Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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HITMAN # 6

1 dezembro 2001

Hitman #6

Título: HITMAN # 6 (Brainstore)

Autores:Garth Ennis (Roteiro) e John Mccrea (desenhos).

Preço: R$ 7,90

Número de Páginas: 48

Data de lançamento: Maio de 2003

Sinopse: Hitman, Mulher-Gato, Débora Tiegel e Natt, todos dentro de uma igreja, terreno consagrado e, conseqüentemente, seguro, estão cercados pelo demônio Mawzir.

O grande problema é que ele tem aliados humanos que não se intimidam com uma igreja, e os nossos heróis estão com pouca munição. Há apenas duas possibilidades de salvação: confiar num outro demônio chamado Etrigan e, o que parece ainda mais improvável, aguardar a chegada do fiel Sixpack e da secção oito, uma equipe de sub-heróis.

Positivo/Negativo: Realmente a vida de leitor de HQs inteligentes não é nada fácil neste país do futuro (incerto) e da vanguarda do atraso. Das cinco melhores publicações regulares, uma (Dylan Dog) parece estar com os dias contados; outra, Hitman, sai a cada mudança de estação!

A edição anterior de Hitman, a cinco, saiu, em janeiro! No entanto, creio que se fosse possível, o editor Eloyr Pacheco tornaria esta publicação semanal!

Qual seria a causa da baixa popularidade de uma HQ tão inteligente como Hitman?

Uma forma de responder a esta pergunta é tentar situar o personagem no universo das HQs: o personagem de Garth Ennis insere-se numa área nebulosa, a meio-caminho entre O Justiceiro e o humor anárquico da Mad. Não há heroísmo ou qualquer questionamento ético ou moral nesta série. Prevalece um "caos" de cinismo e decadência generalizada que se revelam em páginas e diálogos sujos e amorais marcantes.

Pelo que se afirmou acima, o publico desta HQ é formada por leitores receptivos à sátira desenfreada de Ennis, o que leva à óbvia conclusão de que esta série pede leitores apaixonados por quadrinhos, e com uma memória razoável para os chavões e lugares-comuns que permeiam as edições do mainstream.

Caso fosse adaptado para o cinema, Hitman teria como diretor alguém como Robert Rodrigues, autor do filme A Balada do Pistoleiro, ou seja, uma produção que aliaria a violência cômica a uma boa carga de "cultura terceiro mundo" e uma coleção de citações para iniciados!

Portanto, Hitman é o que podemos chamar de personagem cult!

Há outros deles, que nunca venderão toneladas de gibis como os X-Men, Batman ou o Homem-Aranha, mas que não são "malditos" no Brasil, como é acontece com Hitman! Da mesma DC Comics, Hellblazer não é um mega-sucesso, mas se mantém até mesmo na terra do samba e carnaval!

A maior das ironias é que, a cada leitura, fica a impressão que não poderia haver personagem mais bem adaptado ao Brasil do que o Hitman. Da mesma maneira que o Quarteto Fantástico não parece viver em outro pais, mas sim em outra dimensão; Tommy Monaghan e sua turma não parecem viver em Gotham City (uma paródia de Nova York), mas numa grande metrópole da América Latina.

Para sustentar esta tese, este número 6 é perfeito. Na Gotham City do personagem há corrupção policial; não falta superstição e misticismo para todos os gostos; a Mulher-Gato é a "cachorra"; as ruas são sujas e tomadas por freqüentes tiroteios e balas perdidas; nesta aventura, Monaghan acende uma vela para Deus e outra pro diabo; e no Brasil, gente fina como Natt é mato...

Há ainda duas características que aproximam Hitman do Brasil. A primeira é o próprio Monaghan: o malaco com superpoderes, um cara lúcido que procura ser íntegro à sua maneira (Tiegel é prova disso), preocupado em não levar um tiro à toa e sem a menor ilusão sobre a sua condição de Zé Mané!

A ultima característica que nos aproxima deste universo é explícita nesta aventura. Sixpack é um verdadeiro murro no estômago de todos aqueles que ora subestimam, ora superestimam os chamados párias.

Como o Seu Kreison, do Casseta & Planeta, Sixpack é a mediocridade encarnada (um Homer Simpson alcoólatra e megalomaníaco), resistente e impulsionada por um orgulho insano.

Ao contrário de uma Macunaíma ou de um João Grilo, Seu Kreison e Sixpack nem espertos são. Mas a persistência, no caso do último, revela que o personagem não é revolucionário ou reacionário. Na verdade, é a gargalhada para toda pretensão redentora própria dos chamados formadores de opinião!

Talvez, para muitos leitores brasileiros, em Hitman a dose de escárnio seja perturbadora.

Leitores de HQs uni-vos para salvar a HQ mais politicamente incorreta do momento!

Classificação: - Fernando Viti

 

Classificação:

4,0

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