Mendelévio e Telúria (nomes que João Marcos, criador dos personagens, buscou na tabela periódica dos elementos químicos) não são muito diferentes de outras criações dos quadrinhos que vivem no universo infantil.

Eles brigam entre si, fazem traquinagens, imaginam as mais absurdas brincadeiras, pensam coisas além da lógica dos adultos e, às vezes, até imitam gente grande.

Mas nem todos os personagens infantis mostram esse mundo de ingenuidade e despreocupação com a vida de uma forma tão crível e com tanta identificação com o dia a dia da criançada.

Esse é o grande barato das HQs de Mendelévio e Telúria.

O traço pesado e estilizado dos desenhos de João Marcos não consegue esconder: esses dois irmãos são tão reais quanto qualquer criança que o leitor deste álbum ainda é ou foi algum dia.

Histórias tão pequenas de nós dois, com seu humor feito essencialmente para crianças, pode até ser "impróprio para maiores". Mas HQs como Irmão, Estrela e Onde ficar? têm um cinismo e um nonsense capazes de provocar boas risadas nos adultos.

O autor, que também é roteirista da Turma da Mônica, mostra nesta edição sua experiência de causa nessa seara.

Em um depoimento na última página, ele afirma buscar inspiração nas situações cotidianas e travessuras que viveu quando criança, ao lado das duas irmãs - os três até aparecem na reprodução de uma foto antiga do arquivo pessoal de João Marcos, ilustrando o texto.

Vale ainda registrar o bom trabalho da editora Abacatte. O acabamento gráfico do álbum, com capa cartonada e detalhes em verniz e miolo em papel couché, chama a atenção de imediato. E, com exceção da ausência de alguns travessões que deveriam fechar um ou outro aposto, no prefácio de Ziraldo, as regras gramaticais foram seguidas à risca em toda a edição.