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Hellblazer – Infernal – Volume 1 – Hábitos perigosos

30 maio 2014

Hellblazer – Infernal – Volume 1 – Hábitos perigososEditora: Panini Comics – Edição especial

Autores: Garth Ennis (roteiro) e Will Simpson (arte) – Originalmente publicado em Hellblazer # 41 a # 48.

Preço: R$ 24,90

Número de páginas: 212

Data de lançamento: Maio de 2014

Sinopse

Em virtude de seu recém-descoberto câncer de pulmão, John Constantine prepara, talvez pela última vez, suas artimanhas e estratagemas.

Positivo/Negativo

Hoje é comum ouvir o uso de termos como “obra-prima” ou “divisor de águas”, principalmente graças às frases em contracapas ou pôsteres, com o intuito de engrandecer algo medíocre, quiçá levemente acima da média. E é com grande cuidado que esta resenha usará tais palavras, contextualizando-as no universo de Hellblazer e dos quadrinhos adultos.

Hábitos perigosos é um divisor de águas na série mensal de John Constantine por ser um novo começo, após três anos e meio (a edição # 41 marca o início do arco), trocando toda a equipe – do roteirista e artista passando pelo capista e ilustrador. Mais do que a mudança no time criativo, contudo, trata-se de um verdadeiro começo.

O Constantine de Hábitos Perigosos, logo nas primeiras páginas (recobrando os eventos de sua vida pela saga do Monstro do Pântano e as demais histórias da série mensal), direciona a mudança do foco da série. O tom vai saindo do monólogo existencialista para o personagem assumir as rédeas da situação e buscar em seu fatalismo a esperança.

O mago deixa de ser um espectador (ainda que bastante ativo, agindo e interferindo), para ser de fato protagonista e assumir o controle, e é o que vai se construindo a cada uma das edições.

Fica clara essa diferença no confronto entre Constantine e o diabo, no porão de Brendan Finn, se comparado ao metafísico embate com Nergal (Hellblazer – Origens – Volume 3) ou O Deus de todos os deuses (Hellblazer – Origens – Volume 4) ou mesmo a Brujeria da saga do Monstro do Pântano. As coisas são mais diretas e menos filosóficas.

Ennis faz questão de ser mais cru, visceral, mas ainda muito humano, com uma ênfase sempre clara no mundo real – seja na ameaça da vez, um câncer de pulmão, ou nos personagens, como o simpático paciente Matt no hospital.

É essa perspectiva humana que oferece o grande diferencial da história, ainda mais num universo repleto de soluções tolas e mirabolantes, em que a magia preguiçosamente resolve todos os problemas com o estalar de dedos. Mas é o talento do roteiro talhado por Ennis que mostra, no epílogo, que esse estalar de dedos tem um preço.

Will Simpson também se esforça na criação de uma arte que reflita um tom de decadência e sujeira, das ruas de Londres aos personagens (como o mal-encarado garçom do começo ou, novamente, o idoso Matt), e ainda que pareça familiar aos leitores já tradicionais da série.

O desenhista, com sua característica própria, expõe em nuances e tons tanto a beleza quanto a depravação. Tudo com um traço mais realista – ainda mais se comparado ao estilo mais caricato de Steve Dillon, que assume a série após a saída de Simpson.

De fato, é discutível se este é o melhor trabalho de Ennis (com um vasto repertório como Preacher e Justiceiro e mesmo outras memoráveis histórias em Hellblazer) ou de John Constantine. Mas não o seu impacto. Afinal, mesmo duas décadas depois de seu lançamento original, em 1991, a história de John Constantine se debatendo com o diagnóstico de câncer continua atual e relevante, justamente por trazer à baila um assunto que, ainda em 2014, é bastante sensível e delicado.

Discutindo um tabu de forma séria e inteligente, mas sem perder o humor cáustico, Garth Ennis constrói soberbamente um poderoso começo para sua fase, e uma história que ainda ressoará por muitos anos e, sem dúvida, estabelece o grande divisor de águas para a série Hellblazer – o antes e depois de Hábitos perigosos. E é justamente por isso que é simplesmente imperdível.

Classificação

5,0

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