Não se deixe enganar pelo título: não se trata de mais uma HQ caça-níqueis sobre mortos voltando à vida só para "comer" os vivos (embora séries como Os Mortos-Vivos provem que o tema pode render ótimas histórias).

Invasão dos Mortos apresenta mais um anti-herói dos quadrinhos. E dos bons. Antoine Sharpe lembra personagens como John Constantine (Hellblazer) e Elijah Snow (Planetary), mas tem brilho próprio. Também conhecido pelo apelido de "ateu", ele é um cético, descrente do sobrenatural. Acredita que tudo deve ter uma explicação lógica. O problema é que esse não parece ser o caso da trama em questão.

Trama que começa com uma ótima sacada. Mortos voltam à vida no corpo de pessoas jovens, numa espécie de reencarnação. Assassinos seriais, canibais e outros indivíduos perigosos retornam cometendo crimes, buscando sexo e diversão. Em pouco tempo, por um motivo desconhecido, todos se reúnem em Winnipeg, no Canadá.

Cabe a uma agência do governo norte-americano (o que seria do mundo sem essas agências?) convocar o estranho Antoine Sharpe, homem inteligente e sagaz, com capacidade diferenciada de raciocínio lógico, para tentar impedir que essa estranha "doença" avance.

Algumas perguntas que o agente precisará responder: Será mesmo uma doença? Estarão os mortos voltando do inferno? Por que só os "malvados" estão voltando? E, se isso tudo for verdade, qual o objetivo deles?

Habilmente, o roteirista Phil Hester dispõe as peças do quebra-cabeça, na qual um gênio que quase curou o câncer e uma agente canadense farão parte vital na trama. Sharpe descobrirá quem é o improvável líder dos acontecimentos e mostrará que fogo se combate com fogo. Ainda que o enredo cometa um ou outro exagero (especialmente quanto à identidade do líder dos reencarnados), o texto inteligente do autor mantém atenção crescente na história.

Os desenhistas John McCrea (Hitman), com seu estilo algo cartunesco e o também competente Will Volley, com traço mais realista, contribuem com uma inspirada narrativa visual.

A edição apresenta ainda um prefácio e o método de trabalho do roteirista, além de biografias dos criadores.

Novamente, ponto para a Gal Editora, que, depois de lançar bons títulos como Filósofos em ação, Três Dedos - Um escândalo animado e Fracasso de público, segue com mais uma opção de qualidade para os leitores.

O gênero terror faz sucesso nas HQs há décadas e, quando boa parte das possibilidades do filão parecem esgotada, em especial depois do que Alan Morre criou no Monstro do Pântano, eis que surgem autores como Steve Niles e seu 30 Dias de Noite ou Phil Hester nesta Invasão dos Mortos. A vontade de ler novas tramas com o protagonista permite afirmar que quem é fã do gênero não deve deixar de conferir.