FAHRENHEIT 451 - A GRAPHIC NOVEL AUTORIZADA POR RAY BRADYBURY
Editora: Globo - Edição especial
Autor: Tim Hamilton (roteiro e arte), adaptando o romance de Ray Bradbury.
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 160
Data de lançamento: Maio de 2011
Sinopse
Em um Estado totalitário, num futuro próximo, a principal função dos bombeiros é queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que a literatura é um propagador da infelicidade. Em vez de ler, as pessoas recebem informações direto das paredes de suas casas, que são o suporte para uma forma de televisão interativa.
Guy Montag é um bombeiro que muda seu jeito de ver a vida e passa a reconhecer a importância dos livros para a humanidade. Ele encontrará nos "homens-biblioteca" o suporte para continuar a sua luta contra o sistema.
Positivo/Negativo
Apesar da literatura de ficção científica ter sido oficialmente criada no Século 19, foi a partir da década de 1930 que o gênero se popularizou. Difundido principalmente pelo aparecimento das pulp magazines (revistas baratas, que traziam contos policiais, de ficção e de terror), e com a publicação de textos de autores que se tornaram grandes ícones, como Aldous Huxley, Isaac Asimov, George Orwell, Alfred Bester, Philip K. Dick e Ray Bradbury.
Com o término da 2ª Guerra Mundial, em 1945, o mundo viu cair os fortes regimes totalitários alemão e italiano, propiciando aos escritores vislumbrar um futuro distópico, no qual os governos utilizavam a tecnologia (e as drogas) para cercear a liberdade de pensamento e expressão das massas, desumanizando as pessoas e garantindo um estado perpétuo e alienante de felicidade artificial. Nessas tramas, em geral, um ou dois personagens se rebelavam contra o sistema opressor e abriam caminho para o resgate da individuação do homem.
Um dos romances de ficção científica distópicos mais conhecidos é Fahrenheit 451, escrito por Ray Bradbury em 1953, e adaptado para o cinema pelo cineasta francês François Truffaut, em 1966.
Faltava ao livro uma adaptação para os quadrinhos, o que foi feito em 2009, por Tim Hamilton, desenhista que trabalhou para grandes editoras norte-americanas (DC Comics e Dark Horse), colaborou com revistas como 2000 AD e Mad, e já havia adaptado A ilha do tesouro, clássico de Robert Louis Stevenson, em 2005.
Hamilton sabia ser necessário pedir a "bênção" do autor e conseguiu a autorização de Bradbury, que relembrou sua obra para escrever a introdução da HQ, na qual conta o que o levou a escrever Fahrenheit 451, incentivando os leitores a dar vazão às suas ideias (e as metáforas contidas nelas) e a não se prender em demasia às regras, à forma.
O design Art Déco e as cores frias escolhidas por Hamilton para compor o visual retrô-futurista da HQ (contrastadas apenas com a força do amarelo, laranja e vermelho contido nas chamas devoradoras dos livros), além da utilização de vários enquadramentos fechados, dão o tom certo para a angústia existencial vivenciada pelo bombeiro Montag - o protagonista, aos poucos, vai deixando sua paixão pelo cheiro do querosene e o calor do fogo, ao abraçar o crescente amor pelos livros impressos.
Nesse processo de libertação, Montag tenta abrir os olhos da esposa, mas ela, assim como os homens da caverna de Platão, estava tão imersa na falsa realidade das sombras nas paredes, que não se deixa convencer.
Outro ponto positivo da HQ é a fidelidade de Hamilton ao texto original, com transcrições de sequências inteiras, bem diferente da versão cinematográfica de Truffaut.
A retomada da publicação de quadrinhos pela Globo foi muito bem-vinda, apesar de tímida. Em 2009, lançou o álbum argentino Perramus - Dente por dente, em edição luxuosa, já anunciando o próximo título: Fahrenheit 451. Com um pequeno atraso, a HQ de Tim Hamilton foi publicada em 2011, numa edição impecável, valorizada pela tradução apurada de Ricardo Lísias e Renato Marques, trazendo o texto introdutório de Bradbury e notas sobre o desenhista e o escritor, com capa cartonada e papel couché.
Fahrenheit 451 é o terceiro título de textos de Ray Bradbury adaptados para quadrinhos, lançado no Brasil. No início da década de 1990, a L± editou duas coletâneas, O papa-defuntos e O pequeno assassino, trazendo HQs que saíram em revistas da editora norte-americana EC Comics, nos anos 1950.
A crítica de Bradbury sobre a perda da importância da leitura é mais do que atual, e a adaptação de Fahrenheit 451 para os quadrinhos chega em boa hora, convidando essa nova geração seduzida pela praticidade do "mundo virtual" a conhecer seus escritos e, quem sabe, redescobrir o prazer de ter um livro nas mãos, sentir o aroma do papel e devorar cada palavra sem pressa.
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