J. Kendall - As aventuras de uma criminóloga é uma revista bastante particular entre todas as mensais à venda nas bancas.

Pequena, em preto e branco, histórias autocontidas, protagonizada por uma mulher. Além disso, Júlia não tem superpoderes e nem desfila seminua pelas páginas, que aliás, nunca são duplas, pra causar impacto.

O objetivo do criador da série, Giancarlo Berardi é desenvolver personagens e contar boas histórias. Simples assim. Pra isso, conta com um parceiro no roteiro e vários artistas da linha Bonelli, cada um com seu estilo, mas todos com o realismo em comum.

Em Segredos de família, o crime do enredo só acontece no terço final da história. E aí a resolução é no estilo detetive cerebral clássico, como Sherlock Holmes, incluindo acusação na sala com todos os suspeitos.

Mas o leitor fica entediado nos dois terços iniciais? De modo algum, pois o desenvolvimento de personagens e a relação entre eles garante o interesse pela narrativa.

E criando histórias sobre pessoas e não sobre situações é que Berardi obtém o sucesso com suas HQs. É notável a habilidade do italiano em dar vida a personagens carismáticos em poucas páginas, sem recorrer a clichês.

Justamente nesse ponto está outro diferencial entre J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga e a maioria das revistas em quadrinhos publicadas no Brasil mensalmente: não há grandes sagas ou uma cronologia rígida - o que importa é a personagem e suas reações, não as situações.

As narrativas de Júlia são pequenas pérolas mensais, que devem ser apreciadas por qualquer um interessado em boas histórias.