HIROSHIMA, MEU HUMOR
Título: HIROSHIMA, MEU HUMOR (Geração Editorial) - Edição especial
Autor: Henfil (texto e arte).
Preço: R$ 25,00
Número de páginas: 192
Data de lançamento: Janeiro de 2002 (quarta edição; a primeira é de 1966)
Sinopse: Primeiro livro do humorista mineiro Henrique de Souza Filho, o Henfil (1944-1988). Trata-se de uma coletânea de charges originalmente publicadas no ano de 1965, divididas por temas, cobrindo desde eventos políticos globais a inusitados fatos cotidianos, vistos com o tradicional humor negro e iconoclasta que marcou sua obra.
O livro inclui ainda homenagens de amigos famosos, como Millôr Fernandes e Jaguar, além de dois textos introdutórios (um mais recente, de Ivan Consenza de Souza, filho do autor; o outro, da primeira edição, redigido por Márcio Rubens Prado).
Positivo/Negativo: Difícil falar de Henfil. Seu traço "estranho", por vezes sujo, condizia com seu humor mordaz, de um sarcasmo profundo; uma metralhadora de risos apontada para os "ratos" (nos dizeres de Millôr).
Sempre envolvido com a política, Henfil realizou a maior parte de seus trabalhos num dos momentos mais insólitos de nossa História, as décadas de 1960 e 1970. No plano global, a Guerra Fria e suas conseqüências eram uma preocupação constante. No Brasil, em específico, os "áureos" tempos da Ditadura Militar, nos anos de chumbo do regime, faziam brotam dos corpos desaparecidos no Araguaia, dos "suicídios" nas delegacias, da intelectualidade exilada, a fina flor da rebeldia.
Seja na música, no teatro, no cinema, ou mesmo no humor, uma pequena revolução foi realizada, numa tentativa (bem-sucedida?) de contrapor-se às práticas e idéias oficiais de cerceamento da produção cultural, ou seja, do próprio intelecto de toda uma nação.
Entender Henfil é entender esse período. Qualquer tentativa de abstrair sua obra do contexto em que foi gerada é uma traição a seus propósitos, porque o autor era, antes de tudo, um crítico ferrenho do sistema vigente. Participou ativamente do Pasquim, lendária publicação alternativa de grande importância; chegou mesmo a militar pelo Partido dos Trabalhadores.
Suas posições políticas eram claras, e foram expressas com genialidade em suas charges, principalmente com a criação de sua personagem mais carismática, a pequena Graúna, e do absurdo Ubaldo, encarnação da paranóia dominante daqueles dias. Ambos, e mais o ótimo Fradim, tiveram suas charges publicadas pela mesma editora em livros subseqüentes.
Em Hiroshima, Meu Humor (desde o título, uma coletânea de ironias), nenhum de seus famosos personagens aparece, contudo nem por isso a obra perde encanto.
O livro reúne mostras do excelente trabalho do autor, realizadas nos distantes idos de 1965 (um ano após o golpe), com sátiras certeiras reunindo desde temas cotidianos a grandes acontecimentos mundiais (como o passeio do primeiro homem no espaço), geralmente a partir de matérias de jornais.
O apego do desenhista à atualidade exige constante ajuda ao leitor mais jovem, e mesmo a todos aqueles que não tinham idade suficiente em 1965 ou os que não trazem seus eventos tão frescamente na memória que possam imediatamente identificar as situações satirizadas.
E é aí que a, de resto ótima, edição peca (além de algumas poucas letras borradas). Os leitores do século XXI carecem de alguma base histórica para melhor compreenderem as piadas (em geral, muito apegadas ao contexto).
Seria ideal introduzir na publicação notas explicando cada evento retratado pela pena febril de Henrique de Souza Filho, um dos melhores (senão o melhor) humorista gráfico que esse país já teve.
Mesmo assim, foi excelente a iniciativa de republicar a obra de Henfil para as novas gerações, os filhos e netos da década das revoluções.
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