Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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GIBI #1 - O CASAMENTO DO FANTASMA

1 dezembro 2004

Autores: Lee Falk (roteiro) e Sy Barry e Ray Moore (desenhos).

Preço: CR$ 650,00 (preço da época)

Número de páginas: 128 páginas

Data de lançamento: Outubro de 1993

Sinopse: O Casamento - Eles se conheceram na infância. Agora,
anos depois, Kit Walker - também conhecido como o vigilante Fantasma -
e Diana Palmer finalmente resolvem se casar. Os preparativos, imprevistos,
convidados, a cerimônia e a lua-de-mel de um dos casais mais famosos dos
quadrinhos.

Os Herdeiros - A cada geração nasce um bebê destinado a dar continuidade
ao Juramento da Caveira e assumir o manto do Espírito-Que-Anda. Um ano
após seu casamento, o 21º Fantasma e sua esposa Diana aguardam o nascimento
de seu herdeiro. Apesar de todos esperarem um menino para prosseguir a
linhagem de justiceiros, uma surpresa aguarda por eles e todos os envolvidos
na hora do parto.

O Nome - Enquanto todo menino da família Walker recebe o nome de
"Kit" em homenagem ao Primeiro Fantasma, a escolha do nome da filha envolve
Diana numa verdadeira busca entre os registros históricos das aventuras
dos antepassados do marido. Uma delas foi a caça do oitavo Fantasma a
uma suposta feiticeira-rainha de um país estrangeiro, a "bruxa de Hanta"
Heloíse, uma das mais belas histórias de amor da dinastia.

Os Piratas do Céu - Depois de enfrentar e vencer os Singh, o 21º
Fantasma se defronta com uma nova ameaça: um grupo de piratas aéreos!
Além disso, o herói passa a ser tido como criminoso e precisa escapar
do cerco montado ao seu redor pela Patrulha da Selva.

Positivo/Negativo: Dizer que Lee Falk foi o maior escritor do Fantasma,
personagem que criou em 1936 e escreveu até sua morte, em 1999, pode soar
redundante para alguns, mas precisa ser enfatizado quando estas quatro
aventuras são analisadas. Escritas em diferentes fases de sua vida, mostram
o autor em sua melhor forma como contador de histórias, trabalhando ao
lado de dois igualmente lendários ilustradores do Espírito-Que-Anda: Sy
Barry e Ray Moore.

Compiladas pela Editora Globo neste primeiro exemplar da revista
Gibi (homenagem ao título em quadrinhos lançado em 1939 e que se
tornou sinônimo de HQs no Brasil), no final de 1993, elas abordam duas
fases distintas da vida do Fantasma: a de vigilante clandestino e a do
servente da lei, claro reflexo da tendência de tornar as figuras uniformizadas
nos quadrinhos "politicamente corretas", a partir dos anos 50.

A primeira aventura mostra o casamento do herói, seguindo pelo nascimento
de seus filhos - os gêmeos Kit e Heloíse - e terminando na escolha do
nome da menina. O evento não foi planejado como marketing editorial, nem
como promoção para o personagem. Falk simplesmente resolveu que era hora
de suas criações se unirem e resolveu casá-los em 1977. Afinal, ele mesmo
entrava em seu segundo matrimônio na época. O fato, sem dúvida, caracteriza
o Fantasma como um dos personagens mais autorais dos quadrinhos norte-americanos.

A história do em si é leve e com pitadas do típico humor "falkiano", mostrando
o nervosismo do herói na hora de pedir a mão de Diana e seu choque com
a modernidade quando ela diz que não morará na Caverna da Caveira, como
as esposas dos outros Fantasmas, simplesmente por ter seu trabalho e carreira
em Nova York. Dilemas que ambos precisarão resolver para poderem finalmente
ficar juntos.

A cerimônia é presenciada por todos os grandes personagens coadjuvantes
do Fantasma e ainda conta com Mandrake e Lothar, duas outras criações
de Lee Falk que antecederam o Espírito-Que-Anda, como "convidados especiais".

Com o nascimento de dois bebês, Lee pôs fim à especulação em torno do
sexo do filho do casal. O autor parecia ter um fascínio por gêmeos, pois
incluiu outros em nada menos que duas gerações da família Walker. Ele
também acerta no ponto ao permear as narrativas com várias tradições dos
Fantasmas, aumentando a mítica em torno do personagem. Um bom exemplo:
apresentar a noiva aos seus antepassados na cripta no dia do casamento,
assim como pedir - numa bela seqüência - que eles olhem por seus filhos
- "Ancestrais, eis a 22ª. Geração, por favor, olhem por eles como olharam
por mim".

A última história do arco é sobre a Bruxa de Hanta, na verdade, continuação
de uma aventura publicada pela primeira vez em 1965, e cuja conclusão
precisou esperar nada menos que 12 anos para ser contada.

As três histórias são assinadas por Sy Barry. Apesar das críticas à estaticidade
de alguns de seus painéis e feições de seus personagens, ele foi, sem
dúvida, responsável por uma importante revitalização da imagem do Fantasma.
Seu trabalho englobava mais a arte-finalização e a direção de arte das
tiras.

Aqui justamente reside a maior curiosidade deste capítulo na vida do Espírito-Que-Anda:
O Casamento do Fantasma foi ilustrado pelo brasileiro André LeBlanc.
Profissional de fama internacional falecido em 1998, ele realizou as tiras
Morena Flor e Intelectual Amos, além de ter trabalhado como
assistente de ninguém menos que Will Eisner no Spirit, antes de
se juntar à equipe de Sy Barry.

Sus capacidade de retratar personagens, flora e fauna impressionou o próprio
Lee Falk. LeBlanc também foi o desenhista da Bíblia Ilustrada,
trabalho que viajou o mundo sendo traduzido para diferentes idiomas. Ao
contrário de outros colegas de profissão, ele conseguiu valorização e
reconhecimento por seu trabalho aqui mesmo no Brasil ainda em vinda, sendo
agraciado com a comenda Cruzeiro do Sul (para quem não sabe, a
mais alta honraria brasileira).

A última história é o clássico Piratas do Céu, que ocupa o maior
número de páginas da edição e é a melhor delas, uma seqüência direta da
primeira aventura do Fantasma, Os Piratas de Singh.

Nela, o leitor vê Ray Moore, seu segundo ilustrador (o primeiro foi o
próprio Lee Falk em apenas alguns painéis) bem mais à vontade com o personagem,
dando um verdadeiro show de iluminação e enquadramentos que tanto caracterizaram
seu estilo. Seu Fantasma é uma figura sombria, poderosa e intimidadora,
diferente da mostrada nas três aventuras anteriores, nas quais aparece
sorrindo com freqüência e desfrutando momentos de confraternização.

Falk, por outro lado, apresenta as vilãs Sala e Baronesa como duas das
primeiras femme fatales dos quadrinhos, capazes de impressionar
o herói tanto por suas curvas quanto por suas crueldades.

A Globo fez um trabalho digno dos quatro clássicos reeditados nesta
publicação, apresentando uma tradução competente e impressão bem cuidada,
com páginas de introdução antes de cada história contendo a data de início
e fim de sua publicação original nas tiras norte-americanas, além de uma
contra capa com a posição icônica do Fantasma com braços cruzados no traço
de Sy Barry, que sempre abria suas aventuras nos jornais.

Houve um corte da aventura que se passa entre o pedido de casamento e
a cerimônia, quando Diana é capturada por um ditador durante uma missão
para a ONU, mas isso em nada prejudica a trama, ajudando a sintetizar
os eventos principais.

Se existe uma edição essencial para quem quer conhecer o Fantasma em suas
versões durante os anos e, de quebra, saborear quadrinhos de qualidade,
é esta.

Classificação:

4,0

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