HOMEM-ARANHA # 34
Título: HOMEM-ARANHA # 34 (Panini Comics) - Revista mensal
Autores: O Incrível Homem-Aranha - J. Michael Straczynski (roteiro) e John Romita Jr. (desenhos);
Venom - Daniel Way (roteiro) e Paco Medina (desenhos);
O Espetacular Homem-Aranha - Paul Jenkins (roteiro) e Humberto Ramos (desenhos)
Preço: R$ 6,50
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Outubro de 2004
Sinopse: O Incrível Homem-Aranha - Tia May é uma mulher com um passado tortuoso, um presente confuso e um futuro incerto. E agora, também conhecedora de um dos segredos mais bem-guardados das HQs. Como será viver em uma Nova York onde o seu sobrinho é o Homem-Aranha?
Venom - Frankie e Vic jogaram uma bomba nuclear na cidade de Voici para evitar que o Venom pudesse achar um hospedeiro. Agora, a dupla está prestes a capturá-lo, mas não sabe que em seu caminho estará o Homem-de-Preto; e no da criatura, um certo baixinho canadense.
O Espetacular Homem-Aranha - O Dr. Octopus está prestes a realizar seu plano mais ambicioso. E desta vez, seus atos poderão resultar na 3ª Guerra Mundial. A não ser que o Aranha atenda suas inesperadas exigências.
Positivo/Negativo: Após a ótima edição de setembro, Homem-Aranha volta novamente com um mix bom, mas com uma maçã podre chamada Venom para atrapalhar.
Em O Incrível Homem-Aranha, J. Michael Straczynski traz uma espécie de epílogo da edição 500, intitulado Intermezzo (intervalo em italiano) número 1, sinalizando que há mais por vir. O leitor acompanha Tia May numa tarde de sábado, refletindo sobre o que se tornou sua vida após descobrir o alter ego de seu sobrinho.
O autor volta a apostar na sua maior virtude dentro do universo do Aranha: a forma sensível, honesta e não-piegas de retratar as relações humanas entre os personagens. Assim, monta um conto singelo e intimista sem cair no lugar-comum ou deixar-se levar pela emoção barata. E, melhor de tudo, conferindo dignidade a Tia May.
Nas histórias do Aranha, ela sempre foi a velhinha frágil e preocupada que, apesar do valor emocional (que a manteve viva até hoje), nunca fez mais do que dar lições de moral, servir de porto-seguro para Peter Parker e se meter em encrenca. Ou seja, o típico estereótipo das pessoas idosas na ficção.
Com Straczynski, isso mudou. Tia May ficou madura, resolvida, segura, ganhou personalidade. Deixou de ser um ornamento para se tornar parte efetiva das tramas. Ou seja, passou a ter algo mais a oferecer. O que serviu, e muito, para enriquecer as histórias.
Esta edição mostra isso: uma mulher forte, que passeia por Nova York certa do quanto sua vida mudou por causa do Homem-Aranha e vice-versa, e de como ambos ainda retribuem o favor um ao outro. E consciente de que, enquanto sai para comprar um celular, seu sobrinho se estapeia com algum vilão fantasiado (em uma aventura divertida, escapista e muito bem intercalada pelo autor).
Fica a torcida para que os próximos intermezzi sejam tão bons quanto o primeiro.
Venom continua sendo o "patinho feio" da revista. Com tramas descabidas e roteiros que parecem ter sido escritos por Chuck Norris, traz de novo o misto de clichês, bizarrices e pancadaria. O resultado é o mesmo das outras edições, ou seja, a quantidade de risadas crescendo em medida inversamente proporcional à qualidade.
Continuando o já exaurido plot "todo mundo caçando todo mundo", Daniel Way põe Wolverine, as agentes gêmeas, o Homem-de-Preto e Patricia Robertson (uma figurante com vida prolongada? A heroína da revista? Ninguém mais sabe) caçando Venom na cidadezinha de Voici, cada um com seu próprio interesse. E a trama acaba aí. O resto é tempero. E nada funciona.
É difícil dizer se Daniel Way está tirando sarro da cara do leitor, da Marvel ou do personagem. Talvez de todos. O fato é que parecer ter perdido completamente a noção de como se escrever uma HQ e passou a tocar a trama de forma ridícula e estapafúrdia. Não há mais uma história, e sim uma sucessão de fatos porcamente conectados.
Funciona assim: Way pega uma situação qualquer (no caso, Venom procurando hospedeiro) e imagina diferentes formas de solucioná-la. A mais absurda, ele escolhe. E isso complicará ainda mais o evento, vai repetindo a dose, até que nenhum leitor se importará em compreendê-la.
Em Espetacular Homem-Aranha, na continuação do arco Contagem Regressiva, não é que, para sorte do leitor, Paul Jenkins consegue reverter as expectativas negativas criadas pela primeira parte?
Nesta edição, ele confere dinâmica ao seu texto e dribla tudo que "empacava" a história no último número (trama previsível, personagens batidos, repetições). O resultado é um enredo ágil, envolvente e, acima de tudo, interessante.
O "final previsível" prenunciado na última edição logo nas primeiras páginas fica para trás. O Dr. Octopus deixa de ser um lunático megalomaníaco para se tornar uma ameaça real e, com isso, cria todo um novo panorama. Até onde Octavius é capaz de ir? Será seu novo alter ego capaz de bolar um plano realmente eficiente contra o Homem-Aranha?
Melhor: conseguirá ele se livrar do estereótipo de "sociopata fantasiado" de todos os antagonistas nos anos 60 e, enfim, se tornar um vilão de verdade? Perguntas que vêm à mente conforme a trama avança.
Competente, Jenkins responde a todas elas. E de forma surpreendentemente inteligente para um gibi comercial, juntando elementos como política norte-americana (e a relação entre democratas e republicanos), crise no Oriente Médio, preconceito contra superseres e até mesmo a ameaça da 3ª Guerra Mundial. Em uma história do Homem-Aranha! E combinando tudo de forma tão cativante que as 43 páginas são lidas em poucos minutos e ainda instigam o leitor a esperar ansioso pela próxima edição.
Na arte, Humberto Ramos continua com seu estilo pessoal, misturando caricatura e cartum. Seu Homem-Aranha pode não ser dos mais elegantes, mas é, com certeza, um dos mais interessantes. Tudo na sua arte é inusitado: as caracterizações "infantilizadas", as influências do mangá (personagens magérrimos, olhos grandes e amendoados, cabelos espetados, expressões exageradas), o contraste entre cores primárias e tons mais escuros (principalmente vermelho e azul, presentes no uniforme do herói) etc.
O resultado pode decepcionar professores de arte, mas funciona esplendidamente quando entregue a um público de cabeça aberta. Como se espera que os leitores de Jenkins sejam.
Além da qualidade da trama, vale citar o cuidado do autor ao tratar de assuntos mais pesados. A relação entre palestinos e israelenses, por exemplo, foge do maniqueísmo tradicionalmente imposto pela mídia para ser tratada com sobriedade e, principalmente, imparcialidade. Nenhum dos lados é colocado como "vilão".
Pelo fato de Jenkins lidar com o mercado mainstream e um público bastante alienado (o norte-americano), é uma bela iniciativa. E também um exemplo de que o maniqueísmo não é a única forma de se contar uma história com heróis, sejam eles superpoderosos ou não. Aprenda essa, Sylvester Stallone!
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