Guadalupe
Editora: Quadrinhos na Cia. – Edição especial
Autores: Angélica Freitas (roteiro) e Odyr (desenhos).
Preço: R$ 32,00
Número de páginas: 120
Data de lançamento: Novembro de 2012
Sinopse
No Novo México, às vésperas de completar 30 anos, tudo o que Guadalupe quer é esquecer seu trabalho no sebo de Minerva, seu tio travesti e sair para beber e dançar com os amigos.
Mas, no meio do pior engarrafamento do ano, ela fica sabendo que a sua intrépida avó Elvira morreu ao chocar sua scooter com uma banca de tacos.
Guadalupe é a única que pode cumprir o último desejo da anciã: um enterro com direito a banda de música em Oaxaca, povoado onde nasceu. Ela, seu tio, uma poodle e o caixão partem no seu velho furgão rumo à cidade.
No caminho, Minerva dá carona a um exótico rapaz, que se diz guatemalteco, e os problemas começam.
Positivo/Negativo
Os autores gaúchos dessa divertida viagem pop psicodélica definem Guadalupe como uma espécie de roadtrip (em alusão ao road movie do cinema).
É também uma miscelânea chicana: tem cogumelos alucinógenos “que despertam o super-herói em você”, rituais, deuses astecas histéricos que se comunicam via celular, comédia ligeira e até o Village People.
O álbum faz parte do projeto coordenado pelo escritor Joca Reiners Terron (Guia de ruas sem saída) por meio da RT Features e do selo Quadrinhos na Cia., que visa reunir escritores com quadrinhistas, como foi Cachalote, de Daniel Galera e Rafael Coutinho, A máquina de Goldberg, de Vanessa Barbara e Fido Nesti, V.I.S.H.N.U., de Eric Archer, Ronaldo Bressane e Fábio Cobiaco, e Campo em Branco, de Emilio Fraia e DW Ribatski.
A poeta Angélica Freitas (de Um útero é do tamanho de um punho) faz sua estreia nas HQs ser fluída graças a sua “pegada” de realidade fantástica e a parceria com o veterano Odyr Bernardi (Copacabana), que empresta seu traço sujo, grosso e estilizado para retratar a aventura da protagonista – à beira ser balzaquiana – na sua busca de perspectivas e do próprio destino.
Acompanhando a dinâmica cinematográfica do artista, Freitas não lota os quadrinhos com tediosos ou descritivos recordatórios (algo comum para quem está começando a enveredar pelo gênero) e dita o ritmo acelerado junto com os diálogos rápidos, econômicos e certeiros dos personagens.
Mesmo sendo um ponto positivo, esse “ritmo” também conta como uma “deficiência” na história para se aprofundar nos personagens (com exceção da vó Elvira, que ganha algumas páginas de flashback).
Entre lantejoulas e doses de tequilas, Guadalupe também toca em temas como a família, a identidade de gênero, sexualidade e finitude da vida. Tudo de forma leve (até demais), mas sem ser didático ou panfletário.
Com a ambiência mexicana e o embalo pop com o realismo fantástico, fica impossível não se lembrar da famosa obra dos irmãos Jaime e Gilbert Hernandez, a série Love & Rockets.
Inclusive a série é citada visualmente em um pôster no quarto da Guadalupe (junto com outro da Patti Smith, cantora e poeta norte-americana, símbolo do movimento punk nos anos 1970).
O trabalho de edição é correto: capa cartonada (sem orelhas), boa impressão em papel offset e apenas uma rápida biografia da dupla.
Em Guadalupe, Odyr mostra que é um grande artista (apesar de este resenhista preferir a funcionalidade de seu desenho em formatos menores, como em Copacabana, escrito por S. Lobo) e Angélica Freitas prova que uma estreante pode dar conta do recado, sem ser presa aos pedantes vícios literários.
Classificação