GEN – PÉS DESCALÇOS # 1
Editora: Conrad - Edição especial
Autor: Keiji Nakazawa (roteiro e arte).
Preço: R$ 24,90
Número de páginas: 280
Data de lançamento: Maio de 2011
Sinopse
O nascimento de Gen; O trigo verde - A infância de Gen Nakaoka ao lado de sua família em Hiroshima, durante a Segunda Grande Guerra Mundial.
Os Nakaoka são vítimas de preconceito por serem contrários à guerra. Mas todos os conflitos pessoais são reduzidos quando a bomba explode.
Positivo/Negativo
Todas as questões que podem ser colocadas quanto à maturidade das histórias em quadrinhos podem ser respondidas com este único exemplar de Gen - Pés descalços.
A obra já foi publicada pela própria Conrad em esgotados quatro números, a partir da edição norte-americana. A versão atual é em dez tomos, traduzida diretamente do japonês e mais completa que a anterior.
A nova edição traz prefácio de Art Spiegelman, quadrinhista norte-americano responsável por Maus - A história de um sobrevivente e prefácio do crítico japonês Hideki Ozaki. Pelo volume de páginas da primeira, dá pra constatar que muita coisa ficou de fora da coleção em quatro volumes.
O enredo é sobre a vida de Gen e sua família em Hiroshima, durante a Segunda Grande Guerra. Vale lembrar que todos os problemas se multiplicam quando chegam o dia seis de agosto de 1945 e a bomba atômica.
Keiji Nakazawa investe em uma narrativa com forte apelo autobiográfico, mesmo que o personagem tenha um nome diferente do dele.
Na estrutura da história, o autor aposta em narrativas paralelas, todas centradas em membros da família Nakaoka. A construção dos personagens é forte e poderosa.
E desses personagens tão encantadores é que o autor tira o apelo emocional que o álbum exerce sobre o leitor. É tão forte, que é impossível ficar indiferente aos acontecimentos, ao que sofrem os desafortunados Nakoaka.
A arte é de traços simples, muitas marcas de movimento e exagero nas reações físicas, sem pretensões realistas sob esse aspecto. Toda a realidade está em saber que se trata de um evento marcado no calendário fúnebre da espécie humana.
E é no aspecto histórico que Nakazawa escorrega. Ele coloca o físico Albert Einstein como um dos cientistas responsáveis pelo desenvolvimento da bomba atômica, o que não é verdade. Os estudos de Einstein possibilitaram pensar esse tipo de arma, mas ele não se envolveu diretamente no projeto. A editora poderia ter incluído uma notinha sobre isso.
A dimensão histórica mostrada é a de um país em crise pela guerra, com um governo orgulhoso, que prefere sacrificar todos os cidadãos em vez de se render. Cabe também questionar a crueldade do comando de batalha ocidental, que optou por explodir cidades e pessoas e não postos militares.
Gen é um manifesto pacifista sem falar isso ao leitor. Nakazawa optou por mostrar determinados eventos e fazer com que seus personagens reagissem a eles de modo humano, explicitando o terror que é uma guerra fora do campo de batalha.
Aliás, fazer com que personagens bem construídos reajam de modo humano e, por conta disso, ofereçam uma posição nova sobre algum tema é característica de algumas das grandes narrativas que a humanidade coleciona.
E Gen não faz feio quando colocado entre elas.
A história acaba em um ponto crucial e, depois de tanto trabalho com a emoção, o leitor quer saber como isso continua. A esperança é que a Conrad publique integralmente esse fantástico material.
No aguardo da continuação desta HQ fabulosamente humana.
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