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FANTASMÓPOLIS

1 dezembro 2011

FANTASMÓPOLIS

Editora: Ática - Edição especial

Autores: Doug TenNapel (roteiro e arte) e Cassius Medauar (tradução) - Originalmente em Ghostopolis.

Preço: R$ 35,90

Número de páginas: 272

Data de lançamento: Setembro de 2011

 

Sinopse

Frank Gallows é um agente da Força-Tarefa de Imigração Sobrenatural. Seu trabalho é encontrar fantasmas que se encontram ilegalmente no mundo dos vivos e mandá-los de volta para o Além.

O menino Garth Hale foi diagnosticado com uma doença incurável e não tem muito tempo de vida pela frente.

Acidentalmente, Gallows acaba enviando Garth para a terra dos mortos usando algemas de deportação de espíritos. Agora, é preciso buscar o garoto, um vivo aprisionado em um mundo de fantasmas.

A missão de resgate vai colocar os dois protagonistas frente a frente com seus medos, dúvidas, erros e uma série de personagens extraordinários que povoam a cidade de Fantasmópolis, o centro do Além.

Positivo/Negativo

Fantasmópolis é uma história infanto-juvenil.

No universo ficcional concebido por Doug TenNapel, a fronteira entre o mundo dos vivos e dos mortos pode ser rompida de diversas maneiras, inclusive com veículos especiais. Alguns fantasmas possuem um visual sinistro, mas são geralmente de boa índole ou inofensivos.

Curiosamente, essa inocência e infantilidade coexistem com situações que facilmente assombrariam qualquer adulto.

Por exemplo: a mãe de Garth busca, sem sucesso, por um diagnóstico que lhe ofereça alguma esperança. Portador de uma misteriosa doença incurável, o garoto não tem muito tempo de vida pela frente.

O modo como TenNapel apresenta essa situação no começo da história não tem absolutamente nada de infantil. A tristeza e desespero da mãe são evidentes.

Frank Gallows é um profissional decadente. Já foi o melhor em sua atividade, mas agora comete um erro atrás do outro. O derradeiro é o envio acidental de Garth para Fantasmópolis.

A razão para o declínio pessoal e profissional de Gallows é descoberta durante o desenrolar da trama: um amor não realizado. Novamente, o autor revela com sutileza essa informação ao leitor, mostrando, por meio das atitudes do personagem, sua tristeza e falta de propósito.

Um pouco de culpa ou solidão assombram todos os personagens em torno dos protagonistas. Do lado de Garth, sua mãe e seu avô têm muitos assuntos mal resolvidos. A ex-namorada de Gallows, Claire, e até mesmo seu chefe na Força-Tarefa de Imigração Sobrenatural, o tenente Brock, também sentem o peso de escolhas feitas no passado.

Esses assuntos "adultos" estão bem diluídos nesta trama de aventura inocente, o que proporciona uma boa dramaticidade e torna a leitura interessante, principalmente para o público pré-adolescente.

O leitor adulto pode ter uma boa diversão com a obra de TenNapel, mas talvez estranhe um pouco o ritmo da narrativa.

Isso porque há um excesso de quadrinhos, principalmente nas sequências de ação. São diversos painéis que poderiam ser cortados ou modificados, melhorando a fluidez. Em vários momentos, a história passa a impressão de ser um storyboard de animação superdetalhado.

TenNapel já publicou outras obras em quadrinhos, como pode ser conferido em seu site pessoal, mas seu trabalho com animação e jogos é mais conhecido. Talvez por isso a grande quantidade de painéis para descrever ações, procurando emular a linguagem dos audiovisuais.

Por exemplo, o confronto final apresenta um ritmo que parece lento ao longo das diversas páginas, perdendo o vigor que teria se fosse um filme. Fica a sensação de que se está lendo uma adaptação em quadrinhos de algum longa-metragem de animação.

Nessa mesma sequência, percebe-se também influência do mangá, pela presença dos “robôs gigantes” feitos com prédios e na condução da narrativa visual.

Ao longo da obra, algumas sequências não têm uma conclusão satisfatória, com personagens que simplesmente “somem” da trama.

A fragmentação da história em capítulos, a aplicação das especificidades da linguagem sequencial e um cuidado maior com o roteiro poderiam gerar um resultado mais harmonioso.

Outro recurso utilizado em excesso são os quadrinhos nos quais apenas a silueta branca dos personagens se destaca sobre um fundo preto. Chegam a ser empregados duas vezes em uma mesma página. Alguns reforçam a dramaticidade ou a ênfase em algum aspecto, mas a maioria não acrescenta absolutamente nada à narrativa.

Apesar desses problemas, o traço de TenNapel é muito eficaz, dando movimento e expressão aos personagens. Há diversas páginas com um layout equilibrado e arte belíssima.

Alguns painéis apresentam desenhos que parecem ter sido reduzidos digitalmente, criando certo estranhamento por seu nível de detalhes e definição das linhas em comparação a outros na mesma página.

Considerações técnicas à parte, Fantasmópolis é uma obra divertida, com arte competente, personagens interessantes e uma trama despretensiosa.

Uma boa dica para quem procura um entretenimento leve e aprecia histórias de fantasia com finais felizes.

Classificação:

4,0

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