Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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ERO-GURO

1 dezembro 2006


Título: ERO-GURO (Conrad
Editora
) - Edição especial
Autores: Suehiro Maruo (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 33,00

Número de páginas: 224

Data de lançamento: Dezembro de 2005

Sinopse: Nove histórias bizarras contadas sem rodeios. Os temas das narrativas são as perversões sexuais e insanidades dos personagens. Toda uma coleção de bizarrias é apresentada: há desde pedofilia à escatologia (como pessoas que comem fezes), passando pelo sadismo e pelo complexo de Édipo.

Maruo constrói seu próprio universo, doentio e sensual, e nesta obra está o portal para ele.

Positivo/Negativo: Ero-Guro é uma obra nada convencional. Se durante a leitura você se perguntar "Por que diabos estou lendo isso?", não estranhe. Isso se deve ao caráter e conteúdo dos nove contos do livro.

A realidade erótico-grotesca de Suehiro Maruo é mostrada de forma escancarada e invasora. As cenas repletas de insanidades e esquisitices desafiam o sangue frio do leitor, que dificilmente sairá intacto depois dessa experiência.

Tecnicamente, as histórias são simples, algumas delas com um conteúdo sofrível (por exemplo, as do garoto da latrina), seguindo uma linha mais ou menos parecida: a narrativa geralmente começa com uma amostra de atrocidades nas ações das personagens, que se intensificam e terminam em final trágico ou meditativo.

A presença de passagens reflexivas (como as frases de desfecho dos contos), dão um tom subjetivo às histórias, inclusive tornando impossível compreender os pensamentos do autor.

Suehiro Maruo, aliás, é uma personalidade hermética, que vive encerrado em seu apartamento cercado de itens antigos, e talvez por isso seja uma pessoa de filosofia aparentemente incompreensível.

Mas nem tudo na obra de Maruo é envolto em questões sem respostas. Ero-Guro faz referência a grandes pensadores e obras. Na história O Grande Masturbador, derivada de uma pintura homônima de Salvador Dali, o autor consegue transmitir o surrealismo de forma grotesca com certa competência.

A filosofia de prazer e horror separados por uma tênue linha, deriva do pensamento do francês Georges Bataille. Este se convenceu dessa máxima ao observar a fotografia de um chinês sendo esquartejado vivo, que em vez de expressar dor demonstrava prazer em seu rosto.

Se os roteiros são subjetivos, a arte reforça ainda mais essa característica. Maruo, em muitos momentos, utiliza o preto-e-branco como divisor entre inocência (branco) e perversão (preto), como nas cenas de sexo em que homens são pretos e mulheres brancas.

As páginas são repletas de antíteses, o que reforça a filosofia do erótico-grotesco: lindas paisagens são habitadas por insetos nojentos que passeiam pela pele limpa das garotinhas japonesas.

Os desenhos são mais poderosos que o conteúdo escrito do livro, demonstrando o enorme potencial artístico de Maruo. Ele é capaz de compor quadros cheios de figuras e imagens misteriosas.

O ponto alto é a última história, A cidade que sucumbe, que ocupa quase metade do livro e conta com o roteiro mais elaborado. O cenário é o Japão pós-Segunda Guerra Mundial, e Maruo retrata a decadência da época excepcionalmente.

A trama gira em torno do aparecimento de um anão sádico na vida de uma mulher que vive com o filho e teme pela vida do marido, que foi lutar na guerra e ainda não retornou.

Enquanto espera pelo seu homem, ela precisa resistir às investidas do anão, sobreviver na cidade que parece evaporar, superar seu medo do fim do mundo e de bombas atômicas e cuidar de seu filho.

Nessa história, os diálogos em inglês foram mantidos, o que pode prejudicar um pouco os que não compreendem o idioma.

Ero-Guro possui sobrecapa especial com uma linda arte. As reportagens do prefácio servem como uma boa introdução e preparam o leitor para o que está por vir.

A obra de Suehiro Maruo define uma linguagem inovadora no mundo dos quadrinhos, altamente perturbadora e pouco usual. Lê-la é desafiar a própria consciência e a realidade da sociedade atual. Por isso, um alerta: não leia Ero-Guro se não tiver um estômago forte. As conseqüências podem ser irreversíveis.

 

Classificação:

4,0

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