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HOMEM-ARANHA # 33

1 dezembro 2004


Autores: O Incrível Homem-Aranha - J. Michael Straczynski (roteiro) e John Romita Sr. e John Romita Jr. (desenhos);

O Espetacular Homem-Aranha - Paul Jenkins (roteiro) e Humberto Ramos (desenhos);

Spider-Man Unlimited - Joseph Goodrich (roteiro) e Takeshi Miyazawa (desenhos);

Homem-Aranha/Dr. Octopus: Exposição Negativa - Brian K. Vaughan (roteiro) e Staz Johnson (desenhos).

Preço: R$ 6,50

Número de páginas: 96

Data de lançamento: Setembro de 2004

Sinopse: O Incrível Homem-Aranha - Preso no fluxo temporal entre seu passado e seu possível futuro, o herói terá a chance de reviver os principais momentos de sua história e analisar os rumos que sua vida tomou após a picada da aranha radioativa.

O Espetacular Homem-Aranha - Justamente quando Peter Parker pensava que sua vida estava entrando em um momento de calmaria, um famoso inimigo ressurge das sombras.

Spider-Man Unlimited - Peter e seu alter ego mudam a vida de uma garotinha em estado terminal.

Homem-Aranha/Dr. Octopus: Exposição Negativa - O Dr. Octopus está livre, e Jeffrey Hodjo finalmente terá a chance de tirar uma foto merecedora da primeira página do Clarim Dário. Isso se um certo herói aracnídeo não atrapalhar.

Positivo/Negativo: A belíssima capa de J. Scott Campbell (e não Eddie Campbell, como está creditado na revista )para a 500ª edição de O Incrível Homem-Aranha funciona como o prenúncio perfeito para a melhor história de J. Michael Straczynski à frente do título até hoje. Se no último número o autor já mostrou talento em construir tramas à moda antiga (nas quais a fantasia estava sempre elevada ao quadrado), agora adiciona um elemento inusitado à fórmula - cérebro.

E não entenda por "cérebro" as cansativas discussões filosófico-existenciais do começo do seu trabalho à frente da revista. Straczynski agora se esforça em aplicar inteligência não à mensagem passada pela história, mas à trama em si, construindo um roteiro grandioso, mas não grandiloqüente.

O resultado é uma soma da diversão desenfreada da última edição com a trama pensante desta. E Straczynski não poderia combinar os dois elementos, aparentemente tão distantes, de forma melhor. A parte final do arco Feliz Aniversário tem tudo que uma HQ de aventura precisa para se tornar um clássico: cenas de ação bem construídas, diálogos sinceros, personagens honestos e emoção na medida certa; tudo amarrado por um roteiro meticuloso e inteligente, capaz de cativar desde o crítico mais voraz até o fã mais incrédulo.

A trama usa o inventivo plot da última edição como base para criar uma aventura de autoconhecimento. Nela, o herói revê momentos cruciais de sua história - a picada da aranha radioativa, a morte de Gwen Stacy - e tem vislumbres de um possível futuro, enquanto espera para ser recolocado em seu fluxo temporal correto.

Claro que, ao encarar os fantasmas do passado, o aracnídeo acabará defrontando-se com um famigerado dilema dos quadrinhos: "será que valeu a pena?".

A premissa, que poderia facilmente se converter em um melodrama clichê, vira ouro nas mãos de Straczynski. Em vez de montar um roteiro lacrimoso, ele prefere mostrar que o mais humano dos heróis sofreu, sim. E muito! Mas não virou vítima de sua própria tragédia.

Em apenas 40 páginas, o roteiro resume os mais de 40 anos de história do personagem de forma competente e criativa, respeitando a inteligência do leitor e a tradição do herói.

Se "valeu a pena" ou não, Straczynski deixa que o leitor tire sua própria conclusão. Mas Peter, após rever sua extensa jornada de poder e responsabilidade, e ter um dos encontros mais originais (e não forçados!) dos quadrinhos mainstream, tem sua própria resposta, que se faz notar de forma sublime, nas entrelinhas, nesta que é uma das melhores homenagens que a Marvel já publicou.

Um destaque extra para o tenebroso futuro do Homem-Aranha. Melhor que qualquer Ezekiel da vida, a descoberta pode dar pano para muita manga, se explorada com inteligência. Ponto para Straczynski, que insere algo realmente novo no universo do personagem e prepara o terreno para futuras gerações de escritores.

A arte da história é um ponto alto da revista. Feita a quatro mãos por John Romita Sr. e John Romita Jr., ilustra de forma irretocável a saga aracnídea sem jamais perder a força. O traço está sempre claro e limpo, a narrativa é perfeita e inexistem poses estáticas. Impossível pedir mais.

A união dos dois artistas não poderia ser mais adequada. Assim como seu pai fez nos anos 60 e 70, John Romita Jr. deu ao Homem-Aranha uma identidade. Seus traços poligonais desagradaram uma meia-dúzia de fanáticos, mas nada que arranhasse a reputação que o desenhista ganhou ao aplicar seu inconfundível estilo às aventuras do Escalador de Paredes.

A já clássica fase do desenhista à frente do título pode ser apreciada em toda sua magnitude no "pôster" das páginas 30 e 31, uma visão conceitual sobre a jornada retratada no roteiro.

John Romita Sr., que surgiu como substituto do co-criador do Aranha, Steve Ditko, só aparece no final, ilustrando o epílogo. É suficiente, porém, para fazer a alegria dos nostálgicos, que não deixarão de sorrir ao verem os tradicionais "risquinhos" nos rostos dos personagens.

Em O Espetacular Homem-Aranha, Paul Jenkins continua eficiente, mas começa a dar sinais de cansaço. Não porque esteja perdendo seu inigualável faro para escrever bons roteiros, mas porque a obrigação de fazer histórias sob encomenda parece estar pesando demais sobre seus ombros.

O fato é que Jenkins perdeu a liberdade criativa que tinha em Peter Parker: Spider-Man e ganhou um título criado pela Marvel exclusivamente para dar manutenção ao universo da Aranha. Os plots, criados pelos editores, servem apenas para potencializar as vendas de outras revistas ou fazer a alegria dos fãs mais radicais. Sobra para o autor a missão de escrever histórias boas com eles.

Primeiro, Jenkins se virou para trazer o Venom de volta. Agora, precisa introduzir o "novo" Dr. Octopus no universo do aracnídeo. Sua competência o permite "driblar" a falta de liberdade criativa, mas não escondê-la. Ou seja, os gibis funcionam, mas não tem aquele feeling das suas tramas autorais, como o estupendo arco Morte em Família ou a minissérie Origem.

Por isso, a trama burocrática deste número não empolga. O Dr. Octopus voltou, está mais forte, rápido e esperto, mas não tem graça nenhuma. O final é totalmente previsível, e não é preciso ler essa primeira parte inteira para adivinhá-lo.

Deve ser difícil para jenkins definir o que é mais penoso: arranjar assunto para arrastar a trama por mais quatro edições ou assistir J. Michael Straczynski usar e abusar de sua liberdade criativa no título principal do aracnídeo.

Nesta edição, as aventuras amalucadas de Venom cedem lugar a uma história extraída da primeira edição de Spider-Man Unlimited, revista que segue o mesmo esquema de X-Men Unlimited, com aventuras curtas e fechadas e equipes criativas rotativas.

É a primeira edição de Unlimited (o título estreou em março deste ano nos Estados Unidos), e já começa mal: o roteiro de Joseph Goodrich é chato, cansativo e desinteressante; e a arte de Takeshi Miyazawa parece ter sido inspirada nos desenhos de Crayon Shin-Chan. A trama, para piorar, ainda tem uma "moral da história" vergonhosamente piegas.

A falta de espaço obriga os escritores a criarem roteiros pobres e imediatistas, que não correspondem às personalidades complexas dos heróis. Embora seja possível escrever histórias curtas e boas, é um exagero pensar que os personagens podem render títulos mensais apenas com essa premissa.

E como os autores ou são novatos em "fase de teste" (como Goodrich com o Homem-Aranha) ou roteiristas "tapa-buraco" (como Chuck Austen com os X-Men), a grande maioria das histórias dos títulos Unlimited não passa do nível da mediocridade. Resta saber por quanto tempo a Marvel persistirá com eles.

Em sua conclusão, Homem-Aranha/Dr. Octopus: Exposição Negativa retoma o fôlego perdido na última edição e termina com dignidade. Apesar dos altos e baixos, o saldo final é positivo e mostra que, com um pouco mais de aprimoramento, Brian K. Vaughan e Staz Johnson podem se tornar uma equipe criativa apta a assumir um dos títulos regulares do aracnídeo no futuro.

Se existe alguém que lucrou com a minissérie, foi o desenhista. Exposição Negativa não é o melhor de Brian K. Vaughan (vide Y - O Último Homem), mas com certeza é o ponto alto da carreira de Staz Johnson, pelo menos até agora.

É o único projeto em que o ilustrador pôde mostrar sua bela arte sem a interferência de outros artistas (na adaptação oficial de Homem-Aranha 2, ele dividiu o crédito dos desenhos com Pat Olliffe e Ron Lim), e permanece como sua maior realização dentro da Marvel.

Já o roteiro ganhou em agilidade e se manteve interessante sem ficar repetitivo. A seqüência de ação (que ocupa quase toda a história) é muito bem feita e apresenta o novo Dr. Octopus, sombrio e com cara de mau, em todo seu auge.

Além dele, há também um Homem-Aranha espirituoso, piadista e hiperativo, do jeito que o público aprendeu a gostar, e Jeffrey Hodjo, o intermediário entre os protagonistas, salvando a pele do herói. Se por um lado nada é muito original, por outro é tudo tão bem orquestrado que o leitor nem se dá conta da falta de inventividade.

O epílogo, muito bem-conduzido, traz uma sensação de "dever cumprido" que serve para resumir toda obra. Exposição Negativa está longe de merecer um prêmio Eisner, mas vale quanto pesa, nunca prometendo mais do que entrega. E isso, na corrida de egos que é o mercado mainstream hoje, é uma qualidade a ser respeitada.

Classificação:

4,0

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