A série Graphic Novel, da Abril, tem um sabor especial de saudade para muitos leitores.

Na época em que esta HQ foi lançada, os títulos de super-heróis e infantis predominavam no mercado e tinham o chamado "formatinho" (13 x 19 cm).

Assim, a coleção destacava-se, de cara, pelo formato (21 x 27 cm) e pela variedade de autores e gêneros que trouxe aos leitores. Em um mês, apresentava a inusitada parceria de Stan Lee e Moebius em uma história do Surfista Prateado, em outro trazia álbuns europeus, como Blanche Epifany, de Jacques Lob e Georges Pichard.

Rocketeer fez parte dessa eclética seleção de histórias.

Produzida pelo talentoso Dave Stevens (que faleceu de leucemia em 2008) na década de 1980, a obra não só é ambientada em 1938, como se vale de uma série de recursos narrativos para evocar a época.

A trama é planejada para ser uma história em quadrinhos pré-Segunda Guerra Mundial.

A começar pela paleta de cores saturadas, o layout das páginas e as retículas características, que dão um delicioso aspecto retrô à obra. Recordatórios são utilizados para complementar a narrativa, incluindo o clássico texto "enquanto isso..."

Simultaneamente, a velocidade dos acontecimentos, a linguagem sequencial e a maneira como os personagens são tratados não deixam o leitor esquecer que está lendo um trabalho contemporâneo.

A personagem Betty, claramente inspirada na rainha das pin-ups, Bettie Page, carrega em si uma mistura muito equilibrada de inocência e erotismo. Expressões e gírias modernas são empregadas em diálogos que, ao mesmo tempo, refletem uma nostálgica percepção de mundo.

Essas dualidades (novo/antigo, ingênuo/malicioso) permeiam toda a história. Cabe ressaltar que, embora trabalhe bem o roteiro, o forte de Stevens é mesmo a arte, belíssima e bem definida. Vale a pena procurar exemplos de seu trabalho na web.

A graphic novel lançada no Brasil apresenta as histórias de Rocketeer produzidas durante os 1980. Stevens finalizou outras no decorrer da década seguinte. A pesquisa desenvolvida pelo autor para retratar cenários, roupas e costumes era tão detalhada, que tornava sua produção muito lenta. Chegou a levar seis anos entre o lançamento de uma HQ e outra.

Valeria muito a pena alguma editora considerar o relançamento desta publicação e do material inédito no país. Trata-se de um trabalho competente, com arte de encher os olhos.

Em 1991, os estúdios Disney lançaram uma adaptação cinematográfica, sob direção de Joe Johnston, responsável também pelo atual filme do Capitão América. O aniversário de 20 anos da produção trouxe as atenções de volta ao personagem, como nesta animação feita por um fã.