menor preocupação com esse fato, e isso é tão escancarado que o leitor certamente também acaba não se importando e tudo acaba mesmo como uma curiosidade narrativa.
Outro aspecto que originalmente amenizava esse fator era a publicação com meses de diferença entre um capítulo e outro. A leitura das partes em sequência reforça as semelhanças.
Mas cada capítulo é bem escrito, ilustrado pelos traços fortes, expressivos e detalhistas de Massimo De Vita. Possíveis polêmicas são evitadas, como violência em excesso, mesmo quando se trata da guerra da independência ou do Velho Oeste. A série ignora a Primeira Guerra Mundial e termina antes da era dos gangsteres (lembrando: tema do filme homônimo de Leone) ou da Segunda Guerra.
Outro dado curioso é que a saga se detém nada menos que seis capítulos no Mickey caubói, quase a metade de suas páginas. E é dele o momento mais dramático: a trama que enfoca o Forte Álamo, arrasado pelo exército mexicano na guerra da independência do Texas, em 1836.
Era uma vez na América é um dos três volumosos álbuns em capa dura lançados pela Abril no começo de 2015, no formato 16,5 x 24,5 cm (os outros são A Saga do Tio Patinhas e Os 80 anos do Pato Donald por seus principais artistas). Como extras, apenas breves textos biográficos sobre o roteirista e os desenhistas. Mas o conteúdo surpreende pela ambientação e pesquisa, e não faltam aventura e bom humor, mesmo que dificilmente seja considerada uma “biografia definitiva” da família Mickey, como A Saga do Tio Patinhas se tornou para o pato pão-duro.
Classificação