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ESTÓRIAS GERAIS

1 dezembro 2007

Título: ESTÓRIAS GERAIS (Conrad Editora) - Edição especial

Autores: Wellington Srbek (texto) e Flavio Colin (arte).

Preço: R$ 24,00

Número de páginas: 152

Data de lançamento: Agosto de 2007

Sinopse: Na década de 1920, o jovem jornalista Ulisses de Araújo é enviado da capital Belo Horizonte para a cidade (fictícia) de Buritizal. à margem oeste do rio São Francisco, no norte de Minas Gerais. Sua missão: apurar a história de um certo Antonio Mortalma, que lidera o grupo de bandoleiros que aterroriza aquelas paragens.

Alguns moradores do local garantem que ele tem parte com o diabo. Outros dizem que é próprio "coisa ruim". Mas o fato é que Ulisses se vê no meio de um conflito entre os bandos de Mortalma e de Manoel Grande. Pra piorar a situação, os dois estão sendo caçados pelo coronel do Exército Odorico Pereira.

Positivo/Negativo: Durante o final dos anos 80 e grande parte dos 90, era comum se ouvir em rodas de leitores (e até de jornalistas) que o problema do quadrinho brasileiro era a falta de bons roteiristas. Não era verdade, pois autores como Laerte, Lourenço Mutarelli e Angeli produziram bons materiais. Mas é fato que faltava constância e, principalmente, mais autores.

De 2000 em diante, esse cenário foi modificado. Aos "veteranos" se juntaram
nomes como André Diniz (Fawcett e Subversivos), os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon (Dez Pãezinhos), Wander Antunes (Canalha) e Wellington Srbek, que surgiu para o mercado com um álbum independente desenhado por ninguém menos que Flavio Colin.

Antes de publicar Estórias Gerais, em agosto de 2001, com o auxílio da lei de incentivo à cultura da prefeitura de Belo Horizonte, Srbek ficou com a obra três anos na gaveta, em busca de uma editora. Como é sabido, não conseguiu. Mesmo assim, o álbum ganhou o HQ Mix de Melhor Graphic Novel Nacional daquele ano e, graças ao boca a boca dos leitores (todos que liam gostavam), se tornou um cult, algo raro em nosso mercado.

Nem isso fez com que as editoras brasileiras se agilizassem, talvez por não crer no potencial da história - um engano dos grandes. Assim, em 2006, os leitores espanhóis conheceram Tierra de Estorias (Edicions De Ponent) antes que as livrarias daqui tivessem o álbum em suas prateleiras.

Mas, como diz o ditado, antes tarde do que nunca. Em agosto de 2007, exatos seis anos após o lançamento independente, a Conrad colocou no mercado uma edição caprichada de Estórias Gerais, impressa num papel reciclado (o resultado ficou ótimo e "encorpou" o álbum) e que traz como bônus um depoimento de Colin e Estória de Onça, um conto de quatro páginas coloridas assinado pela dupla de criadores, que havia saído anteriormente na revista Caliban, editada pelo próprio roteirista.

Era a roupagem que este clássico do quadrinho nacional (apesar da vida relativamente curta) merecia.

Srbek divide Estórias Gerais em seis capítulos (Antônio Mortalma, Tenente Floriano, Coronel Soturno, Odorico Pereira, O Pai-do-Mal e O Duelo), que esmiúçam os principais personagens da trama e nos quais são deixadas pontas que só serão (bem) amarradas no final.

Com idas e vindas do presente para o passado, o autor revela-se um ótimo contador de histórias, pois o leitor sente-se envolvido pela trama. Os personagens são todos bem construídos e o "mineirês" falado pelos mais simples, em contraposição ao jeito empolado do jornalista, deixa a obra ainda mais atraente.

No texto de abertura (oportunamente batizado de Travessia - última palavra de Grande Sertão Veredas, obra-prima de Guimarães Rosa e uma das mais belas canções de Milton Nascimento), Srbek admite a influência no seu trabalho de nomes como Guimarães Rosa, Jorge Amado, Monteiro Lobato, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna e outros escritores brasileiros. Uma bela escola, sem dúvida.

Quanto à arte, é difícil não se encantar com os desenhos de Flavio Colin. O velho mestre, falecido em 2002, dominava como poucos as técnicas de luz e sombra e com um traço que, à primeira vista parecia caricato, retratava cada personagem com um rosto diferente - algo que a imensa maioria dos desenhistas do planeta não consegue fazer.

Vale prestar atenção às diagramações de suas páginas, às mudanças de "tomada de câmera" e à forma como seus desenhos conseguem transmitir emoção. Colin esbanjava categoria com as técnicas de narrativa. Por exemplo: em Tenente Floriano, nas cenas de flashback, em vez de utilizar quadros com cantos arredondados (recurso adotado em quadrinhos em preto-e-branco para mostrar que a cena se passa tempos antes), ele fez as bordas pontilhadas e "explicou" ao leitor o que era preciso entender.

Ler Estórias Gerais hoje é experimentar o bom quadrinho nacional e notar como é possível falar de temas brasileiros sem ser piegas ou didaticamente chato. Reler Estórias Gerais hoje é comprovar que a trama atemporal (mesmo passada nos anos 20) parece ainda melhor e pode ser apreciada em qualquer época, sem risco de ficar datada. Uma característica que só as grandes HQs possuem.

Este álbum não é apenas uma chance para que o grande público conheça a obra. É, desde já, candidatíssimo ao HQ Mix de Melhor Edição Nacional e a ser selecionado no Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que anualmente adquire grandes tiragens de livros que serão distribuídos pelas bibliotecas públicas do Brasil. E ser lida por mais e mais gente, especialmente quem não é fã de quadrinhos, seria um prêmio merecido para Estórias Gerais.

 

Classificação:

4,0

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