FÁBULAS – LOBOS
Editora: Panini Comics - Edição especial
Autores: Bill Willingham (roteiro), Mark Buckingham e Shawn McManus (arte), Steve Leialoha e Andrew Pepoy(arte-final), Daniel Vozzo e Lee Loughride (cores) - Histórias originalmente publicadas nos Estados Unidos, nas edições # 48 a # 51 da série Fables, de junho a setembro de 2006.
Preço: R$ 22,90
Número de páginas: 160
Data de lançamento Junho de 2011
Sinopse
Lobos - É apresentada a conclusão da busca de Mogli por Bigby Lobo.
Felizes para sempre - Bigby Lobo é enviado em uma missão solo para um confronto direto com o próprio Adversário. Se tiver sucesso, sua recompensa será um final feliz para si mesmo e sua família.
Grandes e pequenos - Cinderela enfrenta as agruras de uma missão de negociação política, na qual uma simples dor de ouvido pode impedir a assinatura de um documento muito importante para a relação entre a Cidade das Fábulas e o Reino das Nuvens.
Positivo/Negativo
Fábulas é uma série em que o conflito principal é a vida desses personagens de contos de fada em nosso mundo, após terem fugido do terrível Adversário, que conquistou suas Terras Natais.
Ao longo das histórias apresentadas até aqui, vários personagens se revezaram como protagonistas. Se nos primeiros episódios Branca de Neve e Bigby Lobo pareciam ser os astros principais, aos poucos João do Pé de Feijão, Cinderela, Azul, Príncipe Encantado e a Bela e a Fera começaram a ter papéis de destaque cada vez maior.
No começo, as dificuldades em se manter escondidos dos olhos dos seres humanos normais e as relações das fábulas entre si davam o tom da trama. Depois, a figura do Adversário começou a ganhar mais e mais espaço, tornando-se praticamente o tema principal da série.
Fábulas, então, caracterizou-se como a história de um povo isolado de sua terra natal por uma força invasora e da transformação da atitude política de seus habitantes diante dessa situação.
Após terem uma "ninhada", Bigby Lobo e Branca de Neve afastaram-se da Cidade das Fábulas. O primeiro simplesmente desapareceu no mundo, enquanto a moça dedicou-se a cuidar de seus filhotes, isolada na Fazenda, o local onde vivem as fábulas que não conseguem se disfarçar como seres humanos.
Nesta oitava coletânea da série lançada no Brasil, o leitor acompanha o desenlace da situação entre Bigby e Branca de Neve.
Após o ataque dos Soldados de Madeira e a posse do Príncipe Encantado como prefeito, a Cidade das Fábulas passou a ter uma postura mais agressiva em relação ao Adversário. Teve início uma série de contatos políticos com outros reinos encantados, estabelecimento de alianças e planejamento de ações de retaliação.
A série pode funcionar apenas como mero entretenimento, mas a teia de relações construída por Bill Willingham merece uma análise mais cuidadosa.
Não se trata apenas de mero escapismo. Além das peripécias e aventuras dos personagens, os roteiros apresentam postura e inclinações políticas muito bem definidas.
Ao se defrontar com o Adversário, Bigby Lobo cita o exemplo de Israel, "um país minúsculo cercado por países muito maiores que ele e que se dedicam à sua definitiva e completa destruição". Para proteger seus interesses, o governo israelense emprega práticas que envolvem inclusive violência militar. "Sou o maior fã dos caras" diz o ex-xerife.
A partir de agora, a Cidade das Fábulas passa a adotar a política de duras represálias de Israel. Isso implica que qualquer agressão por parte das forças do Adversário será revidada de maneira muito mais brutal.
Vale destacar ainda a ameaça proferida por Bigby para o Adversário: "Você tem um império enorme pra proteger. Resguarde os dez milhões de alvos mais prováveis e ainda haverá cem milhões de alvos prontinhos e desprotegidos que podemos atingir". Esse discurso mostra que a Cidade das Fábulas considera o terrorismo como tática de guerra.
Assim, Fábulas assume uma posição política muito clara e não isenta de incoerências. Tal posição já era corroborada em histórias anteriores.
Em Terras Natais, a incursão de Azul contra as forças do Adversário é espetacular e empolgante, mas, ao mesmo tempo, representa a invasão e agressão a outro território. Apesar de diversos contextos narrativos justificarem a ação, ainda assim, trata-se de uma invasão pela qual Willingham constrói habilmente no leitor uma simpatia compulsória.
Já em Noites (e dias) da Arábia há uma delegação de cultura diferente, liderada por Simbad, com a proposta de estabelecer relações diplomáticas com a Cidade das Fábulas.
Ao descobrir que as fábulas árabes trazem consigo uma "arma de destruição em massa" (o D'Jinn), a reação de Príncipe Encantado e seus amigos é rápida: todos são presos em calabouços e a ameaça é neutralizada. Simbad, mesmo demonstrando ter boa índole, é tratado a ferros por seus "anfitriões", em caráter "preventivo".
Ao fim, tudo termina bem e é selada a aliança entre as fábulas árabes e nova-iorquinas, desde que as primeiras abram mão da escravidão.
Novamente, a escravidão é vista pela ótica ocidental, que prevalece e procura corrigir os "erros" das outras civilizações sem se preocupar com aspectos ou contextos culturais ou sociais. Ou seja, sigam nossos costumes, que são melhores que os seus, e sejam bem-vindos.
Por falar em costumes, é interessante destacar o casamento de Bigby Lobo com Branca de Neve, que nesta edição. O matrimônio é um ritual ligado à religião e à cultura. Portanto, é curioso ver que essas fábulas, seres tão extraordinários, que vieram de um mundo tão diferente, celebrem sua união exatamente do mesmo modo dos humanos. Há um juiz de paz, convidados, evocação literal das bênçãos de Deus e a lua de mel.
De fato, talvez as fábulas sejam muito mais "mundanas" do que parecem.
O casamento foi publicado na comemorativa edição americana de número 50, que teve mais páginas e uma atenção especial de Willingham. A história é dedicada à esposa do escritor e possui como extra o roteiro original apresentado na íntegra.
Fábulas - Lobos apresenta um roteiro bem escrito, situações interessantes, conclusões para antigas tramas e pontas para novas histórias. A arte é competente e o material mantém o nível da série, embora as "molduras" ilustradas de Buckingham façam muita falta.
Entretanto, é interessante não considerar o álbum como mero entretenimento e observar a trabalhada relação de personagens e política que permeia todo o trabalho, ao longo de todas as edições.
É válido, honesto e instigante que a série traga claramente em si certas opiniões e posturas políticas. Para o leitor, talvez seja interessante contrapor a opinião de Bigby Lobo a respeito de Israel e a "diplomacia" da Cidade das Fábulas com o texto de outras obras, como Notas sobre Gaza, de Joe Sacco.
Afinal, entretenimento não precisa necessariamente ser dissociado de senso crítico e reflexão.
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