FEALDADE DE FABIANO GORILA
Autor: Marcello Gaú (roteiro e arte).
Preço: R$ 22,00
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Dezembro de 1999
Sinopse: Fealdade de Fabiano Gorila - Acirzinho, talentoso beque central do Manafatura F.C. sonha em jogar nos times grandes do Rio de Janeiro. Justamente no dia em que ia fazer um teste no Fluminense, o treino é cancelado: Getúlio Vargas estava morto e a confusão tomava conta da cidade.
Granadilha - Tião Pomba-Gira é apaixonado por Saninho, que é amigo de Zé Bicão. Um acidente de trânsito muda profundamente a vida dos três.
Três minutos de linhas - Nena, empregada doméstica, trabalha para D. Céia, que é costureira. A existência de dois objetos muda as relações entre os personagens: um televisor em preto e branco e a máquina de costura de D. Céia.
Positivo/Negativo: Fealdade de Fabiano Gorila é diferente.
Tem formato de livro diferente (14 x 21 cm), tem arte diferente (pintura sobre fotografias e mescla de desenho, texto e foto), tem roteiro diferente (histórias suburbanas sem violência explícita, ambientadas na primeira metade do Século 20).
Basta abrir o álbum pra ter essa sensação. Mas diferente de quê? Da maioria das revistas em quadrinhos que se amontoam em pilhas nas casas dos leitores. O trabalho de Marcello Gaú é autoral. Dá pra "sentir" o autor olhando para a obra.
Gaú foi o pseudônimo usado por Marcello Quintanilha (numa entrevista concedida ao Universo HQ em 2003 ele explica a mudança de nome) para a publicação deste que é um dos primeiros álbuns nacionais da Conrad, lançada dez anos atrás. Pela mesma editora, o autor acaba de lançar Sábados de meus amores.
Quintanilha transmite uma brasilidade nas suas histórias que passa longe dos clichês. É diferente. Uma prova que HQ nacional não precisa ser necessariamente sobre violência ou seca. Todos os subúrbios retratados no álbum são absolutamente brasileiros, mas os personagens e seus temas, universais.
Os subúrbios onde as histórias se ambientam remetem ao Rio de Janeiro do começo do Século 20, mas são diferentes daqueles retratados em O corno que sabia demais e outras aventuras de Zózimo Barbosa. Não piores ou melhores, mas diferentes. Outra visão do mesmo tema.
Fealdade de Fabiano Gorila é uma das melhores ficções (em qualquer arte) feita sobre futebol no Brasil - tema tão difundido em nossa cultura e tão poucamente aproveitado pelos artistas. O grande tema é a dúvida, a pressão por parte dos familiares, de trocar o desejo, que é incerto, pelo certo, que é menos interessante.
Já em Granadilha, história mais curta, tudo gira em torno de um acidente, como se o acaso abrisse caminhos que serão ou não seguidos pelos personagens.
E em Três minutos de linhas, uma história pelo viés feminino, traz mulheres em movimento e os objetos estáticos. Um conto sobre a inação.
A arte de Quintanilha tem muitas virtudes: o uso de onomatopeias é constante e bem escolhido - embora a apresentação gráfica delas tenha deixado um pouco a desejar.
O uso das fotos e do texto, e depois de desenhos sobre fotos criam aspectos interessantes, semelhantes ao trabalho do escritor Valêncio Xavier, só que, aqui, partindo dos quadrinhos e não da literatura.
O texto que busca reproduzir coloquialismos e expressões de época é outro destaque, assim como a narrativa e os enquadramentos, que dão todo o movimento e ritmo "pedidos" pela história pede.
Enfim, o álbum Fealdade de Fabiano Gorila explora elementos narrativos, temas interessantes e personagens bem construídos. Tudo a serviço de contar histórias. Quadrinho brasileiro com retoques universais.
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