HELLBLAZER - HIGHWATER – PECADOS DO PASSADO
Editora: Panini Comics - Edição especial
Highwater (Hellblazer # 164-167) - Brian Azzarello (roteiro), Marcelo Frusin (arte), James Sinclair e Zylonol (cores) e Lee Loughridge e Zylonol (separação);
Uma nova camada de tinta vermelha (Hellblazer # 168) - Brian Azzarello (roteiro), Giuseppe Camuncoli (desenhos), Cameron Stewart (arte-final) e Lee Loughridge (cores);
Caçando demônios (Hellblazer # 169) - Brian Azzarello (roteiro), Giuseppe Camuncoli (desenhos e arte-final), Cameron Stewart (arte-final) e Lee Loughridge (cores).
Preço: R$ 19,90
Número de páginas: 136
Data de lançamento: Agosto de 2010
Sinopse
Highwater - John Constantine está em Highwater para se encontrar com Marjorie. Mas nada é muito fácil quando se trata do mago inglês.
Uma nova camada de tinta vermelha - Uma noitada típica para John Constantine.
Caçando demônios - Enquanto SW e um padre conversam, se revela mais sobre o mistério em que Constantine está enfiado desde que chegou aos Estados Unidos.
Positivo/Negativo
Hellblazer é um título muito bem tratado. Basta ao leitor ver o histórico de escritores talentosos que passaram por ele e deixaram, ao menos, uma história memorável: Jamie Delano, Neil Gaiman, Grant Morrison, Paul Jenkins, Warren Ellis e Garth Ennis, pra ficar só nos principais.
Além da habilidade com roteiros, todos têm outra coisa em comum: são britânicos. Ingleses, escoceses, irlandeses, com sua imensa diversidade cultural e diferenças, mas unidos por esse reino comum. Britânicos como o personagem John Constantine.
Brian Azzarello se junta a esse grupo pelo talento, mas não pela nacionalidade - é norte-americano. Antes dele, somente dois autores não britânicos escreveram o personagem: o também estadunidense Dick Foreman (uma edição) e o croata Darko Macan (dois números).
Portanto, Azzarello é o único "estrangeiro" a escrever Hellblazer por tanto tempo - o seu arco começa na edição # 146 e se encerra na # 174. E o seu pressuposto é brilhante: tirar John Constantine de Londres e arremessá-lo no interior dos Estados Unidos.
A Inglaterra é mais que um cenário para as histórias de Constantine, é mais até que uma coadjuvante, é parte da caracterização do personagem. O protagonista de Hellblazer não poderia estar em outro lugar.
Assim, o pressuposto de Azzarello tira parte daquilo que é o personagem. E, ao impedi-lo de rodar por Londres, o escritor cria a tensão constante do forasteiro que vai aprendendo as regras do lugar estranho onde está.
Mas como seria ingênuo mandar o velho John pra um lugar exótico, como uma floresta tropical, Azzarello o coloca nos Estados Unidos, país que guarda relações óbvias com Inglaterra, porém lhe é bastante diferente.
Há um sentimento de que há algo estranho em todas as histórias dessa passagem de Constantine pelos Estados Unidos. As tramas são boas, a arte é sempre de alto nível, mas algo está fora de lugar. Esse estranhamento é o mesmo sentido por John. Leitor e personagem compartilham a certeza de que, aquilo que percebem, não se sabe bem como, origina algo novo que se parece com um velho conhecido.
O escritor norte-americano usa um cenário que conhece muito bem - basta conferir o seu trabalho com a série 100 balas. E desfila diante de Constantine temas e mitos típicos dos Estados Unidos: a prisão, a pornografia, o serial killer, o exército, os bares de estrada. Nesta edição, é a vez do preconceito e da religião.
No arco em quatro partes, a estrutura das histórias é a mesma: um longo discurso distribuído em recordatórios, com a apresentação do dono da voz ao final. A trama é desenvolvida com competência, os personagens são aprofundados e bem elaborados e a arte de Marcelo Frusin é ótima. O destaque, contudo, é o texto.
O texto é de uma argumentação fantástica. Mistura religião e preconceito com um a justificar o outro. É uma aula de retórica. E, claro, esse teor preconceituoso se prova pelos atos falaciosos e equívocos.
Ao final de Highwater, o leitor reavalia em retrocesso o trabalho de Azzarello. As relações começam a se montar, o sentido a se fortalecer e as histórias anteriores parecem ainda melhores.
Em seguida, uma das melhores tramas de edição única de Hellblazer. Com uma prostituta, Constantine vagueia pela noite, testando a moral, a ética e o caráter de todos que encontra. É o personagem em seu estado puro. Aqui não há aquele estranhamento do arco anterior.
A história que encerra a edição traz algumas respostas e outras perguntas a essa longa caminhada de Constantine pelos Estados Unidos.
A edição da Panini é boa, com um resumo dos eventos anteriores e as capas originais. Observe-se que a editora optou por dividir o encadernado original em dois. O próximo trará as últimas histórias de Azzarello com o personagem.
O custo é o responsável pela decisão. Optou-se por lançar dois encadernados com preço mais baixo. Não há prejuízos como interrupção de uma história pela metade, mas resta saber se a soma dos dois volumes não vai se provar mais cara que uma única mais polpuda.
Brian Azzarello começa a encaminhar para o fim sua passagem por Hellblazer, assim como John Constantine encerrará sua andança pelos Estados Unidos. Ao leitor, sobra a memória de uma boa série de histórias.
Classificação: