Irredeemable - Volume 1
Editora: Boom! Studios - Edição especial
Autores: Mark Waid (roteiro), Peter Krause (desenhos), Andrew Dalhause (cores).
Preço: US$ 9,99
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Outubro de 2009
Sinopse
Plutonian era o maior herói do planeta, mas agora é o mais poderoso vilão que o mundo já conheceu. As histórias reunidas aqui tratam de sua queda em desgraça e de como antigos aliados e inimigos tentam detê-lo.
Positivo/Negativo
No texto introdutório que acompanha esta edição, o roteirista Mark Waid explica que Irredeemable é o terceiro capítulo da sequência temática iniciada em Reino do Amanhã, clássico ilustrado por Alex Ross, que prosseguiu com a minissérie Empire, sua parceira com Barry Kitson.
De fato, todas essas histórias exploram um lado mais sombrio da ficção centrada em atos heroicos, seja num futuro desolado do Universo DC, seja numa realidade em que o planeta foi conquistado por um vilão. Para um escritor que ganhou notoriedade com séries de super-heróis mais otimistas e reminiscências da Era de Prata dos quadrinhos, até que Waid está se saindo bem ao explorar o pior da humanidade.
Com mais este trabalho autoral e independente da cronologia das grandes editoras, ele cria um universo próprio de super-heróis e subverte suas engrenagens como apenas um apaixonado pelo gênero seria capaz de fazer.
O Plutonian era um herói adorado por toda a população e responsável pela segurança do planeta, o equivalente ao Superman nesta dimensão imaginária, mas cansou da vida de bonzinho. Nas páginas de abertura da história inicial, ele já é visto chacinando uma família inocente com visão de calor - e suas atrocidades ainda iriam longe.
Waid não busca soluções fáceis e imediatistas para Irredeemable. Além de toda a destruição ocasionada pelo Plutonian, a série investe fundo no passado do personagem com a intenção de mostrar como o herói passou para o outro lado. Não há um momento-chave em que a mudança ocorre, pois ela é fruto de acontecimentos diversos em sua vida, e os quatro primeiros capítulos do título apenas começam a arranhar o tema.
Uma das cenas mais interessantes da revista é um flashback narrativo em que o Plutonian revela a identidade secreta para a colega de trabalho por quem nutria sentimentos, numa clara inversão de valores do triângulo amoroso Superman/Lois Lane/Clark Kent.
Essa visão cínica dos super-heróis remete um pouco a Miracleman, clássica obra de Alan Moore, mas o trabalho de Waid não possui nada de derivativo em sua proposta, e a execução conquista o interesse do leitor de imediato. A sensação de perigo e desespero num mundo ameaçado por um deus furioso é contagiante, pois em lugar algum se estaria a salvo com o Plutonian à espreita.
O elenco de personagens coadjuvantes, composto por heróis e vilões diversos, por sua vez, não é tão marcante, mas funciona dentro do contexto. Nenhum deles é poderoso a ponto de representar ameaça ao Plutonian, mas todos rejeitam a derrota e buscam estranhas alianças contra seu inimigo implacável.
Ainda não se tem muita noção do que poderá ocorrer no desenrolar da série, já que até agora os atos do vilão parecem destruição em larga escala sem um propósito maior. Contudo, as peças já vão sendo mexidas no tabuleiro, de modo a despertar o interesse na leitura.
E essa destruição é muito bem narrada, com destaque para os ataques a Cingapura, rendendo um bom ponto de equilíbrio à jornada psicológica de um homem rumo à danação. Nas sagas tradicionais da Marvel e da DC Comics, um paralelo pode ser feito com relação ao Lanterna Verde, em Crepúsculo Esmeralda.
Quando Coast City foi destruída, o destemido Hal Jordan enlouqueceu, chacinou antigos colegas da Tropa de Lanternas Verdes e ameaçou o universo como o vilão Parallax. Entretanto, foi uma história marcada por interferências editoriais e mudanças de última hora. Em Irredeemable, a passagem de um herói a vilão é narrada como deve ser.
A história conta com a boa arte de Peter Krause, um ilustrador que brilhou no passado em The Power of Shazam!, e realiza aqui um trabalho de qualidade. Sua diagramação é bem convencional, mantendo o tom de uma aventura de super-heróis típica, com ecos de Dan Jurgens e Darick Robertson - mas que logo se transforma com as perversidades do Plutonian.
E esse contraste é certamente um dos grandes acertos do gibi indicado ao Eisner.
A edição conta com um posfácio de Grant Morrison e todas as capas originais. Waid lançou uma segunda série no mesmo universo, chamada Incorruptible, invertendo sua premissa: no caso, é a história de um vilão que se torna herói.
Recentemente, o escritor anunciou que as duas revistas em breve chegarão ao fim, para que ele possa se dedicar a novos projetos. Se tudo prosseguir tão bem como começou, é certeza de uma leitura perturbadora e muito envolvente, fruto da mente de um artista que aprendeu o valor de ser perverso.
Classificação