FÁBULAS - 1001 NOITES # 1
Título: FÁBULAS - 1001 NOITES # 1 (Pixel
Media) - Minissérie em três edições
Autores: Bill Willingham (texto), Charles Vess, Michael Wm. Kaluta e John Bolton (arte).
Preço: R$ 6,90
Número de páginas: 48
Data de lançamento: Julho de 2007
Sinopse: Depois de derrotar as Fábulas européias, o Adversário tem planos de ameaçar rumar ao Oriente.
Branca de Neve procura o Sultão para alertá-lo, mas ela é uma mulher com decote e batom viajando sozinha. Ou seja: não chega nem perto de impor respeito.
Quando se dá conta, Neve está numa armadilha - e pode morrer antes da aurora.
Positivo/Negativo: Sandman tem muito a ver com Nirvana: ambos surgiram no fim dos anos 80, se tornaram ícones da cultura pop no começo dos 90, acabaram em seguida e, desde então, os fãs tateiam em busca de um sucessor.
Assim como os Strokes foram o "novo Nirvana" por um mês, Fábulas tem carregado a sina de ser o "novo Sandman" do selo Vertigo.
Bobagem, claro.
Para começo de conversa, Fábulas se calca em remakes de déjà vu. E isso nem chega a ser um problema, pois a idéia central da série é justamente requentar personagens de fábulas antigas, como Lobo Mau, Branca de Neve etc.
Não é nenhuma novidade, para falar a verdade. Livros infantis têm feito isso há bastante tempo (dia desses, na comunidade do Universo HQ no Orkut, um leitor lembrou de Monteiro Lobato). No cinema, não há como não lembrar de Shrek. Até mesmo Sandman usou contos de fadas como matéria-prima para suas histórias.
No entanto, às vezes, a própria DC parece gostar da idéia de ter nas mãos um novo Sandman para vender. É a impressão que especiais como 1001 Noites dá.
Originalmente, 1001 Nights of Snowfall é um álbum de luxo, com capa dura, em que Willingham escreve uma história que se fragmenta em várias - cada uma desenhada por um artista diferente. Lembra, não só por conta da palavra "Noite" do título, o especial Sandman - Noites Sem Fim (Conrad).
Vários dos artistas que fizeram 1001 Noites passaram por Sandman: Vess e Bolton, que estão no primeiro volume da edição brasileira, estão entre eles.
Com certeza, não é mera coincidência. Nem mesmo é uma saída lá muito esperta: Fábulas não agüenta o tranco da comparação com Sandman - simplesmente porque não se propõe a ser Sandman.
Por aqui, a Pixel decidiu dividir o especial em três partes. É uma alternativa com pé no chão, que combina um bom acabamento gráfico com um preço final atrativo.
A série tem arte fabulosa. O primeiro número traz três artistas de fôlego para trabalhar um enredo que arremessa as fábulas ocidentais na cultura do oriente - ou, para simplificar: Branca de Neve vira Sherazade.
A trama de abertura, um conto ilustrado, explica o fio condutor da minissérie: Neve assume de fato as vestes de contadora de histórias para o Sultão. Em seguida, já como uma HQ tradicional, ela conta sua primeira fábula, uma trama de política, sexo e vingança.
Eis o problema de colocar Fábulas lado a lado com Sandman: de longe, a série de Gaiman é mais envolvente. Mas isso não quer dizer que a série de Willingham não seja profundamente encantadora. Ela só perde na comparação. Sozinha, Fábulas é um trabalho respeitável, que merece os elogios que vem recebendo.
Ainda assim, é preciso fazer um punhado de ressalvas à edição brasileira. A tradução e a revisão somam erros demais, em especial na história de abertura. São detalhes, sim, mas são tantos que chega a incomodar. Faltam vírgulas, acumulam-se erros de digitação, concordância e paralelismo.
Há também rimas recorrentes de "Sultão" com várias palavras terminadas em "ão". E mais: os nomes dos autores estão errados nos dados de publicação. Sem falar que a história acaba na terceira capa.
No fim das contas, não sobra página da primeira parte de 1001 Noites sem erros. E ainda há outros espalhados pela revista.
Os erros contrastam com outra informação: a edição norte-americana de Fábulas - 1001 Noites acaba de ganhar uma série de prêmios Eisner. São eles: melhor antologia, melhor história curta (para uma HQ que consta do segundo número), melhor pintor / artista multimídia (para Jill Thompson, que estará na terceira edição, dividido com os demais trabalhos da artista no ano), melhor capista (para James Jean, da série regular, que ilustra o segundo número) e melhor letreiramento (Todd Klein, pelo trabalho original em inglês, prêmio dividido com outros trabalhos do ano).
Fábulas - 1001 Noites pode dispensar capa dura e grandes acabamentos gráficos em troca de um preço mais baixo. Mas cuidar do texto não é luxo: é o mínimo que autores, leitores e os quadrinhos merecem.
Classificação: