IRMÃOS GRIMM EM QUADRINHOS
Título: IRMÃOS GRIMM EM QUADRINHOS (Desiderata)
- Edição especial
Autores: Velho Sultão - Allan Alex;
A Gata Borralheira - Fido Nesti;
João Porco Espinho - Claudio Mor;
Os Músicos de Bremen - Vinicius Mitchell;
O Pequeno Polegar - Daniel Og;
Hansel e Gretel (João e Maria) - Carlos Ferreira (texto) e Walter Pax (arte);
João Sortudo - Rafael Sica;
Branca de Neve - Rafael Coutinho;
O Rei Barbicha - Eduardo Filipe;
Chapeuzinho Vermelho - Arthuro Uranga;
Margarete Esperta - Roberta Lewis;
As três línguas - Odyr;
Rapunzel - Fabio Lyra;
A Bela Adormecida - Allan Rabelo, S. Lobo e Sr. Blond.
Preço: R$ 24,90
Número de Páginas: 176
Data de lançamento: Dezembro de 2007
Sinopse: As histórias clássicas dos irmãos Grimm, resgatadas até a sua forma mais original (ou seja, o mais próximo possível da oralidade que lhes deu origem), são recontadas pela nova geração de quadrinhistas brasileiros.
Positivo/Negativo: 2007 está difícil de acabar para os quadrinhos. A maior prova é este álbum da Desiderata, que fecha o ano da editora com chave de ouro (talvez não seja acaso o dourado na capa). Recontar os contos clássicos dos irmãos Grimm, no entanto, levaria um analista apressado a classificar o livro como "contos de fadas narrados para adultos". E isso não poderia ser mais equivocado. Afinal, apenas A Bela Adormecida conta com suas fadas.
Na verdade, este álbum possui duas virtudes principais. A mais óbvia é o resgate da originalidade das histórias de Wilhelm e Jacob Grimm, que coletaram a história oral do folclore alemão e unificaram em registros impressos as versões combinadas desses, digamos, "causos" do imaginário teutônico.
A menos óbvia, no entanto, é a que mais valoriza o álbum. Coordenado com
mestria pelo editor da Desiderata, S. Lobo, a edição reúne nomes
de reconhecido valor, contrariando a chamada de capa, que anuncia uma
nova geração, sem exceções. É o caso Fido Nesti (hoje ilustrador da prestigiosa
revista New Yorker), Allan Alex (que publica desde os anos 80,
com diversas parcerias com o roteirista Patati) e Odyr. Há novos nomes,
sim, e muito bons, como Vinicius Mitchell e Fábio Lyra. E o livro ainda
abre espaço para trabalhos diferenciados, como os de Claudio Mor, Daniel
Og, Rafael Coutinho, Walter Pax e Eduardo Filipe. São histórias em preto-e-branco
que trazem mais cores do que muitos gibis presentes nas bancas (e que
poderiam perfeitamente ter sido abduzidos) neste ano.
O painel que se forma é muito diverso, com espaço para diversos estilos de narrativa, do convencional ao entrecortado, do lúgubre ao poético. Com esta iniciativa, a Desiderata enfim derruba o velho mito de que nenhuma editora aposta num projeto de quadrinhos que parta dela mesma, preferindo sempre autores com material já pronto.
São detalhes como este que abriram os olhos da Ediouro, que está em vias de concluir a aquisição desta bem-sucedida e jovem editora carioca.
Mas a edição, quando vista com mais apuro, traz alguns problemas de revisão. Um acento colocado de forma errônea na palavra contara, na página 42. A palavra "mal", no lugar da correta "mau" (p.69). Um "expremi", em vez de "espremi" (p. 81). Faltam vírgulas em balões nas páginas 106 e 131; e um artigo definido feminino na 153: "(...) meus cabelos são coisa mais importante...".
Na página 166, dois erros: no terceiro balão, a planta se chama Erica, sem acento; e no quinto, falta o acento grave em "sucumbiram a cerca". Na 167, um problema de conjugação: o correto seria "(tu) estás louco" e não "estais". São muitos errinhos para um álbum que possui uma revisora em seus créditos. No caso da Desiderata, que tem primado pelo apuro técnico, é uma falha a ser corrigida.
Mesmo assim, é uma edição séria, competente, bela, com histórias bem narradas (com destaque para as de Fido Nesti, Rafa Coutinho e Eduardo Filipe) e ilustradas. A adaptação mais longa do álbum (João e Maria), no entanto, tem uma narrativa irregular, com um ritmo lento no início e uma resolução rápida demais no final, saltando trechos importantes e minimizando passagens e personagens (que não serão compreendidos por um leitor menos familiarizado com a fábula).
Irmãos Grimm em Quadrinhos não deixa de ser um álbum para crianças. Mas tome cuidado: originalmente, essas histórias não eram usadas para os infantes dormirem; e sim para assustá-los e passar determinados valores germânicos. Não por acaso, as coletâneas reunidas pelos Grimm acabaram, de fato e com o tempo, sendo um dos principais fatores de unificação cultural do país que hoje se chama Alemanha.
Se você achou mesmo que sua coleção de quadrinhos deste 2007 estava completa, errou feio. É um álbum para, com o perdão da infâmia, deixar o leitor feliz para sempre.
(Nota do resenhista: a primeira versão deste texto foi escrita sob o impacto da primeira leitura do álbum. Após relê-lo, foi consenso destacar as falhas encontradas - e reavaliar a nota anterior. Afinal, é necessário se manter o apuro das avaliações, tanto respeitando o leitor do UHQ como os autores, que merecem que suas obras sejam analisadas criticamente, contribuindo para que o mercado de quadrinhos evolua e seja cada vez mais respeitado no universo editorial.)
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