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FAGIN, O JUDEU

1 dezembro 2005


Título: FAGIN, O JUDEU (Companhia
das Letras
) - Edição especial
Autor: Will Eisner (texto e arte).

Preço: R$ 29,90

Número de páginas: 128

Data de lançamento: Maio de 2005

Sinopse: Personagem-chave de Charles Dickens, Fagin é um judeu que vive na Inglaterra do século XIX. Nascido pobre, passa por dificuldades a vida toda até se envolver com um jovem chamado Oliver Twist.

Positivo/Negativo: Quem tem direito de corrigir um clássico? Essa pergunta tem sido repetida à exaustão nos Estados Unidos nos últimos vinte e poucos anos. De um lado, defensores de minorias, que conseguiram expurgar do currículo escolar peças de William Shakespeare que continham insinuações racistas. De outro, intelectuais como o crítico literário Harold Bloom, que perguntava que tipo de idiota poderia pensar em proibir jovens de lerem o autor de Romeu e Julieta, Rei Lear e tantas outras.

Em tese, bastaria um professor dizer que preconceito era errado e que tinha sido escrito em uma época com outro contexto, servindo até mesmo para dizer que a humanidade já errou uma vez ao aceitar o preconceito. Os dois lados, claro, não chegaram a um consenso.

E, pouco antes de morrer, um cânone dos quadrinhos resolveu entrar na briga. Will Eisner, criador do Spirit, do termo graphic novel e de algumas das melhores HQs de que se tem notícia, resolveu justificar a sem-vergonhice de um velho personagem de Charles Dickens.

Dickens é um dos grandes romancistas ingleses. Sua obra é grandiosa e encantadora. Oliver Twist, história de um jovem herdeiro que sofre os diabos nas mãos de um judeu ladrão chamado Fagin, é um de seus romances mais conhecidos e amados pelo público. A princípio, dispensa defesa.

O Fagin de Dickens, criado dois séculos antes da onda politicamente correta, é um judeu caricato e estereotipado. Não só ele: naquela época, judeus no mundo inteiro eram tidos como uma desgraça. Pra começo de conversa, tinham mandado matar Jesus Cristo.

Para Eisner, Fagin é um paradigma do preconceito e um fator difusor da sórdida visão que se tinha dos judeus. Refletiria até os dias de hoje. E então o autor de Spirit resolveu, se não consertá-lo, dar-lhe um passado de maus tratos que justificaria os crimes da maturidade.

Na pior das hipóteses, seguindo a linha de Bloom (por sinal, judeu), o enredo de Eisner é uma grandessíssima bobagem. Na melhor, não passa de um exercício de criação tolo, que virou uma bela trama, até porque o autor foi um contador de histórias inigualável. Mas culpar Rebecca Lopez pela desgraceira de Fagin e, de lambujem, de Oliver Twist, já é forçar um tanto a barra.

Fagin é, sim, um personagem que reflete seu tempo. Não apenas socialmente, como produto do contexto londrino, mas também de uma época em que não se tinha problema em ser preconceituoso. Seu retrato tenebroso, compartilhado até mesmo com exemplos que Eisner apresenta em um posfácio, é um símbolo de uma época que se torce para que não volte mais.

Lido deixando de lado apegos a paixões literárias, Fagin, o Judeu, é uma das mais extensas das obras recentes de Eisner. Também é a que mais se aproxima literariamente de um romance - fazendo um paralelo, o velho mestre vinha privilegiando os contos. Tem um desenho soberbo, em que a textura do papel aparece na pintura da impressão. A edição da Companhia das Letras, como sempre, é impecável, bem como a deliciosa tradução de André Conti.

Classificação:

4,0

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