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GEFANGENE – SEM SAÍDA

Por Delfin
1 dezembro 2010

GEFANGENE - SEM SAÍDA

Editora: Zarabatana/Tonto - Edição especial

Autores: Koostella.

Preço: R$ 31,00

Número de páginas: 72

Data de lançamento: Julho de 2010

 

Sinopse

Numa prisão, não há saídas. Apenas prisioneiros.

Positivo/Negativo

Gefangene (palavra alemã para prisioneiro) é um álbum que poderia passar batido pelo universo de livros patrocinados por programas governamentais de estados ou da União. Mas, ao encontrar abrigo nos projetos editoriais de Fábio Zimbres (Tonto) e Claudio Martini (Zarabatana), a claustrofobia e a clausura das histórias de Koostella se colocaram em posição para se libertar perante o leitor brasileiro.

Esta não é a primeira vez que Koostella publica um álbum no Brasil. Em 2003, Quem é Toniolo saiu pela Alcance, pequena editora do sul do País, que tomava por mote as pichações estranhas do artista por Florianópolis, onde morava aos 20 anos de idade.

Mas este álbum de tiras, prefaciado por Santiago e com apenas 32 páginas, chegou a poucos, raros de seus mil leitores potenciais. E quase ninguém se lembra disso.

Então, Koostella saiu do Brasil. Foi viver no estrangeiro e, como expatriado, percebeu que a busca pela liberdade em terras de oportunidades podem se tornar as piores prisões.

E foi nesse clima que reinventou seus quadrinhos, como ele mesmo confessa na introdução do álbum: abandonou os textos e deixou que o clima de cárcere psicológico a que é submetido se infiltrasse em 31 histórias compreendidas em qualquer lugar onde se entenda o que é ser prisioneiro.

Koostella faz uso rígido da grade de 9 quadrinhos (três fileiras regulares com três quadros idênticos em cada página) que forma, perceba bem, realmente a silhueta de uma grade. Um recurso simples e proposital que faz com que,constantemente, haja a lembrança de que, por mais que se tente escapar, não há saída daquelas páginas.

Também os temas tratados pelo autor são polêmicos e nem um pouco infantis, como o traço simplificado e as cores chapadas podem sugerir a um leitor desatento em uma livraria.

Violência, tortura, paranoia, pedofilia, isolamento, perversão, desesperança, loucura, sadismo e crueldade são temas presentes pelo álbum - que, por poucas vezes, relembra que, mesmo cerceado de tudo o que é importante, ainda assim pode-se encontrar poesia e humanidade nas paredes, visíveis ou não, que nos cercam.

Gefangene (que no começo se chamava Gefängnis, ou prisão) parece um álbum muito fácil, por ser teoricamente rápido de ler. Mas não é.

Esta é daquelas obras que, por não dizerem uma palavra sequer, botam o leitor para pensar. E muito. Num momento em que cada vez mais o ser humano tem cedido sua liberdade em troca de uma suposta proteção do poder constituído, com câmeras, regras rígidas, leis severas e comportamento social que premia delações em troca de vantagens aqui e acolá, Koostella vem lembrar ao leitor o preço que esse mesmo poder cobrará depois.

Se o autor alegoriza e exagera em busca dessa compreensão, cabe ao leitor discernir e, então, decidir se quer mesmo ceder o bem precioso da liberdade, essa palavra que, como bem lembra Jorge Furtado em seu premiado curta-metragem Ilha das Flores, o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.

Classificação:

4,0

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