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ISTO NÃO É UMA REVISTA - DE TERROR

1 dezembro 2006


Título: ISTO NÃO É UMA REVISTA - DE TERROR (Loser Graphics)
- Edição especial
Autores: Cláudio Mor, Leonardo Pascoal e Thiago Cruz (texto e arte).

Preço: R$ 3,00 (mais R$1,00 de frete)

Número de páginas: 32

Data de lançamento: Setembro de 2006

Sinopse: Compilação de charges e histórias curtas que abordam o terror sob o prisma do humor.

Positivo/Negativo: A internet tem oferecido inúmeras possibilidades a autores e leitores de quadrinhos. Uma delas é comercializar fanzines e livros sem o intermédio, por vezes inviável, de bancas, livrarias e lojas especializadas. Artistas que ainda não fizeram fama ou que simplesmente possuem um trabalho "não comercial" encontraram, aí a chance de chegar diretamente ao consumidor, uma fortuita solução para atingir poucos (mas fiéis) admiradores. A rede mundial de computadores torna possível levar o lema punk "faça você mesmo" a um novo nível.

Os quadrinhos, então, como mídia relativamente barata (se comparada ao cinema, por exemplo), mostram-se bastante convidativos aos que buscam um meio de expressão realmente eficaz.

O zine alvo desta resenha, embora também comercializado de modo convencional, é fruto dessa nova perspectiva de mercado direto. Realizado a seis mãos, parte do tema "terror", gênero importante dos quadrinhos brasileiros, para compor uma série de charges e HQs de cunho humorístico. Infelizmente, a referência maior dos autores é o cinema, não os velhos gibis de Zalla e companhia.

Único dos três autores a construir duas HQs de certo peso no zine, Cláudio Mor usa soluções que remetem aos cartuns mais alucinados do início do século passado, em que os objetos ganham rosto, fazendo a história pulsar com um renovado brilho. Ele dá às tramas mais violentas um tom de humor ingênuo, uma superficial inocência que contrasta com o profundo cinismo dos personagens.

Nas suas histórias, a violência e suas conseqüentes deformações e mutilações, ganham um ar festivo, de quem sorri mesmo com um olho saltado e sem a pele do rosto. Malditos sejam os oportunistas é sobre um pé-rapado que tenta ganhar a vida em meio a um ataque de zumbis. Já Causando... horror mostra uma jovem atropelada por um bêbado quando se dirigia a uma festa à fantasia. O inusitado invade o terror, subvertendo-o. O traço de Mor lembra um pouco Allan Sieber.

A história mais importante de Leonardo Pascoal é O Bebê Bizarro, sobre um casal de idosos às voltas com uma criatura que desperta, ao mesmo tempo, horror (nos leitores) e ternura (nos personagens). A idéia é interessante, demonstra a criatividade e o dom natural para o suspense do autor - ele sabe o que mostrar, o que esconder, como abordar o tema etc.

O forte de Leonardo é sua imaginação, mas falta-lhe profundidade e, muitas vezes, uma base narrativa sólida o bastante para dar sustentação às idéias. Seria interessante que se arriscasse a vôos maiores, buscando emaranhar diversas situações nonsense em tramas complexas que refletissem o absurdo de um cotidiano marcado por contradições excruciantes e paradoxos irresolúveis, como o faz, por exemplo, Daniel Clowes.

A monstra Amor à mostra é o principal trabalho de Thiago Cruz e expressa, em poucas e certeiras metáforas visuais, os terríveis sentimentos que sobrevêm ao fim de um relacionamento amoroso. Faz um bom uso da linguagem dos quadrinhos ao externar a angústia do protagonista, cujos tímpanos são estourados pelas palavras frias e cruéis da amada... o peito rasgado pela aliança arrancada... o coração jogado ao chão, feito em fatias e pisoteado sem remorsos.

Thiago domina bem a linguagem corporal e tem rara sensibilidade para expor quase teatralmente os temores mais profundos de seus personagens. Espera-se que leve adiante sua diagramação crepaxiana e que se aventure em tramas mais densas.

O formato do fanzine, menor ainda que o tradicional formatinho, não ajuda. O desperdício de várias páginas com piadas bobas, sátiras fracas e referências descartáveis a filmes de terror, tampouco. Há alguns erros de digitação pelo caminho, mas não chegam a contar negativamente.

Fica a sugestão de que os próximos números tragam o máximo possível de quadrinhos, bem como que os autores lapidem suas especificidades de modo a apresentar histórias mais significativas. Seria bom vê-los explorando melhor o talento que possuem.

 

Classificação:

4,0

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