Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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EXIT WOUNDS

1 dezembro 2008

Autora: Rutu Modan (texto e arte).

Preço: US$ 19,95

Número de páginas: 168

Data de lançamento: Maio de 2007

Sinopse: Tel Aviv, Israel, 2002.

O jovem taxista Koby Franco recebe um chamado que precisa se atendido por ele mesmo. Quando chega no ponto combinado, encontra uma garota servindo como militar.

Numi Herman, a tal menina, garante que teve um relacionamento com o pai do rapaz. Mais que isso: por conta de um cachecol que viu em uma transmissão de TV, tem certeza de que seu ex-namorado morreu em um atentado terrorista.

Juntos, Koby e Numi vão atrás da confirmação da morte de Gabriel.

Positivo/Negativo: Antes de qualquer coisa: Exit wounds, primeira HQ longa de Rutu Modan, é considerada uma das grandes histórias em quadrinhos de 2007. O álbum, lançado pela ótima editora canadense Drawn & Quarterly e inédito no Brasil, apareceu em boa parte das listas de melhores do ano - ou pelo menos das seleções que podem ser levadas a sério.

É um feito e tanto para uma autora que, até então, era praticamente desconhecida no Ocidente. Em Israel, onde vive até hoje, Rutu tinha publicado algumas tiras em jornal, editado a versão local da revista Mad e participava do coletivo Actus Tragicus Comics. Mas, em outros países, sua carreira editorial se limitava a alguns livros infantis de pouca repercussão e à participação em antologias junto com seu grupo, publicadas pela Top Shelf.

Um dos motivos do sucesso é que o álbum se filia a uma tendência bastante forte dos últimos anos: a das HQs baseadas na vida real de regiões de conflito. É um caminho trilhado por Joe Sacco, por exemplo, um autor que, na série Palestina, retratou justamente o outro lado do conflito do Oriente Médio - mas que é fã declarado de Exit wounds. Também veio do outro lado da trincheira Persépolis, de Marjane Satrapi, que acaba de virar um elogiadíssimo desenho animado. O álbum O Fotógrafo também vem da região, e é contado a partir da vivência de um fotógrafo francês.

Nos três casos, a história contada foi vivida pelos próprios autores. Exit wounds não é tão direto. Rutu baseou-se em fatos, como a história de uma vítima anônima de um atentado que viu em um documentário, e também puxou elementos que estavam na sua memória (um ex-namorado que sumiu sem dar notícias).

Mas, no fim das contas, a obra que é, a priori, uma ficção, e é isso que dá uma voz própria a Exit wounds. Apesar de ser forjado na mesma fornalha de guerra e terrorismo, o álbum foi criado por alguém. A trama não traz um olhar sob a realidade, e sim uma recriação baseada em um cenário. Ainda que dialogue com seus antecessores, a voz de Rutu Modan faz um solo bastante próprio, que vibra numa freqüência diversa.

É assim, com sua pegada diferente, que Exit wounds se impõe.

Além da abordagem menos convencional dos dramas do Oriente Médio, Rutu se mostra uma artista excepcional, uma narradora competentíssima e uma roteirista sensível - ou seja, tem as três características essenciais para fazer grandes quadrinhos.

Seu desenho lembra, ao mesmo tempo, o Tintim, de Hergé, e as linhas finas com detalhes e cenários modernos de seu colega de editora Adrian Tomine. O resultado é cativante, sofisticado e moderno. Suas cores são contidas, belíssimas.

É na história que aparecem os poucos pontos fracos do álbum. De vez em quando, a trama resvala na vida real e se perde em dois ou três clichês a mais do que se pode tolerar. Mas a verdade é que Rutu logo se sai bem mesmo com eles. Quando o lugar-comum começa a ficar grave, a autora dá uma reviravolta e o desfaz. É assim que conduz a obra até o final.

Quando chega lá, resta ao leitor a certeza de que encontrou um nome que merece ser seguido com atenção.

Infelizmente, ainda não há nenhuma editora que tenha anunciado a intenção de trazer Exit wounds ao Brasil. Mas, depois da boa repercussão do álbum, Rutu fez um blog ilustrado no New York Times, o Mixed emotions. O acesso serve como aperitivo. E é gratuito.

Classificação:

4,0

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