J. KENDALL – AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA # 74
Editora: Mythos) - Revista mensal
Autores:
Giancarlo Berardi (argumento), Giancarlo Berardi, Lorenzo Calza e Alberto Ghè (roteiro), Valerio Piccioni (arte) - Publicado originalmente em Julia # 74.
Preço: R$ 8,90
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Janeiro de 2011
Sinopse
Entre quatro paredes - Um suicídio desperta suspeita em Júlia a chance de ser, na verdade, um homicídio. Porém, a criminóloga torceu o pé e vai ter que investigar de casa.
Positivo/Negativo
Giancarlo Berardi e sua equipe de roteiristas são notórios bons exemplos do modelo de narrativa linear. Isso quer dizer que a preocupação dos autores, acima de qualquer outro aspecto, é contar uma história, com ações que se desenvolvem no tempo, com causas e consequências, sem flashbacks, flashfowards ou saltos temporais.
Pode-se dizer que é uma história com ação contínua. Dentro dessa estrutura, é consagrada a forma narrativa em três atos.
A noção dos atos remete ao teatro, mas hoje é percebida em grande parte do cinema e dos quadrinhos norte-americanos: apresentação dos personagens e do problema (primeiro ato), desenvolvimento do conflito (segundo ato) e resolução (terceiro ato).
Os três atos habitualmente se dividem em 25% do tempo/espaço narrativo pra apresentação de personagens e problemas; 50% pro desenvolvimento; e os outros 25% pro desfecho.
Ou seja, metade da trama se baseia no objetivo do personagem da história. No caso de Júlia (e dos detetives em geral), encontrar o culpado pelo crime.
Berardi, Calza e Aghè modificam a divisão dos atos nesta edição. O primeiro termina na página 44, o que é aproximadamente um terço da narrativa. E fazem ainda mais: o incidente motivador do envolvimento de Júlia não surge no começo, como é o habitual, mas próximo ao fim - no cinema comercial, aconselha-se que o incidente motivador surja antes dos cinco minutos de filme.
O trio de roteiristas surpreende o leitor ao "demorar" a entrar de vez na história. O primeiro ato desta edição investe na apresentação dos personagens e em dar "dicas" do que vai acontecer logo adiante. Por exemplo, Toni, a gata de estimação de Júlia, passeando pela casa nas páginas iniciais, está diretamente relacionada a um "falso" incidente motivador.
"Falso" porque ele levará ao próximo incidente motivador, este sim a origem da trama. A resolução continua a dar dicas e antecipar simbolicamente algumas ideias essenciais - como Júlia presa em casa.
A resolução é das mais clássicas: a arguição final da detetive com todos os suspeitos presentes, para elucidação dos culpados e de suas razões.
Esse pequeno truque de alongar o primeiro ato encurta o terceiro, fazendo com que tudo se revele nas páginas finais. Além dessa jogada estrutural, as relações entre os personagens e seus diálogos estão em alto nível.
Mesmo patamar que merece a arte de Valério Piccioni, retratando expressões e entreditos com grande competência. Muito é falado e mais ainda é mostrado, catalisando a trama por meio dos personagens.
É por esse tipo de trabalho, pensado, autocontido e mais interessado em contar uma boa história do que em megassagas sucessivas, que J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga é, novamente, a melhor revista de bancas do mês.
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