J. KENDALL - AVENTURAS DE UMA CRIMINÓLOGA # 83
Editora: Mythos - Revista mensal
Autores: Giancarlo Berardi (argumento), Giancarlo Berardi e Lorenzo Calza (roteiro), Ernesto Michelazzo (arte) - Publicado originalmente em Julia # 83.
Preço: R$ 8,90
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Outubro de 2011
Sinopse
Jogo Mortal - Participantes de um jogo online são mortos do mesmo modo que seus personagens são vencidos nos jogos. Mas quem teria interesse em matar adolescentes que gostam de passar seu tempo diante do computador?
Positivo/Negativo
A pequena revista J. Kendall - Aventuras de uma criminóloga pertence ao gênero policial. O tipo de cor da capa e o formato remetem a antigas publicações - como a Detetive - que continham contos, fotonovelas e até histórias em quadrinhos. Tudo com temática policial.
Sem falar no "criminóloga" logo no título.
O modelo da novela de detetive tem sido usado por muitos autores de quadrinhos recentes, com resultados bastante diversos, porém, quase sempre positivos: Sin City, Gotham City contra o crime, Alias, Criminal. As excelentes fases de Brian Michael Bendis e de Ed Brubaker no Demolidor têm muito do gênero policial.
Escritores de literatura contemporânea misturam o gênero com outras entradas literárias. Caso de Paul Auster - que teve sua obra A cidade de vidro brilhantemente adaptada para as HQs por David Mazzucchelli.
Portanto, não é questão de dizer que o detetivesco está em alta agora. Embora com mais ou menos repercussão, ele nunca esteve em baixa. E nesse cenário está o gibi da simpática criminóloga Júlia Kendall. Lembrando que a italiana Sergio Bonelli Editore já teve vários outros investigadores publicados no Brasil: Nick Raider, Dylan Dog e Martin Mystère.
Em relação aos outros materiais bonellianos, a primeira diferença é que Júlia somente investiga e não parte para a ação, como Nick Raider. E o foco de suas histórias é o mundo contemporâneo, com grande dose de realidade, diferente dos pesadelos de Dylan Dog e da ficção científica de Martin Mystère.
Há também outra característica marcante em comparação aos demais detetives das HQs: Júlia é mulher.
Os leitores podem lembrar de Alias, protagonizado por Jessica Jones, mas a ideia aqui não é propor a doutora Kendall como a única investigadora dos quadrinhos, mas buscar as razões de por que ela é uma personagem tão cativante.
Júlia é uma racionalista, uma espécie de Sherlock Holmes com cara de Audrey Hepburn. Mas enquanto tudo que interessava ao personagem de Arthur Conan Doyle era a resolução de crimes, no gibi quase sempre as colaborações policiais surgem em meio a problemas como o carro quebrado.
A personagem é escrita de modo realista por um dos grandes roteiristas italianos, Giancarlo Berardi. E não são somente as tramas que envolvem, mas a distribuição das ações das histórias nas páginas e nos quadros da revista.
O leitor também vê Júlia em clara tensão sexual com o Tenente Webb, com diversas dúvidas quanto a sua vida particular. Pequenos toques de humanidade para uma personagem que o fã habitual se acostuma a conhecer um pouco mais a cada mês.
Nesta edição, a narrativa paralela é usada para manter o suspense em duas pontas da trama. A partir daqui, há comentários sobre a resolução do mistério. Portanto, não prossiga se ainda não leu o gibi, pois, nesse tipo de história, saber o final é decisivo.
Além de toda a dimensão humana da própria personagem, este número traz mais um elemento muito importante para humanizar: o erro. O caso parece resolvido, mas, no último quadro, da última página, o leitor descobre que a polícia e a criminóloga se deixaram levar pela pista errada.
Não é só pela resolução do crime que J. Kendall cativa o leitor. É essencialmente por sua fantástica protagonista, que consegue oferecer muito a quem acompanha suas aventuras mensalmente.
Vale uma observação quanto ao trabalho da Mythos: têm surgido com regularidade problemas na impressão, que parecem estar em baixa definição. Que o leitor observe, por exemplo, as páginas 28, 42, 108 e 121. É uma pena, porque é algo que atrapalha a fruição da leitura.
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